Um robô com câmeras mapeava o leito marinho em busca de reservas de gás natural a quase 2 km de profundidade, no fundo do Mar Mediterrâneo. Entretanto, ele encontrou algo diferente: um amontoado do que pareciam ser vasilhas enormes e redondas.
Esses recipientes de bronze estavam junto dos destroços de um navio que afundou há 3,3 mil anos, a 90 km da costa de Israel. É um dos naufrágios mais antigos já encontrado na região, e revoluciona o entendimento atual sobre navegação na Antiguidade.
Até então, só haviam sido encontrados outros dois naufrágios do final da Idade do Bronze naquela região, ambos próximos à costa da Turquia e bem mais rasos. Já faz 42 anos desde que o mais recente deles foi descoberto, em 1982 e, desde então, não houve achados espetaculares.
É a primeira vez que um navio de comércio tão antigo é encontrado tão distante da costa. “Com base nessas duas descobertas, a suposição acadêmica até o momento era de que o comércio naquela época era realizado por meio de viagens seguras de porto a porto, contornando o litoral com contato visual com a costa.”, diz Jacob Sharvit, chefe da Unidade Marinha da Autoridade de Antiguidades de Israel.
“Essa descoberta nos revela como nunca antes as habilidades de navegação dos antigos marinheiros – capazes de atravessar o Mar Mediterrâneo sem qualquer litoral em seu campo de visão.”, Sharvit acrescenta. “Para navegar, eles provavelmente usavam os corpos celestes, observando os ângulos e as posições do sol e das estrelas.”
O navio tem entre 12 e 14 metros de comprimento e está completamente enterrado. Somente algumas vasilhas despontam para fora da superfície lamacenta.
Eles provavelmente eram uma forma segura de transportar produtos relativamente baratos e produzidos em larga escala, como óleo, vinho e frutas. As ânforas encontradas estavam cheias de lodo, mas os cientistas devem descobrir mais sobre o que elas carregavam após analisar vestígios microscópicos.
Segundo Sharvit, “Há um enorme potencial de pesquisa aqui: O navio está preservado em uma profundidade tão grande que o tempo congelou desde o momento do desastre – não foi perturbado pela mão humana (mergulhadores, pescadores etc.) nem afetado por ondas e correntes que mexem com os naufrágios em águas mais rasas.”
O final da Era do Bronze no Mediterrâneo, por volta de 1.300 anos a.C, foi marcado por um aumento significativo do comércio internacional, que possibilitou o desenvolvimento de redes comerciais organizadas, mediadas pelos governos. No Mediterrâneo, os principais produtos de exportação eram o cobre e o estanho, que, misturados, davam origem ao bronze para a fabricação de ferramentas, armas e escudos resistentes.
A Autoridade de Antiguidades de Israel especula que o navio pode ter naufragado em virtude de uma tempestade ou ter sido atacado por piratas – que eram comuns na época e região. É provável que as respostas a essas perguntas sejam obtidas por meio de pesquisas mais detalhadas sobre a embarcação.
Fonte: abril