Sophia @princesinhamt
Mundo

Acordo entre UE e Mercosul: o que muda na prática?

2024 word3
Grupo do Whatsapp Cuiabá

O acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul promete criar um mercado comum entre os dois blocos. Depois de 25 anos de negociação, — ou seja, ainda não se sabe quando os termos do tratado entrarão em vigor. 

Caso o acordo avance de fato, surgirá uma das maiores zonas de livre comércio do mundo. No entanto, os termos da parceria serão implantados aos poucos. As chances de frutos positivos para o Brasil são altas, dizem dois especialistas consultados por . 

YouTube video

De acordo com o coronel Fernando Montenegro, presidente da Associação Brasileira de Estudos de Inteligência e Contrainteligência (Abeic), a aliança entre entre UE e Mercosul amplia o leque de opções de exportação do país. Dessa forma, o acordo ajudaria a reduzir a dependência da venda de commodities para a China. 

A parceria melhora principalmente a ida de produtos agrícolas brasileiros para a Europa e de produtos industriais para cá, diz Giorgio Romano Schutte. Professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC e membro do Observatório da Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (Opeb), ele define essa rota comercial como a base do acordo.

União Europeia Mercosul acordo
Acordo Também Tem Um Caráter Estratégico, Em Termos Políticos | Foto: Reprodução/Pixabay

No caso das exportações industriais, a principal beneficiada seria a Alemanha, provavelmente. De acordo com Schutte, o país do chanceler Olaf Scholz busca exportar cada vez mais sua indústria química, automobilística, maquinária e de farmacêuticos. O país “quer exportar, quer concorrer com os chineses em todo o mundo, está perdendo espaço.”

Além da facilitação de exportações, o acordo permitiria a participação das empresas europeias em licitações públicas no Brasil e vice-versa. Porém, diz o professor, “já tem muitos investimentos europeus no Mercosul. “A União Europeia é a principal investidora aqui, então isso não deve mudar tanto.”

Para o consumidor brasileiro, entretanto, não deve haver nenhuma novidade visível. Por mais que possa haver facilitação do comércio de queijos, vinhos e outros produtos mais específicos, “os vinhos europeus não vão chegar mais baratos”, afirma Schutte. 

Cada país integrante de ambos os blocos econômicos precisa assinar o acordo para que ele passe a valer. O presidente da França, Emmanuel Macron, já deixou claro sua oposição. Nesta quinta-feira, 5, .

O país tem o poder de bloquear o tratado. Para o coronel Fernando Montenegro, a disputa entre França e Brasil é o principal ponto de tensão que envolve o acordo entre UE e Mercosul. Uma das maiores economias da UE e detentor de um parque industrial forte, o país quer “ganhar em todas as frentes ou deixar de perder, inclusive no agronegócio”, diz ele. 

Montenegro explica que há muitos subsídios do governo francês para viabilizar o agronegócio local, mas a entrada de produtos agrícolas do Mercosul — onde a produtividade é alta e detentora de alta tecnologia — o país de Macron não conseguiria competir em preço. Assim, “para não ocorrer uma quebradeira em massa de agricultores e pecuaristas, os franceses estão impondo embargos sob o pretexto de barreiras ambientais e fazendo uma campanha de maledicência sobre produtos brasileiros”. 

Macron também afirma que a facilitação para o agronegócio brasileiro prejudicaria o meio ambiente. “Mas isso não é o argumento principal”, diz Schutte. “O argumento principal são os interesses do setor agrícola da França, que tem um peso político importante, tradicionalmente, no país.”

2024 word3
Emmanuel Macron, Presidente Francês, No Palácio Do Eliseu, Em Paris — 3/10/2024| Foto: Reuters/Sarah Meyssonnier

Também sobre a questão ambiental, o Montenegro completa: “É uma hipocrisia os europeus usarem a proteção do meio ambiente como pretexto”. De acordo com ele, eles “já destruíram quase toda cobertura vegetal nativa e extinguiram várias espécies de plantas e animais no continente”.

O novo governo nos Estados Unidos tem potencial para incrementar os fatores de decisão dos países da União Europeia e do Mercosul, acrescentaram os dois especialistas ouvidos por . 

“Trump alega que vai taxar tudo que vier de fora e proteger a indústria e agro dos EUA”, lembra Montenegro. Caso o republicano cumpra com o prometido, a tendência de aproximação entre o Mercosul e UE pode aumentar, “desde que não se insista em sabotar o agro brasileiro com embargos ao agronegócio, travestidos de impasses ambientais”, reforça o coronel.

O protecionismo que Trump tem anunciado “prejudica tanto a União Europeia como o Mercosul”, explica Schutte. Logo, a postura do novo presidente norte-americano seria estímulo para os europeus buscarem outros parceiros.

Fonte: revistaoeste

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.