O compositor, cantor, escritor e dramaturgo Chico Buarque completa 80 anos nesta quarta-feira (19). Para marcar essa data especial para a música brasileira, o maestro Eduardo Martinelli atendeu o convite especial da Morena FM e gravou trechos de três clássicos do artista. (ouça abaixo as músicas “Construção”, “Injuriado” e “João e Maria”, além da reportagem especial)
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Nesses 80 anos de genialidade, uma das habilidades mais reconhecidas de Chico Buarque de Hollanda está em brincar com as palavras em suas músicas, seja para expressar seus sentimentos, ou abordar temas sociais importantes.
Foi um dos artistas que lutaram durante a ditadura militar. Ao lado de Maria Bethânia, Caetano Veloso, Geraldo Vandré e vários outros nomes, empunhou a bandeira da liberdade de expressão e continua sendo um dos maiores nomes da música nacional.
Carioca, filho de um sociólogo e uma pianista, a primeira composição surgiu aos 15 anos: Canção dos Olhos. Em 1965, nasce o seu primeiro disco.
“É um dos nossos mais expressivos compositores que se utiliza de um imenso universo de figuras de linguagem. Ele despedaça com metáforas, comparações, metonímias, catacreses, antonomases, diáforas e muitas outras figuras de linguagem, de pensamento, semânticas. São nessas figuras que Chico Buarque sustentou, construiu uma grandiosa obra que captou o seu profundo eu lírico e mesmo sua ideologia política.”
Silvya Cesco, professora de língua portuguesa
Como exemplo dessa forma de burlar a censura, Silvya Cesco cita “Apesar de Você”.
“Em 1970, ele fez aquela belezura de música, de composição, Apesar de Você. Na época em que as letras de canções eram censuradas, essa letra do Chico passou pelo crivo da censura, porque eles, como se diz, os avaliadores, não tinham esse alcance do entendimento de figuras de linguagem, então acharam que Apesar de Você se referia a uma mulher amada, que tinha sido amada pelo Chico, ou alguma coisa assim, e que, na verdade, depois da ditadura militar, é que veio à tona o seu real significado, não só dessa, mas de outras belíssimas canções. Até hoje, muita gente ainda não entendeu que se você, na verdade, era uma metáfora, que o Chico se referiu ao General Médici e todo o seu governo ditatorial.”
Silvya Cesco, professora de língua portuguesa
“Construção”, de 1971, é uma das faixas mais aclamadas de todos os tempos. São muitos motivos para isso, entre eles, a estrutura rítmica, com cada verso terminado numa proparoxítona. As palavras vão trocando de posição ao longo da música, dando novos sentidos. Além disso, há uma forte crítica social por trás da banalização de um simples trabalhador da construção civil. O maestro Eduardo Martinelli diz que Chico detém um arsenal de técnicas de composição.
“Ele constrói músicas em formas muito distintas. Se a gente for analisar a produção musical, analisar puramente a criação musical, independente da poesia ou da letra, a gente vai perceber um arsenal grande de formas de estruturação e de composição. São bossa-nova, valsas, formatos de canções. Grande domínio da técnica da composição, das letras, do modo com que você vai criar os seus versos. Enfim, é uma pessoa que tem um domínio muito eficiente de diversas formas de criação artística.”
Eduardo Martinelli, maestro
Inspirada na Canção do Exílio, de Gonçalves Dias e escrita em 1968, “Sabiá” é outra obra cravada na história da música brasileira. Transmite em sua letra a carência e o saudosismo de Brasil que se tornava um país vazio de esperanças. Para o maestro Eduardo Martinelli, referência na história cultural do país.
“Ele tem uma influência enorme sobre várias outras gerações além da geração dele, justamente por ser um artista completo. Não é fácil a gente encontrar alguém com tantas superdotações, é um artista completo. Há quem gosta ou quem não gosta do Chico Buarque, por questões de gosto mesmo, mas o pessoal sabe disso, o tamanho do seu valor, o tamanho da sua capacidade e o resultado final da obra que ele nos entregou a vida toda.”
Eduardo Martinelli, maestro
Fonte: primeirapagina
