Imagine que você é um trabalhador da rede de gás canalizado em Atenas. Finalzinho do ano, trabalho rendendo pouco… Você faz o que faz todos os dias: começa uma pequena escavação para consertar uns tubos. Mas dessa vez, a pouco mais de 1 m de profundidade, você encontra uma estátua bizantina com mais de um milênio.
Foi exatamente o que aconteceu: uma escultura de mármore do deus grego Hermes foi encontrada em boas condições dentro de uma estrutura subterrânea de tijolos, no subsolo de uma rua insuspeita da capital grega.
A estátua é similar à famosa Hermes Ludovisi, talhada em Roma no primeiro século da era comum e exposta até hoje em um museu na Itália. Outros objetos também foram descobertos no local, mas os arqueólogos ainda não conseguiram identificar toda a coleção.
Na mitologia grega, Hermes é um deus olímpico, filho de Zeus e da plêiade Maia. Ele é frequentemente retratado como um jovem bonito e atlético, sem barba, ou em sua versão mais velha, barbudo, com botas aladas e uma varinha de arauto (um tipo de emissário ou mensageiro diplomático da nobreza).
Isso porque ele era o mensageiro pessoal de Zeus, rei dos deuses, e também o guia dos mortos, que conduzia as almas ao submundo. Hermes é uma divindade especialmente antiga — já era cultuado antes mesmo do período que conhecemos como Grécia Antiga, que começou há mais de três mil anos.
Ao longo dos séculos, seu mito foi ampliado. Ele foi promovido a deus das manadas e rebanhos, dos viajantes e da hospitalidade, das estradas e do comércio, da ladroagem e da astúcia, dos arautos e da diplomacia, da linguagem e da escrita, das competições atléticas e dos ginásios, da astronomia e da astrologia (ufa!).
“A estátua e o restante dos achados não foram encontrados em seu local original, é claro que foram movidos e colocados, talvez armazenados, sempre com muito cuidado, durante o período da Aantiguidade, provavelmente na Antiguidade Tardia”, diz a chefe da Ephorate of Antiquities de Atenas, Elena Kountouri, em entrevista ao jornal grego Kathimerini.
A estátua foi encontrada a alguns quarteirões de onde, em 1955, também foram encontradas por acaso as ruínas da casa de Proclo, filósofo grego do século V. Em 2003, durante as obras de preparação para sediar as Olimpíadas, o governo grego encontrou ainda mais ruínas e artefatos arqueológicos como altares, esculturas e objetos domésticos. A pesquisa detalhada foi realizada apenas na parte norte das ruínas, já que o restante continua sob edifícios modernos.
Durante o período imperial romano (séculos 1 a 5 d.C.), a região ao sul da Acrópole, onde a estátua foi desenterrada, era o local de várias vilas romanas abastadas. As vilas eram ricamente decoradas com pisos de mosaico e esculturas. Nessa mesma área está o Odeão de Herodes Ático, um teatro de arena que permanece em uso há 1,8 mil anos.
Aparentemente, a obra pública que motivou a escavação foi interrompida por causa dos achados arqueológicos e o Ministério da Cultura já está providenciando o transporte seguro da estátua para um laboratório de conservação. Os arqueólogos não têm muito tempo à disposição, já que o trânsito na rua foi interrompido.
“É claro que ainda estamos no início, no momento só podemos especular, qualquer coisa dita com um alto grau de certeza é prematura. A prioridade é continuar a escavação, coletar todos os achados e não perder nenhuma evidência que possa ser valiosa para documentar o que encontramos hoje.”, completa Kountouri.
Fonte: abril