A distância entre o Museu de Anne Frank e o Johan Cruyff Arena, em Amsterdã, é de menos de 10 km. Mas, naquele início de noite, a tensão tomou conta de toda a cidade. Das ruas estreitas, dos canais, das casas altas com fachadas ornamentadas.
Além do susto com a violência dos grupos pró-radicais palestinos, a mais charmosa cidade holandesa reviveu momentos que, por anos, tentou apagar da memória.
A violência antissemita destas pessoas, que atacaram torcedores israelenses do Maccabi Tel-Aviv, antes e depois do jogo contra o Ajax, nos arredores do estádio e no centro, remeteu àquela época macabra no país.
Bem na cidade que foi palco do drama de Anne Frank, sua irmã Margot e seus pais, Otto e Edith. Eles se esconderam no sótão de um edifício, conhecido como “Anexo Secreto”, por mais de dois anos, de julho de 1942 até agosto de 1944, junto com outra família judaica (os Van Pels) e mais tarde com um dentista, Fritz Pfeffer.
Eles foram denunciados em 4 de agosto de 1944, provavelmente por uma traição interna, e presos pela Gestapo. Anne e sua irmã Margot foram deportadas para o campo de concentração de Auschwitz e, posteriormente, para Bergen-Belsen, onde morreram em março de 1945.
Anne e seu grupo viveram em um momento no qual a Holanda, tomada pelos nazistas, era um dos países que mais deportavam judeus para campos de concentração.
Anne tinha 13 anos. Neste período de isolamento, ela escreveu um diário sobre suas vivências que, anos depois, se tornou um dos lívros mais famosos do século 20, graças ao esforço do seu pai, Otto, em divulgar o relato comovente da filha.
O percentual de 85% de judeus holandeses deportados naqueles anos é um dos números mais altos em relação à Europa Ocidental.
Perde apenas para países como a Polônia e Lituânia, cujas taxas chegaram a 95% ou mais da população judaica local sendo eliminada durante o Holocausto.
A alta taxa na , no entanto, foi um reflexo da eficiente colaboração entre as autoridades nazistas e os locais, especialmente em relação às deportações.
O discurso contra o antissemitismo
, depois dos ataques aos torcedores, alertou para os perigos da intolerância retornar ao país e ao continente.
“Nossa história nos ensinou como a intimidação vai de mal a pior.”. Segundo ele, o país não poderia ignorar “comportamentos antissemitas”. Ele atribuiu à sociedade em prevenir a escalada de ódio e discriminação.
Já nos anos 2000, qualquer turista que andasse pelas ruas, desviando-se das velozes bicicletas e contemplando os museus e os cafés, se sentiria em uma cidade de alma leve, revigorada, alegre.
A busca de superar a culpa pelo colaboracionismo parecia coisa do passado, Mas não. A brutalidade dos radicais pró-Hamas espalhados pela Europa é uma prova de que este cuidado tem de ser constante. O rei, pelo menos, parece estar ciente disso.
“Os judeus devem se sentir seguros na Holanda, em qualquer lugar e a todo momento”, declarou o rei Willem-Alexander. “Nós os abraçamos e não os deixaremos ir.”
Fonte: revistaoeste