Uma empresa de Três Rios, no Rio de Janeiro, é suspeita de revender carne estragada que foi encontrada submersa durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024.
Na última quarta-feira (22), a Polícia Civil, por meio da Delegacia do Consumidor, realizou uma ação da Operação Carne Fraca e prendeu uma pessoa em flagrante.
Mas quais são os riscos de consumir carne nessa condição? VivaBem ouviu especialistas para entender os impactos do consumo de carne estragada e como isso pode afetar a saúde.
Quais são os riscos de comer carne estragada?
Intoxicação alimentar é um dos principais perigos. “Carne estragada pode trazer uma intoxicação alimentar ou infecção, como salmonela, toxoplasmose ou até botulismo. Tudo isso pode causar vômito, diarreia, febre, dor muscular e fadiga, entre outros sintomas”, afirma Samuel Pompeu, nutricionista pela Universidade de Guarulhos e com pós-graduação em nutrição esportiva.
Carnes contaminadas por enchentes oferecem riscos adicionais. “Provavelmente estão contaminadas com lixo e metais pesados, o que pode levar a infecções gastrointestinais mais graves. Em contato com a água, elas acabam apodrecendo mais rápido”.
Carnes contaminadas e que passaram por enchentes podem levar à morte
Leptospirose está entre as principais preocupações. “Carnes em contato com água de enchente podem ser fonte de leptospirose, uma doença causada pela bactéria presente na urina de ratos e outros animais contaminados”, esclarece Pompeu.
Problemas gastrointestinais podem ser severos. “O risco de infecções gastrointestinais aumenta devido à presença de lixo e outros contaminantes na água, que são absorvidos pela carne”, explica Pompeu.
Exposição a metais pesados também é perigosa. A presença de metais pesados na água de enchente também é preocupante. Quando ingeridos, esses metais podem causar danos ao sistema nervoso e outros órgãos, reforça Pompeu.
Milhões de pessoas são afetadas todos os anos. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de uma em cada dez pessoas no mundo adoece anualmente ao consumir alimentos contaminados. Isso equivale a 600 milhões de indivíduos, com 420 mil mortes atribuídas a essas contaminações. No Brasil, a situação também preocupa – de acordo com o Ministério da Saúde, o país registra cerca de 700 surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTA) por ano.
Os sintomas aparecem rapidamente e casos graves podem levar à morte. Os sintomas das DTA geralmente surgem logo após o consumo do alimento contaminado, incluindo dor abdominal, diarreia, vômitos, náuseas, febre, tontura, dor de cabeça e perda de apetite. Em situações mais severas, as DTA podem causar desidratação, sangue na urina, fraqueza extrema e até mesmo levar ao óbito.
Como identificar carne estragada?
A cor da carne pode ser um sinal de alerta. “As carnes frescas normalmente têm uma cor vibrante, mas, quando estragadas, podem apresentar tons esverdeados, acinzentados ou marrons”, explica Pompeu.
Odor forte indica deterioração. “Quando deteriorada, a carne frequentemente apresenta um odor forte que arde o nariz, sinal de que a decomposição está avançada”, afirma José Marcelo Natividade, endocrinologista e metabologista do Hospital das Clínicas da FMUSP.
Textura pegajosa é outro sinal de alerta. “Textura pegajosa ou viscosa é outro indicativo de que a carne pode estar estragada. Nessas condições, não consuma, descarte imediatamente”, reforça Natividade.
Cuidado com o preparo da carne
Carnes cruas ou mal cozidas podem ser perigosas mesmo que em bom estado. O consumo de carnes vermelhas e aves cruas ou mal cozidas é um risco para a saúde. “A carne crua geralmente causa uma intoxicação alimentar mais grave, com grande número de sintomas, como febre prolongada, dor abdominal e diarreia. Geralmente, nesses casos, a pessoa precisa de uma internação hospitalar”, explica Vanessa Prado, médica especialista em cirurgia do aparelho digestivo do Hospital 9 de Julho em entrevista ao VivaBem.
Bactérias patogênicas são a principal ameaça. Alimentos crus podem conter micro-organismos como Escherichia coli, Salmonella e Staphylococcus aureus, que causam intoxicações alimentares. Esses agentes podem provocar sintomas graves, como vômitos, febre e diarreia, podendo levar até à morte em casos extremos.
Cozinhar é a solução para eliminar principais riscos. A boa notícia é que cozinhar ou ferver a carne (em bom estado, claro) elimina as bactérias e neutraliza substâncias tóxicas. Portanto, garantir o preparo adequado é essencial para preservar a saúde e evitar problemas.
Comeu carne estragada? Monitore sinais e procure ajuda médica
Náuseas e febre podem indicar intoxicação alimentar. “Sinais como náuseas, vômitos, febre e diarreia podem indicar intoxicação alimentar. Caso persistam ou se agravem, procure atendimento médico imediatamente”, orienta Natividade.
Sintomas graves exigem atenção médica urgente. “Especialmente em casos de sintomas graves ou persistentes, como febre alta e dores intensas, é importante não ignorar os sinais. Procure um médico para evitar complicações”, finaliza Pompeu.
Repor líquidos é essencial durante o quadro. Durante uma intoxicação, a hidratação é fundamental para repor os líquidos perdidos e evitar a desidratação, especialmente em casos de vômito e diarreia.
*Com informações da Agência Brasil e de matéria publicada em 01/04/2020.
Fonte: uol