Kalymaracaya Nogueira e Paulo Machado, dois chefs de cozinha de Mato Grosso do Sul, representaram o Estado na posse de Lula no domingo, 1º de janeiro, em Brasília. A dupla fez parte do menu de jantar do evento. Chique, né?
“Fiquei muito contente! Uma honra!”, declara toda feliz a Kalymaracaya, dona do prato indígena “Ho’o xanena xupu”, mojica de mandioca com peixe.
A presença da chef no menu especial existiu graças a um encontro com Bela Gil, durante uma ação gastronômica envolvendo uma marca famosa de cerveja, realizado em outubro do ano passado, em São Paulo.
“Fizemos amizade, trocamos telefone. Ela disse: ‘Ainda vamos fazer um trabalho juntas!’. E foi muito especial porque era um evento que incentivava chef mulher. E lá eu soube que ela [Bela Gil] seria futura ministra e eu, nossa, pensei em como seria legal a profissão ser valorizada, ainda mais sendo mulher. Foi uma notícia maravilhosa!”, relembra a profissional.
“E lá também me falaram que seria uma oportunidade de me ajudar, já que a gastronomia indígena é esquecida no Brasil, né? E a Janja pediu um menu brasileiro. Fiz parte de um grupo, explicaram que seria um buffet à parte, no Itamarati, mas com a cara do Brasil”, completa Kalymaracaya.
O prato escolhido pela indígena foi o “Ho’o xanena xupu”, mojica de mandioca com pintado. A chef confessa que não era a ideia inicial, mas a receita deveria, além de ser bem cultural, conter produtos existentes no local da posse.
Aliás, todos os pratos do menu de Lula, Janja e as 2.500 pessoas presentes, foram à distância. Ou seja, os chef enviaram suas receitas e o passo a passo para os cozinheiros do Itamarati realizá-los. “Só fiquei na assessoria online, dando o passo a passo”, revela a chef.
“Tinha que ter essa logística de ingredientes, que eles fossem encontrados em Brasília. Pediram no dia 24 para o dia primeiro. Eu pensei em algo que contemplasse os indígenas, a mandioca, e ela é encontrada em todos os lugares. Não seria a nossa ‘original’, mas tudo bem. E o pintado tem lá”, detalha.
Cozinhar sempre foi o sonho de Kalymaracaya, que é formada em contabilidade. O curso de exatas foi concretizado com o desejo de sua mãe, contudo, a comida é o grande amor da indígena.
“Desde criança eu cozinha com a minha mãe, minha vó. Eu sempre quis ser cozinheira. Conhecimento é sempre bom, consegui me formar, até hoje faço uns trabalhos na área, mas o foco mesmo é a gastronomia indígena. E quem me ajudou muito foi Paulo Machado!”, declara Kalymaracaya.
Carreteiro pantaneiro
O grande amigo também está presente no famoso jantar de Lula, em Brasília. Para o belo menu, o chef escolheu um prato delicioso e muito presente nas casas dos sul-mato-grossenses: carreteiro.
“Muito legal! Bela Gil recebeu um pedido da atual primeira dama para reunir um time de chef de cozinha do Brasil, de diferentes biomas, regiões”, explica Paulo. O “arroz carreteiro com ovos e PANC’S” está no livro de receitas pantaneiras do chef.
Paulo explica que PANC’s significa Plantas Alimentícias Não Convencionais. “Eu sugeri: ora pro nobis, beldroega, serralha e dente de leão”, ressalta.
“Como um bom sul-mato-grossense que somos e pantaneiros do centro-oeste, a economia gira em torno da carne, né? A carne de sol é o que sustenta o pantaneiro dia a dia. É o orgulho do pantaneiro ter um pedaço de carne para servir no prato. É um prato simples, porém muito saboroso! A gente sabe o valor”, afirma orgulhoso.
“Enviei para o Palácio do Itamarati, o buffet deles fez a receita. Então a ideia era mostrar pratos do Brasil todo! E foi a primeira vez que vi um time tão grande”, admira Paulo.
“Embora eu não tinha ido pessoalmente, fiquei muito feliz. Mostrar um prato da cozinha pantaneira. Um dos meus trabalhos é levar para fora do Estado e para o mundo todo!”, diz todo contente.
Esse ano Paulo Machado, há 15 anos nesse mundo gastronômico, e que já conheceu mais de 20 países, está com o projeto “Brasil em Sabores”, no Japão.
“O principal objetivo da viagem é apresentar para os japoneses os ingredientes tradicionais do país, em especial do nosso Mato Grosso do Sul, e as técnicas da cozinha brasileira em toda a sua diversidade”, explica Machado.
“É um momento histórico para internacionalizar a cozinha brasileira e mostrar os nossos saberes para todo o mundo. Espero continuar fazendo isso”, finaliza Paulo.
Fonte: primeirapagina