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Estudo revela mistério: morte dos celtas há 2 mil anos decifrada

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Em 1965, arqueólogos encontraram um cenário intrigante em escavações na Suíça: os destroços de uma ponte construída pelos celtas que ali viviam, juntamente com os restos mortais de 20 pessoas, ossos de animais e alguns artefatos. A datação de radiocarbono mostrou que a estrutura, chamada Cornaux-Les Sauges, existiu no século 1 a.C. Mas um grande mistério permanece: como aqueles indivíduos morreram?

Desde o achado, várias hipóteses foram levantadas, sendo as duas principais um acidente envolvendo uma forte onda de água ou enchente que destruiu a ponte enquanto as pessoas cruzavam, ou que o local tinha algum significado religioso e era usado para sacrifícios humanos.

Agora, um estudo revisitou o mistério e encontrou mais pistas sobre o que aconteceu naquele pedaço do rio suíço Thièle, na chamada região dos Três Lagos. O artigo foi publicado na revista Scientific Reports

O grupo de cientistas, liderado por pesquisadores da Universidade de Berna, analisou os achados de perto e também estudou o DNA dos ossos encontrados. Entre os achados, a equipe descobriu que, dos 20 indivíduos encontrados, 15 eram homens. A maioria era jovem adulta e o grupo não tinha vínculo de parentesco entre si.

Sacrifício humano ou acidente?

Por muito tempo após esse sítio arqueológico ser descoberto, a teoria dominante era de que a ponte Cornaux-Les Sauges poderia ser um local onde se realizava rituais envolvendo sacrifícios humanos – prática conhecida dos historiadores entre a cultura celta desta época. Havia algumas semelhanças com outros locais onde foram identificados este tipo de prática religiosa, como artefatos encontrados juntamente com os restos humanos, que serviam de oferendas, além de animais, que também poderiam ser sacrificados.

Uma teoria mais recente, porém, diz que a ponte colapsou por acidente, possivelmente, uma forte onda como um tsunami, matando as pessoas ali. O fato de que muitos ossos foram encontrados num cenário caótico, misturados e às vezes até entrelaçados desordenadamente nos pedaços da ponte, fortalecem essa hipótese.

Distribuição esquelética e exemplos de lesões esqueléticas no estudo da morte dos celtas.
(Scientific Reports (2024)/Reprodução)

O novo estudo examinou os esqueletos e concluiu que eles estavam muito bem preservados – cinco dos crânios, por exemplo, continham pedacinhos de cérebros ainda, o que é raro já que os tecidos moles se decompõem rapidamente. A equipe acredita, então, que os restos foram cobertos com sedimentos logo depois do evento que causou a morte dessas pessoas.

Além disso, os cientistas não encontraram nenhuma lesão causada por objeto cortante nos ossos; pelo contrário, os danos das ossadas parecem vir de um forte impacto, causando traumas nestas pessoas. Isso é compatível, inclusive, com vítimas de tsunamis. 

Com isso, os pesquisadores concluíram que a hipótese de um acidente repentino e natural que destruiu a ponte e logo depois soterrou os mortos, como uma forte onda de água, seja mais provável do que o sacrifício intencional – embora admitam que ter 100% de certeza é difícil.

Uma limitação do estudo é que a datação de radiocarbono não é tão precisa, então não dá para afirmar com certeza que aqueles indivíduos todos morreram de uma vez. O fato de que nenhum dos mortos era parente também era esquisito; tomando a teoria do sacrifício, isso seria explicado se os indivíduos fossem escravos capturados sem relação entre si que foram escolhidos para o ritual religioso naquela ponte.

“Considerando todos estes elementos, é muito provável que tenha ocorrido um acidente violento e repentino em Cornaux”, resume Marco Milella, pesquisador da Universidade de Berna. 

Mas Milella não descarta totalmente a ideia de que aquele local poderia ter sido palco de sacrifícios, juntando as duas hipóteses. “Esta ponte teve uma vida anterior [à sua destruição]. Pode ter sido um local de sacrifício, e é concebível que alguns cadáveres tenham precedido o acidente. Não é preciso escolher entre as duas teorias”, diz.

A ponte Cornaux-Les Sauges é especialmente importante porque é a única ponte celta do final da Idade de Ferro já identificada, e dá mais pistas sobre esse povo que habitava grande parte da há milênios – e cuja influência ainda é grande em países como Irlanda e Escócia.

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Fonte: abril

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Fábio Neves

Jornalista DRT 0003133/MT - O universo de cada um, se resume no tamanho do seu saber. Vamos ser a mudança que, queremos ver no Mundo