Ai, ai, ai, crianças que se desculpam demais… Esse é bom para a gente conversar, não é?
Desculpas, desculpas, desculpas… Desculpa? 😥
Calma lá, vamos juntos entender um pouco melhor sobre o assunto e falar sobre crianças que se desculpam demais!
Provavelmente você já conheceu uma pessoa, ou até pode ser você, leitor, que pede desculpas para tudo e todos. E já adiantamos: isso não é legal, não.
Aqui, não estamos falando de pisadas de bola gigantescas que as justifiquem e muito menos invalidando uma “desculpa” que vem depois de uma trombada na rua, de um atraso ou qualquer situação que aconteça no cotidiano.
Afinal, faz parte! Inclusive, pra muita gente, isso é sinal de educação.
Neste artigo queremos recortar e trazer a reflexão para os pedidos de desculpas que ultrapassam a palavra, que se manifestam no corpo e deixam as pessoas (principalmente as crianças) inseguras, acuadas, sentindo-se mal como se tivessem cometido um grande erro.
Então, vamos lá!
Vamos falar sobre crianças que se desculpam demais!
Vamos começar falando do principal problema nisso tudo: de uma forma geral, pode-se entender que crianças que se desculpam demais (adultos também) estão constantemente condicionadas a achar que tudo o que fazem está errado, que incomodam os outros ou que destoam da existência do universo. 💔
E isso é triste. Esse comportamento negativo leva a criança a se sentir inferior, com medo de se relacionar, de dar a sua opinião, de se arriscar ao novo.
Então, quando uma criança pede desculpa por tudo, provavelmente não está tudo bem. 🚨
O que fazer para ajudar?🫂
O primeiro passo para ajudar a sua criança, é identificar esse comportamento.
Conversamos com a psicóloga e doutora em educação Érica Nayla Teibel, especialista nas narrativas e desenvolvimento infantis, para compreender melhor e orientar como as famílias e educadores podem lidar com a situação.
Para a especialista, as famílias e educadores, atentos no dia a dia, vão perceber os primeiros sinais desse excesso quando há uma inadequação social. “Não tem idade certa, vai depender muito do contexto que cada criança está inserida. O importante é, se aparecer, cuidar”, comenta.
“A criança está pedindo desculpa e ela não está errada. É um indício de que tem algo ali acontecendo. Quando um conjunto de indícios e sinais são associados ao contexto de vida da criança, aos prejuízos no seu processo é que vão se caracterizar como um problema.”
Na vida acelerada da sociedade, o que está na nossa frente pode passar despercebido. Os comportamentos das crianças merecem muita atenção. Alguns, como agressividade, podem “saltar mais aos olhos”, mas outros podem passar despercebidos. Por isso, atenção. Ouçam as crianças, prestem atenção aos sinais que elas estão transmitindo.
“Se recebo uma criança que pede muitas desculpas, vou olhar para o contexto de vida, perguntar o que está acontecendo na vida dessa criança. O que está ocorrendo no contexto da escola ou no familiar.”
Érica contou que existem muitas possibilidades e casos, e cada um pede uma orientação própria.
O que motiva esse comportamento?
“Como a criança se expressa no mundo está muito relacionada com a sua vivência. O que é a vivência? É a unidade entre a personalidade, quem é essa criança que carrega a história de vida dela, e o contexto em que ela está inserida”, explica Érica.
Há casos comuns em que a família é muito rígida, sempre corrigindo a criança, em que existe um sentimento constante de essa criança se sentir errada, inadequada, necessitando de aprovação.
Existem também situações em que a família, apesar de não ser tão rígida, está constantemente orientando a criança. “Então não estão punindo a criança, mas estão dizendo sempre o que ela tem que fazer, como ela tem que fazer, que pode estar alimentando esse sentimento de inadequação dela na situação.”
A psicóloga também traz a situação de que uma criança que não apresentava esse comportamento, mas de repente passa a acontecer algo no contexto escolar que dispara essa característica.
“Não tem um único aspecto que se possa demarcar, pois o ser humano é algo incrível. Tudo é um pouco possível.”
Por isso a atenção e o respeito a cada fala de uma criança é tão importante. O identificar o comportamento leva os cuidadores ao passo seguinte, de buscar compreender o de onde vem esse sentimento. E, como vimos, nem sempre está claro.
“Vai depender como esse sujeito, essa criança está entendendo esse mundo a partir de tudo o que já viveu e de como significa essas vivências”, confirma Érica.
E agora, o que fazer? 👀
Identificou, sentiu, percebeu que pode ter algo de errado com a criança? Hora do diálogo. 💬✨
“Se a criança traz isso [o excesso de desculpas], nunca é o melhor caminho repreender. E sim tentar entender, questionar. ‘Você está pedindo desculpa, mas por quê? O que você fez de errado?’ Para ir ampliando o olhar sobre como essa criança está se percebendo nessas situações.”
O cuidado se estende aos cuidadores e responsável. E isso é fundamental de se rever. Ao perguntar para a criança, o próprio questionamento serve para os adultos. Adultos com vivências antigas enraizadas e que podem estar repetindo ciclos violentos ou de descaso.
“Como os cuidadores estão interagindo com essa criança?” provoca Érica. “Porque muitas coisas que a criança aprende está relacionada com essas vivências que teve na família.”
A profissional também não descarta que na própria família algum membro carregue o hábito de se desculpar a todo momento.
“O leque de possibilidades é grande, mas o primeiro passo é buscar o diálogo, tentar entender qual o sentido disso para a criança dentro da faixa etária que ela está, e isso se dá por meio de perguntas, diálogos, conversas, e nunca através da punição.”
O que é um adulto atípico? 🤔💭
E falando sobre a postura dos adultos em relação às crianças, Érica trouxe a lembrança do termo “adulto atípico“, utilizado por William Corsaro em seus estudos.
Como nos explica, a ideia do “adulto atípico” caracteriza o adulto que não usa a autoridade de forma desnecessária, que apresenta uma postura mais empática e compreensiva com as crianças.
“O padrão do adulto comum sempre utiliza sua autoridade em relação à criança. ‘Faça isso, faça aquilo. Isso está errado. Isso é feio’. O adulto está o tempo todo nesse processo”, comenta. E percebeu como esse comportamento adulto se relaciona com a criança se sentir inadequada, como mostramos alguns parágrafos atrás?
Então, pontua a psicóloga, por isso a importância do diálogo e da forma respeitosa de se comunicar com as crianças.
“Quando a gente quer acessar os processos de significação infantil, sobre o que eles pensam sobre si, sobre as coisas, sobre o mundo, sem que eles sintam medo de dizer aquilo que eles pensam, é importante ter esse cuidado, de ter um diálogo horizontalizado.”
⚠️ Mas atenção! A profissional cutuca e deixa o aviso: “Só não dá para ser muito pontual. É algo que deve ser cultivado na nossa relação ao longo do tempo.”
A nossa história de relação com a criança deixa marcas. Muita gente sabe disso, mas talvez se esqueça no dia a dia. É importante respirar, fazer uma pausa, ouvir, estar atento. 🫂💕
“O que vemos é um excesso de autoridade nas relações com as crianças. É claro que às vezes precisa da autoridade. Tem que cultivar a forma de não usar de forma desnecessária essa autoridade. E as crianças, pelo que observamos, elas respondem bem quando percebem que estão diante de um adulto atípico”, ou seja, alguém aberto a ouvir, acolher e cuidar da relação e da criança.
Esperamos que o texto e as dicas da psicóloga Érica Nayla Teibel tenham ajudado. Agora, caso sintam ou percebam que está um pouco mais difícil, considere procurar o auxílio de um profissional. 😉
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Fonte: leiturinha