Desde que nasceu, em meados de 2020, o grupo musical Duo Chipa busca ousar por meio da mistura de ritmos e instrumentos. De lá para cá, a banda lançou quatro trabalhos com ritmos frenéticos que mesclam rock, indie, música caipira, pop e muitas outras referências.
Na mais nova empreitada musical da banda, o “duo”, que na verdade é um trio, decidiu ir além.
Os três músicos fizeram um álbum inteiro inspirado no cururu e siriri, danças folclóricas ritmadas pelo som marcante da viola de cocho, do ganzá e mocho, alguns dos instrumentos mais tradicionais da música caipira.
O trabalho é fruto do aprendizado que os músicos absorveram com o mestre cururueiro Sebastião de Souza Brandão, de 80 anos, que é referência nacional na preservação e difusão do instrumento.
Os dias que os artistas passaram com o mestre também resultaram em um documentário que será lançado logo após o álbum, que é composto por 12 faixas.
Duo Chipa
A banda nasceu da amizade entre a campo-grandense Audria Lucas, de 24 anos, e o paulistano Leo Oliveira, o Cleozinho, de 28 anos. Em plena pandemia e à distância, os dois amigos começaram a amadurecer a ideia de criar um duo que mesclasse rock e música caipira.
“Conheci a Audria enquanto visitava Campo Grande. A gente nem se via direito, mas começamos a conversar sobre música via WhatsApp, mandando áudios um para o outro, ideias de música. Dessa conexão entre as duas cidades surgiu a ideia de fazer uma banda de rock caipira, porque éramos rockeiros e ouvíamos vários sons em comum.”
Cleozinho, músico.
Foi nesta época que surgiu a ideia do nome curioso que une “duo” com a iguaria queridinha dos sul-mato-grossenses, a chipa.
De forma autoral e independente, os artistas começaram a lançar as primeiras músicas. A banda chegou a ter quatro integrantes até à formação atual com o músico Rafael Omar, de 30 anos, que também é campo-grandense.
No ano passado, os artistas lançaram o quarto trabalho da banda, o EP “Doses de Paixão”, com quatro músicas.
Durante a busca do trio por valorizar os ritmos da música caipira, surgiu a ideia de um álbum que destacasse a influência da viola de cocho. Para colocar a ideia em prática, ninguém melhor do que um mestre do instrumento para ajudá-los. Quem fez a ponte foi Omar.
“A gente já conhecia a viola de cocho pela internet. O Omar teve mais contato desde criança, por nascer em Corumbá. Mas foi uma adaptação grande para entender como manejar suas cordas feitas de linha de pesca e seus três trastes apenas.”
Cleozinho, músico.
No ano passado, os músicos inscreveram o projeto no FIC (fundo de Investimentos Culturais de Mato Grosso do Sul) e conseguiram o financiamento para colocar a experiência em prática.
Em março deste ano, o trio passou duas semanas com o instrumentista, aprendendo sobre as especificidades da viola de cocho, do cururu e siriri. A vivência resultou no repertório do quinto trabalho da banda, “Lugar Distante”, composto por 12 músicas, entre elas nove inéditas.
As duas semanas ao lado do artista também deram origem ao documentário “Mestre Sebastião: Entre causos e toadas”.
Nascido em 21 de janeiro de 1944, na região do Castelo, no Pantanal de Corumbá, “seo” Sebastião é um ícone da cultura sul-mato-grossense.
Além de confeccionar e tocar a viola, ele aprendeu a dançar o cururu e siriri, por meio dos ensinamentos de seu pai, sua vivência e acompanhamento das festas tradicionais e religiosas.
Esse conhecimento conferiu a ele reconhecimentos como Mestre da Cultura Popular (Ministério da Cultura: 2012 e 2019), além de prêmios e apresentações.
“O documentário tem cerca de meia hora e gira em torno das histórias que ‘seo’ Sebastião conta, intercalando com canções dele, do avô e do pai, que também carregam um pouco da história dele com o cururu, mas também dessa ancestralidade de uma cultura construída em cima do cururu e da viola de cocho.”
Cleozinho, músico.
Produção
Os álbuns anteriores do Duo Chipa têm outras referências, como rock, indie e brega. Se antes o baixo, bateria e guitarra marcavam presença nas canções, em “Lugar Distante”, a viola de cocho, ganzá e mocho dão o tom.
Os instrumentos usados nas músicas foram construídos pelo “seo” Sebastião e seu sobrinho Bruno. A produção do álbum foi dividida entre três estúdios em Corumbá, Campo Grande e São Paulo. Todo o processo foi realizado de março até agosto.
Os estúdios trabalham de maneira caseira, com microfones no meio da sala e violas de cocho com captadores que o próprio Sebastião instalou.
As composições da música também são feitas em conjunto. Audria e Cleo escrevem as letras, e o arranjo instrumental é feito por Cleo e Omar.
Bastante tradicional no estado vizinho, Mato Grosso, o cururu e siriri também fazem parte da cultura da região de fronteira e pantaneira de Mato Grosso do Sul.
“A gente costuma falar em sotaque de viola. O cururu e siriri feitos em Ladário e Corumbá são um pouco mais lentos, com letras mais curtas, em relação aos que são feitos no Mato Grosso. O Vale do Rio Cuiabá abrange várias cidades do Mato Grosso, e cada localidade tem um sotaque de tocar a viola e cantar um pouco diferente.”
Duo Chipa.
Entre as influências do álbum estão artistas como Tetê Espíndola, Alzira E, Grupo ACABA, Délio e Delinha, Helena Meirelles, Paulo Simões, Geraldo Roca, Almir Sater, entre outros.
Lançamentos em grande estilo
O disco “Lugar Distante” estará disponível nas plataformas a partir de 27 de setembro. O grupo já deu um spoiler do novo álbum com o lançamento do single “Tramelado”, uma das faixas do trabalho que mistura o gênero folclórico com punk rock.
A pré-estreia do documentário “Mestre Sebastião: Entre Causos e Toadas” acontece no dia 4 de outubro, às 20h, no Moinho Cultural de Corumbá.
Em Campo Grande, o documentário será exibido no dia 12 de outubro, no Teatro do Mundo, na Rua Barão de Melgaço, 177 – Centro. As exibições serão acompanhadas de shows do trio.
Fonte: primeirapagina