O colunista Bruno Meyer mostra que o terremoto da Americanas começou na noite de quarta-feira 11 de janeiro, quando o executivo Sérgio Rial anunciou que deixaria o cargo de CEO da varejista apenas nove dias depois de assumir a posição máxima do organograma. “Ele substituíra Miguel Gutierrez, com 29 anos de empresa”, explicou Meyer, em reportagem publicada na Edição 150 da Revista Oeste. “A entrega de bastão era o começo de uma jornada que prometia e tinha gerado expectativa por parte dos investidores — Rial, oriundo da presidência do banco Santander, modernizaria uma empresa vista como acomodada — e até por funcionários.”
No dia 3 de janeiro, Rial era o centro de uma transmissão ao vivo pela internet esbanjando otimismo. A cena era o oposto do que se veria na manhã da quinta-feira 12 de janeiro, horas depois de um comunicado anunciar seu afastamento e o encontro de “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões no balanço da empresa. A hecatombe foi imediata dentro e fora do mercado financeiro: fundos de investimentos com a Americanas na carteira perderam R$ 4,2 bilhões em apenas um dia. Em uma semana, as ações da empresa despencaram 80%, vendo sumirem de seu valor cerca de R$ 9,6 bilhões. E o pior ainda estava por vir: os R$ 20 bilhões anunciados por Rial se somaram a uma dívida bruta de R$ 19,3 bilhões, acrescidos de outros R$ 3 bilhões. Total: o rombo passou para mais de R$ 40 bilhões.
A situação culminou num pedido de recuperação judicial, aceito pela Justiça, o que a protege de pagar credores durante 180 dias. Para ter noção do valor do rombo da Americanas, ela é a soma do valor de mercado de empresas nacionais, como GOL, Via, Marfrig, Fleury, Sanepar e Taesa. Quer piorar? Na noite da quarta-feira 1°, a equipe de administração judicial do processo de recuperação verificou que a dívida total do grupo é ainda maior: R$ 47,9 bilhões. A diferença de R$ 6,6 bilhões foi encontrada pela equipe que fez um pente-fino na lista de dívidas e credores.
O escândalo Americanas impressiona pelo tamanho do rombo, pelas variadas perguntas ainda sem resposta e pelos estragos que provocou nos mais variados setores da economia: dos bancos (só o Bradesco tem R$ 4,8 bilhões a receber) aos gigantes de tecnologia (Apple, com R$ 98 milhões), dos fabricantes de chocolates (Nestlé, com R$ 259 milhões) aos de eletrônicos (Samsung, com R$ 1,2 bilhão). Também chama atenção a velocidade do aparente desmoronamento. Só nos últimos dias, a varejista cortou contratos de terceiros e encerrou as televendas. Dois dos fornecedores de setores diferentes confirmaram à reportagem como anda a relação com a marca: para sair com caminhões cheios de mercadorias, empresas agora exigem pagamento no ato, e com valor exato da nota fiscal. Acabou a história dos 180 dias para pagar — fatura que era paga, na maioria das vezes, pelos bancos.
Isso exige agora da Americanas dinheiro robusto no caixa, o chamado capital de giro, para arcar com todas as despesas de mercadorias, para não gerar outro problema, apontado por especialistas como provável: de operação, com produtos em falta nas gôndolas da empresa. “É uma situação muito difícil, que beira o irrecuperável”, analisa Junior Borneli, fundador da escola internacional de negócios StartSe e especialista na análise de companhias nacionais e estrangeiras. “Uma empresa, para se manter de pé, precisa de três pontos: a credibilidade, a venda e o fluxo de caixa”. Tudo o que a Americanas não tem mais. Faz um mês que a credibilidade da Americanas evaporou, e o fluxo de caixa virou miragem com a saída dos bancos. Consequência: queda das vendas. Afinal, quem vai comprar pelo site uma bicicleta para o filho sem a certeza da entrega?
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Revista Oeste
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Fonte: revistaoeste