A ‘invasão’ de crianças e pré-adolescentes nas lojas da Sephora nos Estados Unidos tem sido o grande assunto nas redes sociais neste mês. Isso porque vídeos mostrando o estrago que elas fazem em produtos que ficam disponíveis para teste viralizaram no e geraram debate sobre a responsabilidade dos influenciadores no consumo de .
Dá uma olhada nos vídeos abaixo de pessoas que foram ver se a ‘destruição’ era mesmo real:
@lexislately Honestly the drunk elephant testers at sephora werent terrible but you could tell a 10 year old had just just made a skincare smoothie. 12 year olds dont need retinol that is all 💀✋🏼 #sephorakids #sephora #drunkelephant #omg #relatable #lmao #skincaresmoothie #gross
@cassandrabankson I thought it was just a rumor 🫠 #drunkelephant #sephora #tweenskincare
E, claro, essas visitas geraram a criação de uma rotina de skincare com uma quantidade de passos desnecessária.
@theresa360 Switching skincare routine’s with a 10yr old👀😭 *$500 skincare routine*
O que chama a atenção é que as crianças e pré-adolescentes entre 10 e 12 anos, em média, já trocaram brinquedos por produtos de beleza, muitas vezes desnecessários para uma tão nova, especialmente de marcas caras, como Drunk Elephant, Sol de Janeiro e Rare Beauty, que geram desejo ao serem mostradas por criadores de conteúdo. Nesse contexto, é evidente que precisamos considerar um recorte de classe social, uma vez que trata-se de itens que exigem um pode aquisitivo mais elevado.
O assunto viralizou tanto que já virou até meme na internet, como no vídeo abaixo em que a usuária @itsjennalu faz uma sátira ao encenar crianças de 12 anos comprando na Sephora. “Você já pensou sobre anti-idade? Porque, agora que você tem 11 anos, você deveria considerar um creme para olhos”, imita ela.
@itsjennalu these girlies have better makeup than me 💋 #tweens #middleschoolersbelike #sephora #drunkelephant #soldejaniero #rarebeauty #meangirls #comedy #satire #greenscreen
Mas o ponto de preocupação é que esses produtos, que podem conter retinol e outros ácidos, são desaconselhados para peles dessa idade. Nesse momento, os cuidados necessários são básicos, conforme explica a Dra. Ana Coutinho, dermatologista e diretora médica da Pierre Fabre Brasil, à . “Recomenda-se introduzir uma rotina de skincare entre 11 a 15 anos, faixa etária que coincide com mudanças significativas devido à puberdade. Inicialmente, o foco deve ser em cuidados básicos, como um bom limpador facial suave, um hidratante leve e um .”
Ela ainda afirma que esses produtos de tecnologia superavançada, que costumam ser indicados a um público de outra faixa etária, contêm ingredientes desenvolvidos para outras finalidades terapêuticas que não atendem às necessidades presentes nesse momento de vida. “De modo geral, usar produtos que não são adequados para a idade pode produzir desequilíbrio das características naturais da pele, gerando alterações importantes como perda de barreira cutânea com consequente ressecamento, alteração de ph e outras mudanças que podem piorar a existente, por exemplo. A pele em desequilíbrio pode alternar excesso de oleosidade com perda de brilho e opacidade, apresentar aspecto repuxado, ou, após um certo tempo da aplicação do produto, ressacar mais, o que significa que a água tende a evaporar ou que a fase oleosa é insuficiente para proporcionar flexibilidade adequada à pele.”
Mas, afinal, quando podemos incluir mais produtos na rotina de autocuidado – para além dos três passos essenciais? Segundo a Dra. Ana Coutinho, isso deve ser feito a partir da avaliação do dermatologista. “A partir dos 10/11 anos, os cuidados se concentram na higiene, hidratação apropriada e fotoproteção. Em adolescentes com excesso de oleosidade e , a introdução de produtos oil free com uma proposta de controle da oleosidade e ação antiacneica são recomendados. Produtos com efeitos adicionais, como um esfoliante suave, uma loção adstringente ou sérum antioxidante são muito bem-vindos. No entanto, é crucial não sobrecarregar a pele com muitos produtos. Manter a simplicidade é a chave.”
Nesse contexto, é importante que o papel dos influenciadores de beleza, especialmente no TikTok, seja de conscientizar seus seguidores sobre essa simplicidade. Diante de tantas novidades do mercado, que acabam caindo no gosto dos criadores, que até produzem conteúdos patrocinados, fica difícil filtrar o que realmente é necessário ou não – ainda mais quando se trata da inocência de um público jovem.
“Quando uma criança ou um adolescente tem acesso ilimitado a conteúdos da internet, passando horas no TikTok, YouTube ou outras redes, ele está sendo exposto e bombardeado por uma série de conteúdos, que são muitas vezes fora de sua faixa etária, já que o algoritmo sugere muito além do que ele está acostumado a ver. Temas como beleza, estética corporal, skincare e passam em sua timeline, causando interesse e curiosidade, levando o indivíduo a buscar por produtos relacionados para que se encaixe nesse novo padrão recém-descoberto”, explica Carolina Delboni, educadora e especialista em comportamento infanto juvenil.
@milkydew
“Uma boa alternativa [para a conscientização] é que marcas de dermocosméticos e influenciadores criem conteúdos educacionais enfatizando que menos é muitas vezes mais, e que a consistência nos cuidados diários é fundamental para uma pele saudável a longo prazo”, opina a Dra. Ana Coutinho.
A conclusão, na verdade, é que não se trata de banir o acesso de crianças e pré-adolescentes a lojas da Sephora. Quem aí já não fuçou as maquiagens da mãe ou avó quando era criança e saiu com batom vermelho pelo rosto inteiro, né? No entanto, o que acontece em 2024 é bem mais grave, porque estamos falando de produtos complexos de skincare que realmente podem danificar a barreira cutânea por um cuidado desnecessário que tem, sim, influência das redes sociais. Por isso, a educação, tanto de casa, das marcas como dos próprios influenciadores, possui papel fundamental nessa questão.
“A indústria da cosmética moderna se desenvolveu com um excesso de produtos e ingredientes ativos, promessas enganosas, soluções milagrosas tudo-em-um, nos deixando muitas vezes desapontados e sem uma resposta realmente eficaz”, declara explica Maurilio Teixeira, CEO da Naos no Brasil, companhia, detentora da Etat Pur, marca francesa de dermocosméticos. “A dermatologia ensina que não é necessário – e até prejudicial – aplicar um princípio ativo sobre a pele, a menos que seja necessário. Cada ação leva a uma reação, suscetível de conduzir a efeitos descontrolados. Por isso, o skincare deve ser feito com nada mais, nada menos do que sua pele precisa”, finaliza.
@logsvlogss Terrifying. #childrenatsephora #fyp #foryou #sephora #lululemon #stanley #kidsatsephora
Fonte: capricho