O mar é fascinante, misterioso, imponente, desperta um misto de amor e temor naqueles que sabem reverenciá-lo. Há dias de mansidão profunda e outros que dizem estar bravo, revolto, agressivo… Mas, já perceberam uma coisa, a espuma do mar é sempre delicada, por vezes parece até um bordado de renda atirado na água. Creio então, que essa delicadeza foi influência decisiva no novo Naia Restaurante (Naia é espuma do mar em basco).
A inspiração do chef Tuca Mezzomo – segundo contou em nossa conversa um dia antes da inauguração, quando fiz a visita e tive a oportunidade de provar o cardápio – veio do seu tempo de faculdade de gastronomia em Balneário Camboriú (SC) e viagens pela Europa.
Tuca é um chef jovem, mas logo na estreia com seu primeiro restaurante, o imperdível Charco (#ficaadica visite!), mostrou a que veio.
Nascido em Passo Fundo (interior do RS), trouxe à mesa ingredientes de qualidade de pequenos produtores, mostrou um Sul contemporâneo, autoral; porém, sem deixar de valorizar sua história e relação com o fogo.
Ostras de Santa Catarina e Cananéia, Mexilhões e Salada de Caranguejo.
Naia Restaurante
Nesse seu segundo negócio na capital paulista, a proposta é completamente outra. Se o Charco é intimista, penumbra, madeira; o Naia é descontração, luz, água. Tanto que logo na entrada um tanque de 250 litros de água salgada abriga espécies marinhas vivas.
“Nossas conchas chegam, principalmente, do litoral de São Paulo e Santa Catarina” explica o chef.
Curioso com a novidade perguntei então, de onde veio a ideia da nova empreitada?
Das suas memórias dos tempos de faculdade de gastronomia em Balneário Camboriú (SC), quando pescadores traziam baldes de mariscos frescos, que viravam caldeiradas despretensiosas; comidas, sem cerimônia, acompanhadas de uma bebida.
Bem como, dos bares de ostras e frutos do mar que conheceu em diversas visitas a Paris. Locais que simplificam a cerimônia francesa à mesa. Bares, igualmente, vistos em Londres. Além de, é claro, cidades litorâneas ao redor do mundo.
Enfim, a proposta é uma descontração praiana na cidade grande!
Pastel de Lagosta
Bar de Ostras e Frutos do Mar + Restaurante
Dessa forma, quer que as pessoas passem por lá para um final de tarde, seja pra comer apenas ostras e petiscos acompanhados de um belo drink (já falaremos de outro sócio do Naia, o premiado bartender, Jean Ponce) ou então, para uma refeição completa com toque de grelha.
O cardápio é enxuto e muda de acordo com a vontade do mar.
“Valorizamos os pescados brasileiros com toda a qualidade e frescor do nosso litoral. Trabalhamos com um menu sazonal, servindo o que o mar nos traz de melhor”, conta Tuca.
Ricota Artesanal com Bottarga
Comece com as iguarias do Aquário. Entre elas ostras de Santa Catarina (R$44) ou de Cananéia (R$49). Mexilhões servidos com vinagrete cortado e temperado com maestria (R$34) ou a Salada de Caranguejo (R$46) que remete a um familiar e saboroso salpicão.
No capítulo Para Beliscar:
Pão e Ricota Artesanal com Bottarga (R$24) – a ricota é de uma leveza impressionante, quase uma textura de espuma. A bottarga, ova de peixe salgada e seca, tem sabor delicado e as raspas de limão trazem um cítrico desejável.
Os Pasteizinhos de Lagosta (R$42) tem fritura sequinha e recheio que preserva o sabor e a textura do crustáceo. Difícil é não comer vários! Delicadeza é a Flor de Abobrinha Recheada com Camarão Rosa (R$36).
Endívia, Creme de Vôngole e Molica
Da Grelha saem:
A imperdível Endívia, Creme de Vôngole e Molica (R$32). O vegetal caprichosamente defumado, ganha um aveludado creme de vôngoles e textura crocante da Molica (farinha de pão).
Bem como, a inusitada Couve-Flor defumada servida com um gelatinoso Roti de Algas e raspas de Bottarga (R$32).
Pratos Principais
São dois difíceis de escolher:
Arroz Pegado de Polvo (R$84) – arroz preparado com fundo intenso de sofrito caramelizado com cebolas e temperos, encorpado com guanciale (bochecha) e pé de porco.
Servido com polvo cozido e depois grelhado para ganhar toque defumado. A combinação perfeita já conhecida de porco e polvo, acrescida do sabor tostado do arroz pegando na panela.
Peixe do Dia com Ervas (R$76) – na minha visita, o que o mar havia oferecido para o Naia Restaurante foi o Beijupirá. Que peixe! Carnudo, posta alta de textura firme e carne branca.
Foi pescado no litoral do Rio de Janeiro, mas é um peixe que ocorre no Brasil do Amapá ao Rio Grande do Sul. Gosta de águas mais quentes e alimenta-se de outros peixes, crustáceos e lulas.
“Contamos com parceiros que mapeiam pescadores locais, privilegiando a pesca sustentável e responsável”, explica o chef que utiliza, basicamente, peixes do litoral de São Paulo e Rio de Janeiro.
Sobremesa
A sobremesa quando você lê no cardápio não dá nada por ela, mas te digo: Prove e Seja Feliz! Gostinho de infância de praia.
O Picolé de Manga com Maracujá (R$24) é um sorbet pura manga madura, mergulhado em manteiga de cacau com sementes de maracujá, regado com calda de maracujá. Obra da chef confeiteira Juliana Coladela.
Drink Naia
Carta de Drinks
Ir ao Naia Restaurante e não provar os drinks do Jean Ponce é perder parte da sua essência.
Ponce, premiado bartender do famoso Guarita Bar, agora também sócio no Naia, preparou drinks que fogem do lugar comum, evocando o frescor da brisa marítima (traduzida em acidez) e o toque salgado que remete ao mar.
A carta enxuta carrega, igualmente, a proposta sazonal do restaurante.
Na onda dos drinks menos alcoólicos e homenageando o nome da casa, o Naia (R$38) leva apenas 30ml de álcool.
Na composição: Jerez Manzanilla, Gin Nordés (preparado com Uvas Alvarinhas), o azedinho do Maracujá e Espuma de Água do Mar (feita na casa com tônica, limão, sal e amor; segundo me contou o Jean). Pra finalizar raspas de cambuci.
O São Elmo (R$38) leva St.Verge, destilado orgânico de pera asiática produzido pela Weber Haus em Ivoti no Rio Grande do Sul + Concentrado de Abacaxi, Mel de Abelhas Nativas, Gotas de Balsâmico e Sal Negro. Drink refrescante, cítrico, que dá vontade de continuar bebendo.
Preparado com Gin Brasileiro YvyMar, que possui na composição alga kombu + Redução de Framboesa com Hibisco concentrado, que avermelham o drink + Gotas de Amargor para alcançar o Equilíbrio e Amor; o Mar Vermelho (R$36) é mais uma boa pedida para acompanhar os pratos do Naia.
Coquetel “comestível”
Será possível um coquetel te passar a impressão de ser comestível? Claro que sim! O Gyro (R$38), por exemplo, é pra ser bebido aos pequenos goles, como se fossem colheradas.
Feito com Creme de Cupuaçu é uma bebida densa sem ser pesada, que leva ainda Blend de Bourbon com Rum, Concentrado de Mate e Folhas de Hortelã.
Falando em comestível, chegamos então ao Jereza (R$40). Preparado com Jerez, Aguardente infusionada com Folhas de Tangerina e Vermute Riesling. Chega “tampado” com uma concha que traz em seu interior Folha de Alga Marinha e Castanhas de Caju torradas.
Enfim, vá com um apetite curioso! Combine, experimente, vivencie a proposta que o Tuca e o Jean elaboraram com tanto cuidado!
Naia Restaurante – serviço completo acesse
Aliás, pra sua informação com relação a pratos e preços, a visita aconteceu em 30/06/2021
Fonte: cuecasnacozinha