Um dia antes da Rússia desistir do acordo de grãos, firmado com Ucrânia em julho do ano passado, por obstáculos às suas exportações, o pacto foi prorrogado por mais dois meses nesta quarta-feira, 17, em um passo considerado como “boas notícias para o mundo” pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou a extensão do acordo em um discurso televisionado. Posteriormente, a Rússia, Ucrânia e ONU confirmaram a prorrogação. O pacto expirava nesta quinta-feira, 18, e o fluxo de navios pelo corredor já havia parado nos últimos dias.
A Ucrânia também saudou a prorrogação e o vice-primeiro-ministro ucraniano celebrou a extensão do pacto, porém enfatizou que ela deve funcionar de forma eficaz . Um funcionário do alto escalão ucraniano, no entanto, afirmou à agência de notícias Reuters que a Rússia não pode sabotar o acordo e deve parar de usar alimentos “como arma e chantagem”.
Nos 120 dias iniciais do acordo, tanto a ONU quanto a Turquia foram responsáveis por intermediar a negociação para ajudar a enfrentar a crise alimentar global agravada pela guerra na Ucrânia, um dos principais exportadores de grãos do mundo. Inicialmente, Moscou parecia não querer estender o pacto a menos que uma lista de demandas em relação às suas próprias exportações agrícolas fossem atendidas.
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“Esta é uma chance de ajudar a garantir a segurança alimentar global, não em palavras, mas em ações. Em primeiro lugar, para ajudar os países mais necessitados”, disse o Ministério das Relações Exteriores da Rússia. “Nossa avaliação de princípios dos acordos de Istambul de 22 de julho de 2022 não mudou e as distorções em sua implementação devem ser corrigidas o mais rápido possível”.
Embora as exportações russas de alimentos e fertilizantes não estejam sujeitas a sanções impostas pelo Ocidente, Moscou afirmou que as restrições a pagamentos, logística e seguro representam uma barreira aos embarques.
Segundo o embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, o acordo foi estendido porque a Rússia ainda não perdeu a esperança de que os problemas levantados sejam “resolvidos”. Apesar das questões pendentes permanecerem, Guterres afirmou que os representantes da Rússia, Ucrânia, Turquia e da ONU ainda vão continuar a discuti-las.
“Olhando para o futuro, esperamos que as exportações de alimentos e fertilizantes, incluindo amônia, da Federação Russa e da Ucrânia possam alcançar as cadeias de suprimentos globais com segurança e previsibilidade”, disse Guterres.
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No entanto, os Estados Unidos rejeitaram as queixas da Rússia e a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, comentou na semana passada que a exportação de grão e fertilizantes continuam “nos mesmos níveis, se não mais, do que antes da invasão em grande escala”.
A prorrogação ajudou a reduzir os preços dos grãos e os contratos futuros de trigo e milho em Chicago caíram em cerca de 4%. Mais cedo na quarta-feira, o último navio remanescente registrado para viajar pelo corredor havia deixado um porto ucranianos. Desde 4 de maio, nenhuma nova embarcação tinha sido autorizada de acordo com o Centro de Coordenação Conjunta (JCC), que inspecionam e implementam o acordo de exportação do Mar Negro.
Cerca de 30,3 milhões de toneladas de grãos e alimentos foram exportados da Ucrânia sob o acordo do Mar Negro, incluindo 625 mil toneladas em embarcações do Programa Mundial de Alimentos para operações de ajuda no Afeganistão, Etiópia, Quênia, Somália e Iêmen.
Fonte: Veja