O acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul promete criar um mercado comum entre os dois blocos. Depois de 25 anos de negociação, — ou seja, ainda não se sabe quando os termos do tratado entrarão em vigor.
Caso o acordo avance de fato, surgirá uma das maiores zonas de livre comércio do mundo. No entanto, os termos da parceria serão implantados aos poucos. As chances de frutos positivos para o Brasil são altas, dizem dois especialistas consultados por .
De acordo com o coronel Fernando Montenegro, presidente da Associação Brasileira de Estudos de Inteligência e Contrainteligência (Abeic), a aliança entre entre UE e Mercosul amplia o leque de opções de exportação do país. Dessa forma, o acordo ajudaria a reduzir a dependência da venda de commodities para a China.
A parceria melhora principalmente a ida de produtos agrícolas brasileiros para a Europa e de produtos industriais para cá, diz Giorgio Romano Schutte. Professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC e membro do Observatório da Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (Opeb), ele define essa rota comercial como a base do acordo.
No caso das exportações industriais, a principal beneficiada seria a Alemanha, provavelmente. De acordo com Schutte, o país do chanceler Olaf Scholz busca exportar cada vez mais sua indústria química, automobilística, maquinária e de farmacêuticos. O país “quer exportar, quer concorrer com os chineses em todo o mundo, está perdendo espaço.”
Além da facilitação de exportações, o acordo permitiria a participação das empresas europeias em licitações públicas no Brasil e vice-versa. Porém, diz o professor, “já tem muitos investimentos europeus no Mercosul. “A União Europeia é a principal investidora aqui, então isso não deve mudar tanto.”
Discurso del Presidente Javier Milei en la 65° Cumbre de Líderes del Mercosur, en Montevideo. pic.twitter.com/v2JrAOFE5m
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Para o consumidor brasileiro, entretanto, não deve haver nenhuma novidade visível. Por mais que possa haver facilitação do comércio de queijos, vinhos e outros produtos mais específicos, “os vinhos europeus não vão chegar mais baratos”, afirma Schutte.
Cada país integrante de ambos os blocos econômicos precisa assinar o acordo para que ele passe a valer. O presidente da França, Emmanuel Macron, já deixou claro sua oposição. Nesta quinta-feira, 5, .
O país tem o poder de bloquear o tratado. Para o coronel Fernando Montenegro, a disputa entre França e Brasil é o principal ponto de tensão que envolve o acordo entre UE e Mercosul. Uma das maiores economias da UE e detentor de um parque industrial forte, o país quer “ganhar em todas as frentes ou deixar de perder, inclusive no agronegócio”, diz ele.
Montenegro explica que há muitos subsídios do governo francês para viabilizar o agronegócio local, mas a entrada de produtos agrícolas do Mercosul — onde a produtividade é alta e detentora de alta tecnologia — o país de Macron não conseguiria competir em preço. Assim, “para não ocorrer uma quebradeira em massa de agricultores e pecuaristas, os franceses estão impondo embargos sob o pretexto de barreiras ambientais e fazendo uma campanha de maledicência sobre produtos brasileiros”.
Macron também afirma que a facilitação para o agronegócio brasileiro prejudicaria o meio ambiente. “Mas isso não é o argumento principal”, diz Schutte. “O argumento principal são os interesses do setor agrícola da França, que tem um peso político importante, tradicionalmente, no país.”
Também sobre a questão ambiental, o Montenegro completa: “É uma hipocrisia os europeus usarem a proteção do meio ambiente como pretexto”. De acordo com ele, eles “já destruíram quase toda cobertura vegetal nativa e extinguiram várias espécies de plantas e animais no continente”.
O novo governo nos Estados Unidos tem potencial para incrementar os fatores de decisão dos países da União Europeia e do Mercosul, acrescentaram os dois especialistas ouvidos por .
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ter orgulho de o Brasil ser o primeiro país a fechar acordo de livre comércio com a Autoridade Nacional Palestina. O chefe do Executivo discursou durante a cúpula do Mercado Comum do Sul (Mercosul), em Assunção, capital do Paraguai,… pic.twitter.com/BQkCQ5prvr
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“Trump alega que vai taxar tudo que vier de fora e proteger a indústria e agro dos EUA”, lembra Montenegro. Caso o republicano cumpra com o prometido, a tendência de aproximação entre o Mercosul e UE pode aumentar, “desde que não se insista em sabotar o agro brasileiro com embargos ao agronegócio, travestidos de impasses ambientais”, reforça o coronel.
O protecionismo que Trump tem anunciado “prejudica tanto a União Europeia como o Mercosul”, explica Schutte. Logo, a postura do novo presidente norte-americano seria estímulo para os europeus buscarem outros parceiros.
Fonte: revistaoeste