Em sua primeira versão, ela era maior que um pires para xícara e nada macia. Agora está menor, mas ainda preserva o sabor resultante da mistura de trigo, água e sal. É a Bolacha Pantaneira, um quitute que faz parte da história Corumbá, a cidade que completa 245 anos de fundação nesta quinta-feira (21).
Quem vive distante da cidade, com pouco mais de 96 mil habitantes, dificilmente conhece a bolacha e pensa até se tratar do pão sírio pelas semelhanças físicas entre os dois alimentos, mas os corumbaenses sabem que há diferenças no sabor e na textura desses quitutes.
Memória afetiva
A dona de casa Sheila de Paula Monteiro, de 62 anos, conta que a bolacha sempre fez parte do cardápio da família. ” A gente morava na fazenda e levava a bolacha naqueles sacos brancos de algodão que usavam antigamente”, diz.
Em fazenda todo mundo comia essa bolacha. Ela era dura, não estragava, não embolorava nem nesse tempo quente de Corumbá. A gente não vinha tão fácil na cidade, então a gente levava a bolacha”.
Sheila lembra do sabor da bolacha que comia na infância e percebe diferenças nas comercializadas atualmente. “Várias padarias fazem, mas fazem macia demais. A bolacha pantaneira não é macia. É muito dura. A gente molhava no chá ou no café com leite”.
Quem também tem lembranças da Bolacha Pantaneira é o operador de máquinas, Aládio Neto, de 37 anos, que hoje mora em Costa Rica, a mais de 700 quilômetros de distância de Corumbá, onde nasceu.
“Quem ensinou a comer foi a minha a avó. Sempre que a gente ia na casa dela tinha. A lembrança que eu tenho é isso”, diz. Ele lembra até de alguns detalhes que ela contava.
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De Pantaneira a Pantaneirinha
Renata de Oliveira é proprietária de uma padaria onde as bolachas pantaneiras são comercializadas há anos.
“A bolacha Pantaneira é fabricada de maneira muito, muito simples, o ingrediente dela é só trigo, água e sal. Ela é feita com tão pouquinho ingrediente, mas tem um saborzinho que faz um sucesso, né? Não tem segredo nos ingredientes dela, é a preparação de quem faz. Saber a dosagem de cada um é o que traz o sabor e a crocância da Pantaneirinha”, declara.
O fato de ela usar o nome do quitute no diminutivo tem motivo é que o tamanho da bolacha diminuiu com o passar dos anos. “Temos na Italian Coffee hoje a pantaneirinha, a pequena. Aquela bolacha, a pantaneira, grandona, a gente fazia, mas já tem algum tempo que nós não fazemos. As pessoas mais antigas que gostavam, aqueles mais velhinhos da fazenda, que curtiam realmente a bolacha, a pantaneira, a grandona”, diz.
Atualmente, ela comercializa a bolacha em tamanho reduzido, mas sem alterar a receita. “A pantaneirinha mini é um sucesso de todo o público, não só dos antigos”, comenta.
Questionada sobre as melhores combinações com a bolacha, Renata comenta que “ela combina com com patê. Aí dá para tomar com cafezinho, com suco, com refrigerante, com chá. Ela é apreciada muito com chá, porque os corumbaenses gostam de chá. Apesar de ser uma cidade muito quente, os corumbaenses gostam de chá mate”.
Renata concorda que a tradição da bolacha tenha se perdido um pouco, mas comemora que a Pantaneirinha ainda tenha espaço. “Continuou na mesa, no cardápio dos corumbaenses”, diz.
Segundo ela, na padaria, a bolacha é feita duas vezes na semana e a procura é grande. “Tem gente que não mora aqui e pede para os parentes levarem, muita gente faz encomenda”. Ela cita um cliente que mora em Campo Grande e fez uma encomenda recente da bolacha porque não a encontra na Capital.
“A Pantaneirinha já foi até para o Rio de Janeiro. Então é isso, é tradicional mesmo. A bolacha pantaneira nós não estamos fazendo mais, mas a pantaneirinha que é a filha dela, uma bolachinha bem crocante, pequenininha e crocante, essa sim é sensação”, diz.
Fonte: primeirapagina