A autora sul-coreana Han Kang venceu o Prêmio Nobel de Literatura 2024, por “sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”, conforme anunciado pela academia Sueca. O vencedor foi revelado na manhã desta quinta-feira, (10).
Tradicionalmente, os organizadores do prêmio ligam para o escolhido antes do anúncio oficial. Quando recebeu a notícia, a autora estava tendo um dia comum, e tinha acabado de jantar com seu filho.
O Nobel de Literatura é concedido a um autor pelo conjunto da obra. Os laureados recebem, além da tradicional medalha e do diploma, o valor de 11 milhões de coroas suecas, cerca de R$ 5,9 milhões.
Nascida em 27 de novembro de 1970 em Gwangju, na Coreia do Sul, Han Kang se mudou com a família para Seul aos 9 anos. Seu pai, Han Sung-won, é professor universitário e romancista, tendo a influenciado.
A autora estudou literatura coreana na Universidade Yonsei e trabalhou por três anos como jornalista. Na literatura, começou em 1993, publicando poemas em uma revista local voltada para temas de literatura e sociedade. Dois anos depois, lançou o conto Love of Yeosu, passando a se dedicar à prosa.
Han Kang ficou mundialmente conhecida pela obra A Vegetariana, de 2007. O livro, escrito em três partes, acompanha a decisão da protagonista Yeonghye de não comer mais carne, por conta de um sonho. A escolha acaba distanciando a mulher das imposições às quais foi submetida pelo marido, a família e a sociedade ao longo da vida.
Em uma entrevista ao The New York Times sobre a obra, Han disse que o romance surgiu, em parte, de sua fascinação pelo levante de Gwangju em 1980, quando manifestações pró-democracia tornaram-se sangrentas após tropas do governo atacarem os manifestantes. Apesar de ter apenas 9 anos na época, o evento moldou, em grande medida, seu entendimento da capacidade humana para violência – e também para o sacrifício pessoal e compaixão, afirmou ela.
A Academia Sueca destaca que “o trabalho de Han Kang é caracterizado por uma dupla exposição de dor, uma correspondência entre tormento mental e físico com conexões próximas ao pensamento oriental”.
Por empregar um estilo poético e experimental, a autora se tornou um nome inovador na prosa contemporânea, justificando a escolha. Han também tem ligação à arte e à música, que refletem em elementos de sua produção literária.
A Vegetariana, Atos Humanos e O Livro Branco são os títulos da autora sul-coreana que já ganharam tradução para o português, todos publicados no Brasil pela editora Todavia.
Entre os mais cotados deste ano estavam Can Xue, Gerald Murnane, Haruki Murakami, Margaret Atwood, Thomas Pynchon, César Aira e Salman Rushdie – os favoritos nas casas de apostas britânicas. Outros palpites frequentes nos últimos anos foram Alexis Wright, Mircea Cartarescu, Ngugi wa Thiong’o, Yoko Tawada, Anne Carson e Liudmila Ulítskaia.
Em 2023, o vencedor foi o norueguês Jon Fosse, por “suas peças e prosas inovadoras que dão voz ao indizível”, segundo a Academia Sueca. O escritor e dramaturgo de 65 anos ficou famoso pelo teatro, sobretudo na europa, sendo considerado um “Beckett do século 21”. Por volta de 2010, mergulha na literatura. São mais de 40 obras publicadas, entre peças, poesia, romances e ensaios.
No Brasil, os romances É a Ales e Trilogia foram lançados no último ano pela Companhia das Letras. Já a Fósforo publicou Brancura e A Casa de Barcos, além da antologia Poemas em Coletânea. Para 2025, a editora prepara Septologia, considerada a maior obra do autor.
A francesa Annie Ernaux, de 84 anos, foi a laureada em 2022 pela “coragem e agudeza clínica com que ela descobre as raízes, os distanciamentos e restrições coletivas da memória pessoal”.
Seus livros, quase sempre breves, mesclam autoficção e sociologia, partindo de experiências pessoais para tratar sobre relações familiares, aborto, violência, direitos das mulheres e preconceito de classe. Sua obra, com títulos como O Lugar, Os Anos e O Acontecimento, vem sendo publicada no Brasil pela Fósforo.
– Jon Fosse (2023)
– Annie Ernaux (2022)
– Abulrazak Gurnah (2021)
– Louise Glück (2020)
– Peter Handke (2019)
– Olga Tokarczuk (2018)
– Kazuo Ishiguro (2017)
– Bob Dylan (2016)
– Svetlana Aleksiévitch (2015)
– Patrick Modiano (2014)
– Alice Munro (2013)
– Mo Yan (2012)
– Tomas Tranströmer (2011)
– Mario Vargas Llosa (2010)
– Herta Müller (2009)
– Le Clézio (2008)
– Doris Lessing (2007)
– Orhan Pamuk (2006)
– Harold Pinter (2005)
– Elfriede Jelinek (2004)
– J.M. Coetzee (2003)
– Imre Kertész (2002)
– V.S. Naipaul (2001)
(Com Agência Estado)
Fonte: hnt