Para os muçulmanos, os anos podem ter 354 ou 355 dias. No próximo 7 de julho, eles comemoram a entrada em 1446. O marco zero, nesse caso, é o ano em que Maomé fez a peregrinação de Meca para Medina – 622 depois de Cristo, no calendário que nós usamos. Esses dias de diferença tiram o calendário deles de sincronia com o nosso. A comemoração de 2025, por exemplo, acontecerá em 26 de junho e marcará o início de 1447.
Tal discrepância existe porque os islâmicos combinaram que o ano consiste em um período de 12 ciclos lunares completos, o equivalente a 354,5 dias. Já no Ocidente, combinamos que chamaríamos de “ano” o tempo que a Terra leva para dar uma volta completa ao redor do Sol – aproximadamente 365 dias.
Ao longo da história, a humanidade adotou basicamente três tipos de calendários: lunar, solar e lunissolar. O primeiro deles é o mais fácil de marcar, já que um ciclo da Lua dura 29,5 dias, e suas fases podem ser vistas claramente no céu. É só contar doze ciclos e pronto. A desvantagem é que as estações dependem da posição da Terra em relação ao Sol. Assim, o início delas acaba caindo em dias diferentes a cada ano lunar – o que torna difícil prever quando será a próxima colheita, por exemplo.
O calendário islâmico é um dos únicos que se guia somente pela Lua, e hoje é usado principalmente para celebrar datas religiosas. O ano ocidental acabou se impondo no dia a dia para permitir, por exemplo, o comércio internacional e a aviação civil. Outras culturas asiáticas adotam tradicionalmente calendários lunissolares, que são uma maneira de unir a observação da Lua ao ano solar. É o caso dos judeus e dos chineses.
No calendário lunissolar, o mês também é definido de acordo com os ciclos da Lua. A diferença é que, de tempos em tempos, um 13º mês é adicionado ao ano para sincronizá-lo com o movimento da Terra em torno do Sol. O calendário chinês inclui um mês extra a cada 32 ou 33 ciclos lunares – a última vez em que isso rolou foi em 2023, e a próxima será em 2025.
Há maneiras ainda mais exóticas de se definir os anos. Não é à toa que o calendário maia desperta tanto o interesse dos historiadores: ele consiste em um ciclo agrícola de 365 dias chamado Haab e um outro padrão utilizado para atividades religiosas, o Tzolk’in, com 260 dias. Há ainda um calendário de contagem longa: além de unir os dois outros, ele marca ciclos maiores, que demoram dezenas ou centenas de anos
para recomeçar.
Se hoje usamos um calendário unicamente solar, de 365 dias, é graças aos egípcios. 5 mil anos atrás, eles foram uma das primeiras civilizações a agrupar os dias dessa forma. O ano era composto por 12 meses de 30 dias cada, com mais cinco dias órfãos encaixados ao final de cada ano. Havia três estações, de quatro meses cada: Inundação (Akhet), Emergência (Peret) e Colheita (Shemu), que faziam referência às cheias do Rio Nilo, essenciais para fertilizar o solo desértico. O ano novo era marcado pela aparição da estrela mais brilhante no céu, Sirius.
Acontece que o período de translação da Terra não é de exatos 365 dias. Na verdade, são 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. A cada quatro anos, os egípcios passaram a adicionar um sexto dia extra para compensar pelas horas ignoradas nos anos regulares. Quem oficializou isso foi o soberano Ptolemeu III Evérgeta, que governou o Egito no século 3 a.C. Nascia a ideia do ano bissexto.
Fonte: abril