Desde sua chegada ao Brasil, a Netflix tem feito um bem-vindo esforço em criar produções originais no país. Além dos filmes nacionais que integram o catálogo da plataforma, há anos diversos longas, séries, programas e desenhos feitos aqui, pela própria empresa, pipocam com uma boa frequência no streaming.
Parte deste movimento “Mais Brasil na Tela”, a mais nova produção da marca é Sem Filtro, série criada por João Paulo Horta, realizador conhecido por roteirizar projetos como Pai em Dobro, Vai que Cola e Minha Mãe é Uma Peça 3. A produção é de A Fábrica, que tem créditos em Filho da Mãe, Minha Vida em Marte, Mais Cor Por Favor, entre outros.
Sem Filtro
A trama acompanha Marcely Menezes, vivida pela humorista pernambucana Ademara Barros. Frustrada com os estudos, ela tranca a faculdade para se lançar na, aparentemente, próspera e fácil carreira de influenciadora digital, mas nem tudo são flores.
Por mais que seu jeito espontâneo e – realmente – sem filtro de ser atraia muitos seguidores, curtidas e compartilhamentos, tanta sinceridade acaba atraindo muitas confusões no pacote. Apesar da empolgação e das vantagens que vieram, de uma hora para a outra, junto com a fama, a jovem acaba descobrindo o lado não tão radiante do estrelato, incluindo notícias desagradáveis e tretas.
Agora, Marcely precisará lidar com os dilemas do mundo digital e, também, com as questões da vida real, já que o restante da família Menezes, junto com seus amigos, acabam se envolvendo nas desventuras digitais da mais nova influencer.
Elenco em sintonia
Com o elenco liderado por Ademara, a produção ainda conta com nomes como Mel Maia (Avenida Brasil), Flávia Reis (Não Vamos Pagar Nada), Orã Figueiredo (Tapas & Beijos), Pedro Ottoni (Vale Night), Maicon Rodrigues (Nos Tempos do Imperador), Luisa Perissé (O Diário de Tati), Sandra de Sá e Thamirys Borsan.
Um dos maiores ganhos de Sem Filtro é juntar esse time de atores, entre novatos e veteranos, para fazer diferentes tipos de comédia. Enquanto há no próprio texto sequências que farão o público rir, todos os artistas adicionam trejeitos e movimentações que engrandecem qualquer cena.
Além disso, por se tratar de uma série familiar, o entrosamento dos atores é palatável desde o início, algo que colabora com a imersão na trama. É o tipo de série que se sustenta no carisma de seus atores e personagens, principalmente porque funcionam muito bem juntos, mas sempre há algo novo para se desenrolar entre a vivência caótica proposta pelo enredo.
Obviamente, em alguns momentos piadas podem não pegar a audiência, mas em um projeto desta magnitude, com uma bela sequência de acertos, esse tipo de questão passa despercebida.
Linguagem
Sem Filtro é, como seu próprio nome já indica, uma atração que interage constantemente com a tecnologia, com o universo das redes sociais. O roteiro está tomado por referências a memes novos e antigos, bordões vistos diariamente na internet e uma linguagem rápida que acompanha a juventude que vive ligada no Instagram, TikTok, BeReal, Twitter e afins.
Há diversas produções atuais que tentam emular essa linguagem. Na TV Globo, por exemplo, a autora de Travessia, Gloria Perez, foi criticada por não saber conduzir algumas falas da personagem Chiara, vivida por Jade Picon, que seguem esse estilo de diálogo.
Na série da Netflix, há naturalidade neste sentido e o formato se torna cotidiano durante os dez episódios. Mediante a diversas sequências, sejam elas absurdas ou apenas carregadas pelo carisma das personagens, esse tipo de sacada agrada mais do que poderia irritar. Afinal, esse dialeto memético não é exclusivo do virtual. De fato, as pessoas falam “arrastou para cima” ou “foi de base” em situações corriqueiras. Não que essas expressões estejam, necessariamente, dentro da série
Narrativa simples, ágil e encantadora
Outro mérito da aventura de Marcely está em algumas discussões tratadas na trama. Nada muito novo por aqui, mas todas elas tentam subverter algum clichê de comédias românticas – da busca pelos sonhos impossíveis até arquétipos de famílias de classe média.
As pessoas têm suas vidas abaladas a partir da mudança da protagonista e, a partir daí, tentam driblar as situações provocadas pela mais nova influencer da pequena cidade. A criação desses personagens tão críveis, que farão o público lembrar de conhecidos ou amigos do bairro, também é motor da conexão com Sem Filtro. Da presidenta da associação do bairro ao alegre dono do mercadinho da esquina, todos eles orbitam esse universo colorido de Ararinhas de maneira muito orgânica.
O mesmo funciona com o núcleo jovem, que é diverso, desconstrói alguns estereótipos, é referente à geração que pertencem e ultrapassa antigos tabus que, ainda bem, estão na rota da naturalização dentro do cinema e da TV neste momento.
Sem receio de entregar uma deliciosa farofa, Sem Filtro apresenta uma história tipicamente brasileira, com elementos de comédias românticas de sucesso, que utiliza os personagens e a locação de forma harmoniosa, eficaz e leve. Nesta primeira temporada, são dez episódios com aproximadamente 30 minutos cada.
Fonte: adorocinema