“Moria. Você está com medo de entrar nessas minas, não é, Gandalf? Os Anões cavaram muito fundo e com muita ganância. Você sabe o que eles despertaram na escuridão de Khazad-dûm? A sombra e a chama.” Assim Saruman (Christopher Lee) se dirigiu a Gandalf (Ian McKellen) em O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel (2001), quando o mago cinzento estava prestes a cruzar as minas de Moria contra sua vontade.
Essa passagem escrita por J.R.R. Tolkien, que antecipa o famoso cara a cara de Gandalf com o terrível Balrog, também encontra um eco particular no 4º episódio de Os Anéis de Poder, série original do Amazon Prime Video. Nele, descobrimos que o príncipe Durin IV (Owain Arthur), opondo-se à vontade e à prudência de seu pai, realizou grandes obras em Khazad-dûm. Durante a Segunda Era da Terra-média, vale lembrar, o reino dos Anões vivia seu apogeu.
Mas qual é o verdadeiro objetivo de Durin com esse projeto? Extrair um minério totalmente novo, ainda mais precioso do que o ouro, e que os fãs de O Senhor dos Anéis conhecem bem: o mithril. Ele foi usado na roupa de proteção que Bilbo Bolseiro (Martin Freeman/Ian Holm) ganhou e que, mais tarde, entregou a Frodo (Elijah Wood) como herança.
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Diante dos últimos acontecimentos, podemos supor que é justamente esse local de escavação – já instável, como acompanhamos no episódio – que estará na origem de um futuro e gigantesco desastre: a libertação do Balrog e a ruína da morada dos Anões.
Embora tal evento catastrófico tenha ocorrido somente no ano de 1980 da Terceira Era, é possível que o seriado o apresente mais cedo do que o esperado. De fato, um dos trailers de Os Anéis de Poder nos sugeriu a presença de um Balrog na 1ª temporada.
Dito isso, pode ser que os Anões ainda tenham um futuro brilhante pela frente antes de despertar “a sombra e a chama”. Esperamos que sim, pois há muito a se ver de Khazad-dûm e de sua evolução arquitetônica até os filmes dirigidos por Peter Jackson.
Como o designer de produção Ramsey Avery explicou recentemente ao IndieWire, antes de cavar com muita avidez o povo de Durin esculpiu a rocha com reverência. “Boa parte do trabalho de John Howe e Alan Lee era imponente, geométrica e monumental”, disse, referindo-se a dois dos ilustradores mais reconhecidos da obra de Tolkien.
“No entanto, consegui encontrar uma série de ilustrações entre os esboços deles em que a arquitetura dos Anões dava essa sensação de ter sido trabalhada na pedra. Onde havia uma coluna que saía e se transformava em pedra novamente montanha acima”, continuou Avery.
“São formas que eu quis trazer na nossa representação de Khazad-dûm. Deveria haver esse respeito pela montanha, pelas formas da montanha, pelo trabalho da pedra, ao invés de mostrar coisas enormes”, completou.
Rigor e precisão no lugar de excesso: assim foi concebido o reino dos Anões. Resta saber por quanto tempo eles manterão sua arte antes de serem corrompidos pela mania de grandeza, causando sua própria queda.
Os próximos episódios de Os Anéis de Poder – são oito ao todo – serão lançados semanalmente, toda sexta-feira.