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A história da bisavó ucraniana de 75 anos estuprada por militar russo

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Tanto em russo quanto em ucraniano, a palavra babushka identifica a venerada avó, sempre de lenço estampado na cabeça e insistindo para o neto comer mais.

É por isso que a história de Liudmila, não só avó como bisavó, provoca mais repúdio ainda. A mulher de 75 é moradora de Miroliubivka, perto de Kherson, a cidade que as forças ucranianas estão tentando retomar, no que seria uma vitória impressionante sobre os invasores russos.

O que passou pela cabeça de Liudimila enquanto era estuprada, numa sessão de suplício que durou várias horas?

“Eu me despedi dos meus filhos, meus netos e meus bisnetos”, contou ela a uma rádio ucraniana. “Não achei que ia sair viva”.

O agressor era um homem mais velho, não os jovens soldados cheios de medo e de fúria, liberados por seus comandantes para espalhar o terror.

Ele bateu na porta da casa de Liudmila e lhe deu um soco no rosto assim que ela abriu. A mulher perdeu dois dentes e sofreu uma fratura no nariz. “Fiquei coberta de sangue”, conta.

“Daí ele começou a me bater no peito com a coronha do fuzil; me jogou no sofá e começou a me estrangular”.

“Tirou minha roupa e me estuprou”.

Depois “cortou minha barriga”, diz ela, mostrando cortes que ainda não cicatrizaram completamente.

O caso de Liudimila não é único. Uma comissão de investigação da ONU apurou na região de Chernihiv o estupro de uma mulher de 82 anos, atacada dentro de casa, como Liudmila, e na frente do marido deficiente.

A mesma comissão levantou outro caso que é muito difícil de reproduzir – só o dever de mostrar a extensão da barbárie justifica que isso seja feito. Ele envolve uma jovem ucraniana de 22 anos, submetida a vários estupros por dois soldados russos, também dentro de casa. O marido foi obrigado a ver tudo e ele próprio depois sofreu um tipo de violentação sexual. Horror final: um dos soldados forçou a filhinha de quatro anos do casal a fazer sexo oral.

Dá vontade de desistir da raça humana diante de monstruosidades assim.

Segundo a comissão de inquérito, houve casos de distribuição de Viagra entre soldados russos, o que indica não a ação isolada de invasores que acham que podem tudo diante de civis sem possibilidade de reação, mas uma intenção planejada de usar o estupro como arma para desmoralizar e dominar as vítimas.

Tragicamente, existem referências históricas sobre a prática, em especial durante a II Guerra Mundial. Em áreas da Alemanha derrotada, os estupros atingiram simplesmente todas as mulheres que não haviam conseguido fugir.

“Os soldados russos estão estuprando todas as alemãs dos oito aos 80 anos”. Quem escreveu isso foi uma correspondente de guerra que acompanhava as forças triunfantes, Natalia Gesse. Os estupros eram coletivos e repetidos. O historiador Anthony Beever calculou, com base em documentos, que havia mulheres estupradas de sessenta a setenta vezes.

“A bebida de todo tipo, incluindo produtos químicos perigosos saqueados de laboratórios, era um componente importante da violência. Parece que os soldados soviéticos precisavam da coragem provida pelo álcool para atacar uma mulher. Mas daí, frequentemente bebiam demais e, incapazes de completar o ato, usavam a garrafa com resultados lamentáveis. Houve vítimas mutiladas de forma obscena”, descreveu Beever.

As atrocidades nazistas obscureceram o suplício das alemãs e por muito tempo sequer se falou nisso. A geração de filhos do estupro já está em idade avançada. Muitos morreram sem saber de sua origem – as mães os registravam como filhos dos maridos sugados pela guerra.

Num cenário de caos como o da Alemanha vencida, até hoje não há números fechados, mas o cálculo é que entre um milhão e dois milhões de mulheres tenham sido estupradas. Um dos marcos mais terríveis dessa violência é um rio na localidade de Demmin, onde mulheres cometeram suicídio em massa, às vezes levando pedras nos bolsos (como Viriginia Wolf) e os filhos pequenos pela mão, depois de terem sido submetidas aos estupros constantes.

O espírito de vingança contra a Alemanha movia muitos violadores, mas mulheres de países “liberados”, como a Polônia, também foram vítimas do Exército Vermelho. Calcula-se em cem mil o número de vítimas de estupros no país. Até soviéticas que eram libertadas dos campos de trabalhos forçados sofreram estupros.

Alguns dos responsáveis por tantas atrocidades acabaram punidos, mas não por seus crimes contra mulheres desarmadas. Todos os soviéticos que entraram em contato com estrangeiros foram “filtrados” quando voltaram à pátria, inclusive os prisioneiros de guerra. Muitos foram mandados aos gulags, numa das mais alucinantes ações de Stalin.

Não é possível divisar qualquer circunstância em que os criminosos de guerra na Ucrânia venham a sofrer qualquer tipo de punição, pois mesmo que a Rússia recue em algumas exigências territoriais, jamais será vencida como um todo.

Ao contrário, Vladimir Putin condecorou os ocupantes de Bucha, a cidade que virou sinônimo de barbárie durante o período em que os russos estiveram nela.

As babushkas e outras vítimas nunca terão justiça.

Fonte: Veja

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