Antes dos casais Kim e Kanye ou mesmo de Posh e Becks, houve Priscilla e Elvis Presley: um casal moderno para a época cujo relacionamento tumultuado ainda é lembrado por seu estilo distinto, tanto quanto por qualquer outra coisa.
Priscilla tinha apenas 14 anos quando foi apresentada a Elvis, de 24, durante uma festa na casa dele em Bad Nauheim, na Alemanha, onde o astro da música completava o serviço militar em 1959. Eles permaneceram como um casal por mais de uma década, e mais tarde formaram uma família, antes do divórcio em 1973.
Houve o casamento surpresa em Las Vegas em 1967, com Priscilla usando o vestido branco enfeitado com pérolas, completo com um véu de tule de um metro de comprimento, bem como o smoking estampado preto personalizado de Elvis.
Ou um dos raros retratos de família tirados em 1970, uma foto cuidadosamente posada, dominada pelos trajes imponentes do par (Elvis em um terno de tafetá azul, tom sobre tom, e gola alta exagerada; Priscilla vestindo uma camisa lilás franzida, de manga bufante e calças roxas combinando). Até a filha de 2 anos do casal, Lisa Marie, trocou de roupa, fotografada com um vestido de verão de bolinhas e também com um casaco de pele branco em miniatura durante as filmagens.
Para a figurinista Stacey Battat, esses momentos foram marcos históricos importantes no figurino do mais recente filme da diretora Sofia Coppola, “Priscilla” – uma cinebiografia colorida, que mapeia a vida privada do casal, estrelada por Jacob Elordi como Elvis e a estreante Cailee Spaeny no papel principal.
“Foi assim que começamos e depois preenchemos as lacunas”, disse Battat, de Los Angeles. “Olhamos revistas e outras referências para reunir o que seriam esses looks intermediários – as peças entre esses benchmarks, então tínhamos uma linha do tempo limpa, que não parecia abrupta”. A própria Priscilla, embora creditada como produtora executiva do filme, não interveio no departamento de figurino.
Battat, que já trabalhou com Coppola em “Bling Ring: A Gangue de Hollywood” (2013) e “O Estranho Que Nós Amamos” (2017), estava sujeita às rígidas restrições orçamentárias típicas do cinema independente, bem como a um cronograma apertado de filmagens de 30 dias. Isso significava que nenhum recurso era desperdiçado: ocasionalmente, peças eram compartilhadas entre os personagens e as conexões de Coppola na indústria da moda eram aproveitadas ao máximo.
A Chanel desenhou e produziu a recriação do vestido de noiva de Priscilla. Coppola é embaixadora da marca francesa desde 2019, e até estagiou lá quando era adolescente em 1986. Muitos dos looks de Elvis vieram diretamente da Valentino – especificamente, as icônicas peças de malha da estrela (réplicas do suéter de malha com gola funil que ele usou no filme “Prisioneiro do Rock’n’Roll”, de 1957, são vendidas até hoje).
“Foi o maior presente que o filme poderia ter recebido”, disse Battat sobre a colaboração. “Qualquer figurinista dirá que fazer tricô é uma tarefa difícil. Pedir a alguns tricoteiros manuais que façam 10 suéteres em um período de seis semanas não é possível.”
Em vez disso, Battat enviou fotos de referência e uma paleta de cores para a equipe de design da Valentino, que criou uma mini coleção para o filme. “Foi muito bom trabalhar com pessoas tão criativas, e também ter como produto final essas roupas lindas e incríveis… Juro, sempre que alguém estava estressado, eles acariciavam os suéteres.”
Roupas poderosas
Em “Priscilla”, os amplos guarda-roupas do casal e o interesse comum na criação de imagens estão em destaque. As roupas eram, para eles, intencionais e calculadas. Após o nascimento de Lisa Marie, em 1968, Priscilla cumprimentou os paparazzi como a realeza, vestida com um vestido de gola de lã rosa choque e um rosto cheio de maquiagem, por exemplo, sem um fio de cabelo fora do lugar de sua colmeia preta.
Enquanto isso, os macacões de strass que Elvis usou no início da década de 1970 foram um movimento estratégico para capturar um novo público, restabelecer sua capacidade como artista e distanciar-se dos ternos rígidos da década anterior. “Ele estava tentando mudar sua imagem”, disse Battat. “As roupas eram como uma armadura e identidade”.
Mas vestir-se bem nem sempre é tão fácil quanto parece. Pelas lentes de Coppola, vemos um Elvis um pouco envergonhado durante uma prova de macacão, confidenciando a Priscilla que “se sente bobo”. Mas sua esposa – recém-lançada aos olhos do público e profundamente consciente da insegurança que as roupas podem evocar – garante que ele está ótimo.
As roupas também são uma das primeiras maneiras pelas quais vemos as rachaduras no relacionamento de Priscilla e Elvis. Com seu filme baseado na autobiografia de Priscilla, de 1985, “Elvis e Eu”, Coppola mostra quanta influência o ícone pop exerceu sobre sua jovem esposa – e sua imagem.
Depois de se mudar para Graceland, Priscilla, ainda uma estudante, passou por uma transformação. No camarim de uma loja de departamentos, Elvis e sua comitiva se sentaram e a observaram enquanto ela percorria vestidos e conjuntos combinando. Ela admirava um vestido em tom chocolate, mas era imediatamente contestada. “Eu odeio marrom”, brincou o rei. “Isso me lembra o exército.”
Orientações sutis (“Você é uma menina pequena, fique longe das estampas, baby”), sugestões e algumas exigências diretas (“Cabelo preto e mais maquiagem nos olhos”) rapidamente removeram qualquer autonomia que Priscilla tinha sobre sua aparência.
Os figurinos para Coppola – que construiu uma carreira capturando a agonia e o êxtase de mulheres jovens navegando pela sexualidade e pelo poder em meio às dores do primeiro amor – são ferramentas que podem comunicar paisagens emocionais complicadas.
Em sua estreia na direção, em 1999, com o filme “As Virgens Suicidas”, a personagem Lux Lisbon desfigura sua calcinha com o nome de sua paixão, escondendo a evidência sob a camisola sufocante e assexuada exigida por sua mãe puritana. Uma das cenas mais emocionantes de “Maria Antonieta”, de 2006, é quando a futura rainha, de 14 anos, é levada pela fronteira austríaca para a França e forçada, no meio da floresta, a tirar as roupas de seu país e adotar a moda de Versalhes.
Em “Priscilla”, Elordi e Spaeny trabalharam com Battat para dar corpo aos fatores psicológicos que impulsionam a estética de cada personagem. “Eles foram muito colaborativos”, disse ela sobre os atores.
“Cailee me perguntou: ‘Quando Priscilla se sente insegura em relação a Ann-Margret, você acha que isso muda a maneira como ela se veste?’” (Uma estrela do cinema da Era de Ouro, Ann-Margret apareceu com Elvis no filme “Viva Las Vegas”, de 1964. Havia rumores de que a dupla teve um caso). “E eu pensei: ‘na verdade, provavelmente, sim, porque ela está tão interessada em agradá-lo. Talvez ela quisesse se inspirar em Ann-Margret”.
Battat, então, encontrou um vestido rosa semelhante ao usado em uma foto de arquivo. Aparece no filme durante uma cena em que Priscilla está se torturando com as últimas fofocas sobre o marido. Na capa de um tabloide, há uma foto de Ann-Margret e Elvis em um abraço apertado. Priscila está de vestido rosa e sentada de pernas cruzadas no sofá, debruçada sobre a revista, vestida como uma imitação da outra mulher.
“Ninguém saberá se esse é o vestido rosa de Ann-Margret”, disse Battat. “Mas é, para nós”.
Fonte: cnnbrasil