Fazendo piadas sobre seus dramas, o casamento, e até um AVC (Acidente Vascular Cerebral), que teve no último ano, a comediante Yrla Braga de Barra do Garças, a 516 km de Cuiabá, conseguiu levar o humor mato-grossense para São Paulo.
Em 2023, ela fez shows de stand up no Minhoca e My Fucking Comedy Club, locais que são referência para apresentação de comediantes solos.
Mas, para chegar em São Paulo o caminho foi longo e ela precisou enfrentar muitos desafios. Inclusive, a vergonha de subir nos palcos sozinha e superar a perda da mãe, sua maior fã.
Yrla é formada em jornalismo pela UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e sempre fez teatro, mas não imaginava que iria subir nos palcos e fazer graça com os perrengues que já enfrentou.
Ela conta que a primeira apresentação aconteceu após um ‘empurrão’ de um amigo, que enxergou seu potencial e marcou sua primeira apresentação, sem convite prévio.
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“Há 2 anos um amigo meu, que também se formou em jornalismo e produz stand up, falou assim: ‘Você fala demais, podia ir ao palco falar um pouco lá’. Depois de um tempo, ele chegou e falou: “Marquei uma data para você fazer um show”. Falei: Você está maluco? Eu não tenho coragem. Aí ele só me mostrou o folder”.
Yrla é atriz, mas não subia em um palco desde 2015, quando sua mãe morreu. “Pra mim era um processo muito doloroso, minha mãe sempre foi aquela mãezona, a primeira da fila. Então, pra mim era uma coisa difícil ainda de encarar, apesar de ter vontade e nunca ter saído do meio cultural, de ajudar em produção, de estar envolvida”.
Com a apresentação marcada, ela diz que não tinha como desistir e o resultado foi incrível. “Foi uma experiência muito gostosa. Tinha muita gente que faz parte da minha vida, amigos de infância que fizeram surpresa, pois falaram que não iam, mas estavam na plateia”.
Após o show, Yrla tomou gosto e continuou fazendo apresentações em várias cidades de Mato Grosso. Inclusive, até no menor município: Araguainha, a 471 km de Cuiabá, que tem 1.010 habitantes e é a quarta menor cidade do Brasil.
Sonho de ir para SP
No ano passado, ela conversou com seu produtor sobre o desejo de fazer apresentações em São Paulo, algo que traçou como meta para realizar ainda em 2023. Mas, no meio do ano, no final de uma apresentação ela teve um AVC.
“Vi essa minha vontade meio que ir por água abaixo. O AVC comprometeu um pouco a fala, deu paralisia do lado esquerdo. Foi um AVC de proporção razoável e por um milímetro, por um fio de cabelo, não venho a óbito, não perco a fala e não fico com metade do corpo paralisado”.
A comediante chegou a ficar uma semana na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Mas, 15 dias após ter tido o AVC voltou a se apresentar. E o que poderia ter causado um trauma e tirado ela dos palcos, virou mais um dos assuntos abordados em seu show.
“Foi importante topar voltar a me apresentar, mesmo com medo de subir no palco. Meu marido ficou com o número do Samu ligado. Mas, foi muito gostoso conseguir fazer o meu show”.
Recuperada, Yrla voltou a sonhar com a ida para São Paulo e foi o apresentador Paulo Vieira, do “Visa Lá Que Eu Vou”, que contribuiu para que se tornasse realidade.
“Fui convidada para uma entrevista com o Paulo Vieira. E ele falou para mim: ‘Menina, você tem que ir para São Paulo, você tem que tentar, se jogar’. Ele me passou o número dele, me pediu para enviar mensagem e conversaríamos sobre minha ida para São Paulo”.
Mesmo morrendo de medo, Yrla foi para capital paulista e passou 10 dias na cidade, em novembro do ano passado.
“Me apresentei em 4 lugares lá em São Paulo. Inclusive nos dois, que era o meu maior sonho, não fiz besteira e foi sensacional poder realizar isso, que foi realmente um processo de superação, de provar para mim que dou conta. Eu poderia ter ficado com medo de tudo, me isolado novamente, pois tive depressão após a perda da minha mãe”.
Em julho deste ano, de 12 a 19, a comediante volta a se apresentar em São Paulo, fazendo graça sobre a vida, seu marido Bruno e tudo que ama.
“Não consigo fazer piadas de coisas que não gosto. O meu objetivo, não só no palco e na internet, mas de vida, é levar uma coisa boa. Se não deixei uma coisa boa, prefiro não deixar nada”.
Fonte: primeirapagina