O documentário “Jardim de Pedra – Vida e Morte de Glauce Rocha” não é apenas um resgate biográfico, mas um poderoso manifesto contra o esquecimento. Com direção sensível de Daphyne Schiffer e Rodrigo Rezende, a obra mergulha na vida e no legado de Glauce Rocha, uma das maiores atrizes brasileiras, nascida em Campo Grande, que faleceu em 1971, cuja contribuição ao teatro e ao cinema transcendeu as telas e palcos, tornando-a um ícone da cultura nacional.
A pesquisa cuidadosa, baseada em arquivos históricos, depoimentos e cenas marcantes de sua carreira, é um dos pontos fortes do filme. A narrativa vai além da biografia, expondo uma questão inquietante: por que esquecemos figuras tão importantes para a nossa cultura? Essa provocação ecoa ao longo do documentário, especialmente ao revelar episódios como a destruição de um jardim em homenagem à atriz no Retiro dos Artistas, no Rio de Janeiro. O simbolismo desse “apagamento” físico e metafórico é um dos momentos mais impactantes da obra, levando o espectador a refletir sobre o descaso cultural no brasil.
A força do documentário está na forma como ele conecta a trajetória de Glauce Rocha à memória coletiva do país. O trabalho dos diretores não apenas celebra a artista, mas também denuncia o apagamento de sua história. O contraste entre o brilho de sua carreira e a negligência com seu legado traz uma discussão urgente sobre como figuras essenciais para a cultura brasileira são tratadas, especialmente no contexto regional, como Mato Grosso do Sul, que ainda luta para projetar seus nomes nacionais.
Os depoimentos gravados em Campo Grande, São Paulo e Rio de Janeiro agregam profundidade emocional e histórica à narrativa. Eles revelam não apenas a grandiosidade de Glauce Rocha como artista, mas também como ser humano, reafirmando seu impacto cultural e a necessidade de preservarmos sua memória.
Para mim, como artista e jornalista, o documentário traz o questionamento direto: o que precisa ser feito para que não continuemos concretando nossa própria história? Essa pergunta reverbera enquanto a obra ilumina a relevância de Glauce Rocha para a arte nacional, apontando caminhos para garantir que nomes como o dela não sejam esquecidos.
“Jardim de Pedra – Vida e Morte de Glauce Rocha” é, acima de tudo, um alerta e um tributo. Um alerta sobre a fragilidade da memória cultural em um país em constante transformação, e um tributo à força e ao brilho de uma artista que merece ser reconhecida não apenas como o nome de um teatro em Campo Grande, mas como um ícone eterno da cultura brasileira. É uma obra necessária, que combina emoção, reflexão e indignação, reafirmando o papel do cinema documental como guardião da memória.
Sendo assim, o documentário é indispensável para quem acredita que preservar a memória cultural é preservar a própria identidade. É uma ode à Glauce Rocha, mas também uma convocação para o Brasil olhar para sua história com mais cuidado, respeito e admiração.
Serviço
O documentário “Jardim de Pedra – Vida e Morte de Glauce Rocha” estará disponível para o público a partir desta quinta-feira (21). Além do documentário, os visitantes terão acesso a uma exposição exclusiva sobre a vida de Glauce Rocha. A mostra é aberta ao público e permanece disponível até a segunda semana de janeiro.
O acervo inclui figurinos originais da atriz, peças usadas em novelas, filmes e teatro; recortes de jornais antigos das décadas de 60 e 70, incluindo matérias sobre sua carreira, biografias e o impacto de sua morte; fotos originais de diversos momentos da vida de Glauce; livros e um painel cronológico destacando as principais obras de Glauce.
- Exposição e filme disponível ao público: a partir de 21 de novembro de 2024
- local: Avenida Afonso Pena, 3901
- Horário: o espaço fica aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
Fonte: primeirapagina