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Benilda: Valorizando a ancestralidade através da moda e da arte Kadiwéu

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Com apenas 12 anos de idade, Benilda Vergílio precisou sair da Aldeia Alves de Barros, no distante município de , cerca de 432 km de Campo Grande, para estudar.

O percurso, nunca esquecido, é o que motiva a mulher da etnia kadiwéu a promover oficinas e capacitações em comunidades indígenas, para que outras crianças e jovens tenham a chance de prosperar.

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Benilda Usa Grafismos Kadiwéus Em Roupas E Acessórios (Foto: Arquivo Pessoal)

“Com 12 anos, eu fui para Bodoquena [270 km Campo Grande], estudar. Fiquei um tempo na cidade, até ir para o colégio interno Lourenço Buckman, em Aquidauana, com 14 anos”, relembra Bení.

Longe fisicamente das referências ancestrais, ela encontrou na arte uma forma de se manter conectada com o seu povo.

“Na adolescência, eu percebi que tinha essa proximidade com a arte. Eu fui morar na cidade, na época desenhava caricaturas, depois eu acabei perdendo isso, fui parar em outro lugar, um colégio interno que não tinha nada a ver com minha cultura. Até que conheci uma professora alemã nessa escola, ela viu que eu tinha um potencial. Um certo dia, ela levou um monte de para mim e me deu de presente um pincel, algumas tintas, tinta a óleo e me disse ‘agora você vai fazer a sua arte’”.

O que sempre esteve em Bení, encontrou uma forma de se manifestar.

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Benilda com os traços do seu povo no (Foto: Paula Maciulevicius/FCMS)

“O indígena, o que o identifica muito, são os costumes, a língua materna, a arte e as festividades culturais, enfim, o modo de viver. Então desde criança você aprende os modos de fazer, a educação cultural ocorre desde muito cedo, então ainda criança você aprende, por exemplo, como produzir uma cerâmica, como fazer um desenho, como dar continuidade nessa riqueza”, frisa.

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Colares De Benilda (Foto: Divulgação)

Com essa vivência cultural intrínseca na bagagem, Bení logo começou a criar as primeiras peças. “Surgiram máscaras, desenhos em cabaça, ficaram umas máscaras bem diferentes”, pontua.

O contato com a cultura não-indígena também a transformou. “Na adolescência, eu comecei a ler as revistas Caprichos e a ter contato com o que era mostrado ali”. O interesse pela produção de vestuário e outras peças de moda, a aproximaram do designer, sua formação universitária e profissional.

“Essa trajetória também tem origem na minha cultura. Minha vó mexia com vestuários, com essas faixas pantaneiras, como as conhecemos hoje, ela produzia bastante no tear, daquela forma tradicional. Então, eu me lembro muito dessa forma de fazer tanto a linha do algodão quanto a faixa completa, tudo cortado e costurado na mão”.

Moda que transforma

O design e a moda continuaram acompanhando toda a trajetória da artista, hoje com 35 anos. Professora, empreendedora e mestranda em Antropologia Social pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), ela pesquisa a relação da moda com os grafismos indígenas kadiwéu.

Grafismos que ela carrega no rosto – em uma mistura de cal e janipapo, na alma, e transparece em roupas, ecobags e acessórios.

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Giovana Paiva, Artista Da Aldeia Campina Teve Arte Exposta No Parque Lage, No Rio De Janeiro (Foto: Divulgação)

As oficinas ela realiza a partir do trabalho que desenvolve na Subsecretaria de Políticas úblicas para os Povos Originários, ligada à Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania), e também em outras iniciativas ligadas ao empreendedorismo.

Recentemente, uma colaboração de Bení com uma marca de roupas, prevê que parte do dinheiro das vendas será convertido para um projeto do Coletivo Exonaga, que promove oficinas com mulheres kadiwéu na Aldeia Campina, também em Porto Murtinho. Lá são ministradas aulas de empreendedorismo e valorização da ancestralidade por meio de peças de roupa, tapeçarias, entre outras manifestações artísticas e culturais.

“Metade do valor das vendas das peças vai para aquisição de materiais para a produção dessas mulheres. Além disso, vou ensinar colocar os valores certos em cada peça, ensinar essa questão financeira de quanto foi meu gasto e quanto eu devo cobrar. Também temos um grupo de dança tradicional, são cerca de 20 meninas, e elas precisam de vestuário e outros materiais”, frisa. Benilda ainda quer fomentar o turismo étnico-territorial e étnico comunitário na aldeia.

Fonte: primeirapagina

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