“Atos montou o vulcano e juntos saíram rumo ao portão principal de Zarco. Levavam bússola, binóculo e o mapa da ilha. Escolheram um caminho com belas paisagens, passando por plantações e aldeias. A cada quilômetro, a Ariadne se mostrava mais segura na montaria e aproveitou um campo de graminhas para sair em disparada, deixando o Atos para trás. Ela sentiu ventos zunindo nos ouvidos e os arrepios lhes escalavam as costas. Lembrou-se de Richard e de Eduardo, Bárbara e Marcenaro. Depois a memória lhe trouxe a mãe, acenando para ela do portão”.
Trecho de O Enigma de Alvidrar
O trecho acima é da obra O Enigma de Alvidrar de Juliana Feliz. É o segundo livro de uma série que promete uma aventura envolvente. A protagonista Ariadne Ventura é uma jovem sensível que vive em Ordália, uma sociedade rural militarizada e autoritária. Na qual a ordem de Verus tem poder absoluto.
“Trago todo esse universo, todo esse mundo que eu criei, que foi Ordália, e no livro II eles vão para um novo mundo, que é a ilha de Baluares, que é uma ilha dita proibida, que eles conseguem chegar até lá, isso já está ali nos primeiros capítulos, e até no final do segundo livro isso já é colocado ali para os leitores, e ali eles vão encontrar um mundo que passa a ser quase que um mundo utópico, e ali no livro II eles vão encontrar um mundo totalmente diferente daquilo que eles estavam acostumados”.
Uma ilha separada, quem está nela não pode sair, e quem está fora não consegue entrar. A escritora aproveita para tratar de uma questão atual sobre imigração.
“É um lugar em que a ordem não tem poder, a ilha fica ali separada, e eles vão conseguir entrar, eles vão entrar como imigrantes. Então eu trabalho nesse livro II esse tema da imigração, que é um tema que também está bem alto, é um tema muito discutido, que são essas pessoas que são refugiadas, que chegam nessa ilha de Baluares dessa forma. Como eles vão ser recebidos? Como isso funciona? Porque uma vez que você entra na ilha, você não pode sair mais, então existe esse dilema, né, eu vou viver aqui num mundo, mais protegido, que tem uma sociedade mais livre, mas, por outro lado, eu também não vou poder voltar e ter contato com a minha família”.
Juliana Feliz, jornalista e escritora.
Escrito durante a pandemia, a obra foi lançada em 2021.
“Mais um estalo na lareira e ouviu um acorde daquele hino escolar. Estranhou, deve ser a bebida. Mesmo sentindo uma fisgada na perna, Richard levantou-se e foi até a escrivaninha. Sentou-se, apanhou o ordálio na gaveta e abriu uma página ao acaso. O valor de um homem será medido pelos feitos em favor da ordem, os desobedientes serão punidos e os medíocres esquecidos. O conselheiro sentiu uma tontura e deitou a cabeça sobre o livro. Em poucos minutos, o sono lhe estendeu a mão e o atraiu para dentro. — Filho, sussurrou alguém. Ele tentou se mover, mas não podia. O coração acelerava, não conseguia gritar, a respiração pesada. Naquele instante, sentiu uma presença. A madeira rangeu como um gemido, gosto de amarena, cheio de livros usados. A voz vinha e voltava como um sopro sinistro. — Não vá! Richard queria enxergar quem era, mas a visão estava turva. Uma corrente de ar fez tremer a porta. Mais um estalo, e ele foi transportado para o alto. Viu o próprio corpo de cima. Sobrevoava o pesadelo nebuloso. Era a sombra de si mesmo, um reflexo perturbado da própria consciência. Olhou para baixo e, de repente, uma fenda rasgou o chão. Uma garganta de gelo abriu-se engolindo a poltrona e o tapete. Nevasca, vozes estridentes gritavam por ele. Expósito!”
Ariadne, prestes a completar 19 anos, descobre novos poderes e tem que tomar decisões. E os poderes dela também vão se desenvolver, todas essas habilidades sobrenaturais e paranormais que ela tem, ela também vai descobrir outras aos poucos, ela vai descobrir uma habilidade específica numa determinada cena que ela tem e vai ser bem interessante. Mas ela continua tendo os sonhos, tendo essas experiências fora do corpo, essas premonições das coisas que acontecem. E a grande habilidade que ela tem, que é revelada nesse livro II é que ela tem essa capacidade de poder ler os livros mágicos. E é algo muito interessante. No livro II tem toda essa questão aí da biblioteca que aí vocês vão descobrir algo muito interessante que é específico da Ilha de Baluares, de como eles lidam com a informação e como são valorizadas as informações, as memórias dos mortos. As pessoas que já morreram, que deixam todo o seu legado”.
Ouça agora mais um trecho de um enigma de Alvidrar, capítulo 47, com o título Gritos da Desordem, na voz de Juliana Feliz.
“Atos já havia comido todas as castanhas e acendeu mais um fósforo para enxergar os ponteiros do relógio. Esperava que marcasse quatro da manhã, a hora planejada para sair do cesto e soltar os seres mágicos pelo depósito. Havia um conjunto de tubulações que dava acesso às fábricas e um corredor. Que levava aos dormitórios daquela ala. Atos abriu o mapa desenhado por um dos informantes e identificou os lugares. Suado, ele arrastou os cestos para os pontos estratégicos e libertou os zombeteiros”.
A inspiração para o livro veio de uma curiosidade. Em Portugal, existe a pedra de alvidrar, que fica na região de Sintra, centro-sul do país. Um gigantesco paredão bem perto da praia de Adraga.
Na série, Ariadne tem que descobrir que enigma é esse. E o enigma de alvidrar vai aparecer em determinado momento em que a Ariadne quer descobrir por toda a lei, né? E ela, do jeito que é super obstinada e teimosa, ela vai ser mobilizada pela sua própria curiosidade para poder descobrir que enigma é esse, que é uma fenda. Tem um buraco na terra e ali ela… e as pessoas caem e desaparecem. E curiosamente, esse lugar existe aqui em Portugal. Obviamente, as pessoas não desaparecem, mas existe a fenda de alvidrar, que é a pedra de alvidrar. E existe esse lugar, né? Feito pela natureza. Que é um buraco muito grande e que, ao fundo, tem o mar. É um lugar, assim, muito enigmático, muito interessante. Eu me inspirei exatamente nesse lugar e coloquei o mesmo nome para poder criar o enigma de que as pessoas caem e elas desaparecem por completo, elas somem. Elas caem e não aparecem lá embaixo. E mesmo que você veja o fundo, elas somem. E até o final do livro esse enigma vai ser revelado. E é o que vai dar o início, né, o start para o livro III.
Juliana Feliz também é a autora de As Cinzas de Altivez, o primeiro livro da trilogia. Ela conta que a terceira parte está em produção. O nome ainda não foi revelado, mas o livro deve ser lançado ainda este ano.
Fonte: primeirapagina