A Nickelodeon, fundada em 1979, foi o primeiro canal de TV a cabo infanto-juvenil. E seu nome vem dos primeiros cinemas do mundo, criados nos EUA e no Canadá entre 1905 e 1915.
A entrada nesses estabelecimentos custava cinco centavos de dólar, e essa moedas têm o apelido de nickel em inglês, porque são feitas de uma liga metálica de níquel e cobre. Isso explica a primeira parte do nome.
O precinho acessível resultava em condições insalubres: as salas eram apertadas e quentes, com cadeiras de madeira duras, sem acolchoado. E boa sorte com o cheiro de cigarro: nessa época, não era proibido defumar os pulmões em locais fechados.
Esclarecida a parte do nickel, vamos ao odeon.
A palavra tem a mesma raiz grega de “ode” em português. Esse termo se referia, originalmente, a uma canção ou poema: na Grécia Antiga, os poemas eram cantados, então a divisão contemporânea entre as duas coisas sequer faz sentido.
Os”odeons”, por sua vez, eram um tipo de teatro grego-romano de pequeno porte usado para apresentar odes. Ou seja: eles foram as primeiras casas de show da civilização ocidental. Veja, abaixo, as ruínas do odeon de Eféso, na Turquia.
Por causa disso, muitos estabelecimentos associados às artes carregam esse nome. Existe o cinema Odeon no Rio de Janeiro, a rede de cinemas britânica Odeon, o teatro Ódeon de Paris e um outro teatro Odeon em Bucareste, na Romênia.
A palavra remete a uma certa sofisticação, e reside justamente aí a piada: um nickelodeon é um odeon de centavos, e portanto, uma contradição em termos.
No final do século 19, a forma mais comum de entretenimento na América do Norte era um gênero de espetáculo intermediário entre o circo e o teatro de comédia chamado vaudeville.
As apresentações de vaudeville eram uma salada: incluiam cantores, malabaristas, humoristas, sósias, acrobatas, mágicos, palhaços… Esses artistas se alternavam em performances breves de dez ou quinze minutos.
Após a invenção dos projetores, o cinema se tornou uma dessas atrações. Os filmes da época tinham apenas alguns minutos de duração e se encaixavam bem no rodízio de entretenimento.
Os Nickelodeons surgiram como uma alternativa de classe trabalhadora aos vaudevilles e, sem perceber, se tornaram antepassados da televisão.
O ingresso permitia a permanência por tempo indeterminado, e o cliente assistia a uma sequência de filmes de diferentes tipos: histórias, reportagens, documentários, desenhos animados e até clipes. Ou o mais próximo de um clipe que existia naquela época: uma banda tocava em sincronia com cenas mudas exibidas na telona, um tipo de apresentação que era chamada de “canção ilustrada”.
Da próxima vez que ligar a televisão, então, você pode pensar nela como um teatro que sai de graça. Com uma vantagem: dá para zapear (rs) entre as atrações. Afinal, nada dá mais preguiça do que o vaudeville do Silvo Santos aos domingos.
Fonte: abril