Não é difícil notar que para Daniel Santos, 28 anos, a tatuagem é uma paixão genuína. Desde a adolescência, o campo-grandense aprendeu a admirar os traços feitos na agulha, desde o dragão de uma professora até os desenhos em corpos desconhecidos na praia.
Ao longo do tempo, o que era apenas um desejo virou profissão, até chegar em arte que mescla diferentes estilos e traz inspiração na fauna pantaneira.
“Em outubro deste ano fazem 10 anos desde que comecei a tatuar”, relembra Dan. A data é celebrada a partir do primeiro dia que ele entrou em um estúdio de tatuagem para aprender. “Eu sou formado em jornalismo, mas o mais perto que cheguei da área foram os estágios obrigatórios, porque na época eu já era aprendiz de tattoo em um estúdio de dia e fazia a faculdade de noite, só porque meu pai queria ver todos os filhos formados”, conta.
Dan Santos, tatuador
O amor pela tatuagem começou ali na juventude.
“Já me chamava atenção ver as pessoas que tinham tattoo, fossem os professores ou pessoas na praia quando viajava. Lembro que tinha uma professora de inglês que tinha um dragão na lateral do corpo que achava um absurdo, coisa de filme – ainda mais pra época que seria 2006/2008 -, era muito dificil ver alguém com tatuagens tão grandes”, relembra.
Na internet, ele começou a encontrar referências estéticas e a aperfeiçoar o desejo pela arte.
“Tinha uma beleza ali que parecia um mundo mágico e daí eu já sabia com uns 15/16 anos que era o que queria fazer pelo resto da vida”, ri.
Estilos
Com desenhos cheios de vida e personalidade, Dan explica que prioriza uma mistura de estilos.
“Eu trago para as minhas tatuagens uma combinação de tradicional moderno e tatuagem japonesa/oriental, por acreditar que é uma combinação atemporal que vai fazer sua tatuagem durar pro resto da sua vida, é também uma combinação que tem muita delicadeza e força”, ressalta.
No tradicional moderno há uma preocupação com a riqueza em luz e sombra, assim como detalhes refinados, com mais movimento e espessuras de traço.
“Já a tatuagem japonesa utiliza uma linguagem da tattoo como uma vestimenta, fechamentos de braço, costas ou corpo inteiro, são comuns (apesar de você poder fazer uma peça única também) é baseada no ukiyo-e que são xilogravuras do período Edo, que retratavam o cotidiano, folclore e contos japoneses, e é rica em significados por trás de seus elementos que compõem a tattoo da pessoa e sua história”, frisa.
Dan exemplifica que as folhas de momiji, comuns no outono, podem representar mudanças, enquanto as “karashishis são leões-cães que simbolizam proteção para quem os tem, sempre estão em pares já que um simboliza o começo de tudo e o outro o fim, também aparecem com flores de peônia que são tidas como a rainha das flores, as mais delicadas trazendo assim esse equilíbrio de força e delicadeza, é uma dualidade muito interessante”.
Essas referências internacionais ganharam uma pitada bem sul-mato-grossense na mão do tatuador, que conseguiu combinar personagens femininas com animais presentes na fauna pantaneira, como a onça-pintada e a capivara – essa última virou até ecobag.
“Os desenhos são todos feitos do zero (sem desenhar por cima de fotos ou outras tatuagens), penso neles sempre a partir de temas que me encantam na tattoo, ou de alguma ilustração que cruzei e gostei muito, tenho gostado muito de ver ilustrações para pegar referências de poses, ou fotos antigas, ou no caso de animais fotografias profissionais, sempre trazendo pra linguagem e traços da tatuagem”, frisa.
A mocinha de cabelos negros que aparece com frequência nos desenhos surgiu sem muita pretensão.
“Ela não é uma personagem recorrente, mas um tema recorrente em tattoos, pin ups (as mocinhas de corpo inteiro) ou girl heads (quando é só a cabeça) são bem clássicas no mundo da tatuagem e eu gosto muito de tatuar rostinhos femininos e animais. As mulheres porque gosto da delicadeza do rosto, do charme que dá pra conseguir no movimento do cabelo, a expressão dos olhos que traz vida para tatuagem, já os animais eu gosto muito também porque são tão expressivos quanto, da pra trazer muita criatividade nos seus movimentos e no jeito de pintá-los”, acredita.
Dependendo do animal, a expressão da mocinha muda.
“Nesse caso eu gostei muito dessa mocinha com gorila que fiz e decidi fazer mais algumas em outras posições e com outros animais, daí veio a ideia de começar por animais mais regionais como a capivara e onça, tanto que a capivara por ser um animal mais fofinho, está sendo abraçada pela mulher e as duas tem olhar de tranquilidade, já a onça e a mulher que está em cima dela, traz um olhar mais de brava e a mulher de mistério/sedução”, conta.
Com isso, até surgiu a oportunidade de criar ecobags.
“As ecobags eu nunca tinha feito, é a primeira vez, eu já fiz outros produtos da loja como camisetas e prints (cópias de alta qualidade, em papel de pintura e impressão fine art) de pinturas que fiz no papel, também já pintei sob encomenda tecidos grandes, tipo um banner, pintura em espelho, em parede, em jaquetas, sempre estou aberto a pedidos de customização”.
O trabalho de Dan pode ser conferido no perfil do Instagram.
Fonte: primeirapagina