Na foto, um bolinho singelo, daqueles de vó, e dois amigos. Abraçados, estão Ziraldo, o multitalentoso brasileiro que nos deixou neste sábado, e a escritora e jornalista Theresa Hilcar, mineira radicada há decadas em Campo Grande (MS).
Era a comemoração preparada por ela, no restaurante do hotel onde estavam, para o aniversário de 81 anos de Ziraldo, na Bienal do Livro de Brasília.
Seria o último encontro presencial, lembrou Theresa em entrevista ao Primeira Página para falar sobre a relação com o jornalista, escritor, caricaturista, cartazista, cartunista e muito mais.
“Ele já estava com dificuldades para caminhar longas distâncias e eu não sai do lado dele durante os três dias da Bienal”, menciona.
“A despedida foi muito emocionada. Eu chorei muito. Adivinhei ali que seria nosso último encontro.”
Thereza Hilcar
“Pouco depois ele passou a ficar mais recluso, aí teve o AVC [em 2018]. Uma barra para quem, como ele, era de uma disposição e alegria contagiantes”, lembra.
A partir daí, como ocorre como muitos amigos à distância, o telefone garantiu a manutenção da ligação fraterna, iniciada 30 anos atrás.
Theresa descreve, de forma afetiva, como tudo começou.
“Fui cobrir a Bienal do Livro em SP e aproveitei para conseguir entrevista com Ziraldo. Ele foi super gentil, me recebeu no restaurante do seu hotel e conversamos mais de duas horas. Isso foi há mais de 30 anos. Desde esse encontro nos tornamos amigos, como dois bons mineiros. Foram várias entrevistas, encontros literários. Eu costumava passar horas esperando ele autografar centenas de livros.”
Theresa Hilcar
“Ziraldo foi um amigo querido e um mentor”, define.
Ela conta que o amigo-mentor costumava obrigá-la a ler todos os clássicos que achava essenciais.
“Foi um dos grandes presentes da minha vida.”
Theresa Hilcar
Presente eterno
Depois da divulgação da morte de Ziraldo, Theresa povoou sua rede social com homenagens a ele. Em uma das postagens, revela o privilégio de ter recebido de presente as ilustrações com a assinatura famosa para dois de seus seis livros publicados.
“Quando eu o apresentei as minhas crônicas, ele me entusiasmou a escrever meu primeiro livro”, conta. “Estávamos no restaurante do Rádio Clube em Campo Grande quando ele me garantiu que faria a capa”.
Theresa Hilcar
Com seu humor único, Ziraldo detestou o título do livro, lembra a escritora.
“O outro lado do peito, ele detestou. Dizia que o outro lado do peito eram as costas. E foi mesmo um erro. Devia ter se chamado O lado esquerdo do peito”, rememora.
Quando ela escreveu a quarta obra, “O trem da vida” , ganhou outra capa linda com o carimbo de Ziraldo.
“Tínhamos uma convivência – embora estivéssemos distantes – que ia da literatura, passando pela nossa mineiridade e sempre com muito afeto e admiração. Ziraldo me ensinou muito”, agradece.
Fonte: primeirapagina