O cônsul romano Júlio César (100 a.C. – 44 a.C.), um dos maiores comandantes militares da história, talvez não tivesse vivido para ver algumas de suas maiores glórias caso o sequestro pelo qual passou tivesse dado mais certo. A história, registrada pelos historiadores Suetônio e Plutarco, ficou marcada como uma das mais inusitadas na trajetória do líder romano.
O ano era 75 a.C.
Júlio César, então com 25 anos, estava cruzando o Mar Egeu a caminho da ilha de Rodes, na Grécia, para estudar oratória. Filho de família nobre, ele ainda não tinha cargo político — era só um aristocrata carreirista, como muitos da época, seguindo seu protocolo social. O problema é que, naqueles tempos, o Mediterrâneo estava apinhado de piratas, que vinham fazendo a festa saqueando navios romanos.
O barco de Júlio César acabou interceptado e o futuro ditador, sequestrado. Os piratas estabeleceram em 20 talentos o valor do resgate, ao que César, entretido com a ignorância dos criminosos sobre quem ele era, disse que o valor era baixo e que 50 talentos seriam mais adequados. César então enviou seus imediatos para coletar o dinheiro enquanto ele aproveitava a vida como refém.
Foram 38 dias de tortura, mas para os piratas. Sempre divoso, César recusou-se a comportar-se como uma vítima. Ele dava ordens aos piratas e mandava ficarem quietos quando queria dormir. Durante o dia, obrigava os bucaneiros a escutar os poemas e discursos que ele escrevia — os analfabetos que não entendiam levavam bronca.
César topava participar dos jogos e exercícios dos piratas, mas apenas como líder, nunca como alguém que recebia ordens. De vez em quando, ele brincava que mandaria crucificar todos eles e os piratas, entretidos com a gracinha, davam risada. (Spoiler: ele mandou mesmo).
Passados os 38 dias, o resgate foi pago e César foi libertado. Aqui, a história muda, dependendo de qual relato você está lendo, se o de Suetônio ou de Plutarco. Suetônio relata que César foi para a cidade de Mileto (atualmente território da Turquia), convocou uma frota e saiu atrás de seus captores.
Encontrou os marotos ainda acampados na mesma ilha em que ele havia sido mantido refém, porque bandido burro não é exclusividade do século 21. E aí, matou todo mundo.
O relato de Plutarco adiciona uma parte extra. César teria procurado Iuncus (ou Junius, o nome certo ninguém sabe), governador da Ásia, porque o território era dele, portanto era sua tarefa puni-los. Como Iuncus estava hesitante em mandar executar os piratas, César foi até a prisão onde estavam sendo mantidos e ordenou que todos fossem crucificados.
Por mais maravilhosa que a história seja, há chances de que ela tenha sido alterada para melhorar a imagem do líder romano no ocorrido. É possível, inclusive, que o próprio Júlio César tenha enfeitado um pouco o que aconteceu.
De qualquer forma, esta anedota histórica serve para ilustrar como Júlio César, na juventude, já tinha as características que marcariam sua vida adulta, como a audácia e a sede por poder. Alguns anos depois, em 46 a.C., ele tomaria Roma.
Fonte: abril