Assim como aconteceu com o personagem Corlys Velaryon em House of the Dragon, a questão da diversidade em O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder já causou bastante burburinho nas redes sociais. De fato, a série original do Amazon Prime Video optou por confiar a atores não-brancos papéis de destaque na Terra Média, cuja Segunda Era serve como pano de fundo para a nova aventura. Elfos, Anões, Homens, Pés-Peludos, Orcs – espere encontrar essas e muitas outras criaturas das mais diversas raças.
Porém, a representatividade no elenco gerou dúvidas e críticas nas redes sociais por supostamente ser incompatível com o universo de J.R.R. Tolkien. Em entrevista ao AlloCiné, Romain Beis – gerente do canal LeStream no Twitch, fundador do site Le Grand Pop e expert no autor inglês – defendeu o fator multiracial e lembrou: “O próprio Tolkien escreveu sobre povos humanos em particular de cores diferentes. Estou pensando nas regiões de Harad ou Rhûn. Isso deve ser entendido.”
“Com Tolkien, é precisamente a diversidade diante do Mal que cria soluções”, continuou o especialista. “Então, é completamente contraditório com seus escritos se recusar a ter atores de várias origens para encarnar seus personagens.”
Segundo Beis, reações negativas à pluralidade de Os Anéis de Poder se dividem em dois tipos:
Há aqueles que fizeram uma rejeição total de atores de cor – isso se chama racismo – e aqueles que conhecem o mundo de Tolkien e que apenas perguntam o porquê. A partir do momento em que é explicado e justificado, não há mais problema com estes últimos.
Afinal, como pontuou Beis, a mitologia de Tolkien é extremamente detalhada. “De todos os mundos em que pudemos mergulhar, é um dos mais precisos. Por quê? Porque existe uma etimologia por trás do simples nome de um personagem. Nada é gratuito. O nome de um rio tem um significado e, se existe, não é por acaso.”
O ator negro Lenny Henry, que interpreta o pé-peludo Sadoc Burrows, elogiou recentemente a diversidade presente no seriado. “Claro, se você voltar no tempo, há o cânone imposto pelos livros e o que eles não dizem, embora existam vários personagens descritos como tendo pele escura. Mas isso já passou. Estamos contando essa história hoje”, disse ao jornal The Times.
Vale lembrar que a “polêmica” surgiu devido à escalação do porto-riquenho Ismael Cruz Córdova como o elfo Arondir e da britânica Sophia Nomvete, também negra, como a princesa anã Disa. O expert em Tolkien rebateu os ataques aos dois atores, usando como argumentos informações contidas nos próprios livros.
Os Anões vistos em O Senhor dos Anéis e em O Hobbit pertencem todos à mesma família: do rei Durin I. No entanto, em seus textos, Tolkien explica que existem ao todo sete famílias anãs. “Nós só tínhamos visto uma. Quem garante que nas outras seis não há anões de pele escura?”, provocou Romain Beis.
“Tolkien nunca escreveu isso, mas ele não negou nem confirmou. Então, não vejo problema em ter uma princesa que vem de outro reino. Por outro lado, se for dito que ela vem do povo de Durin, posso entender que isso levanta questões sobre a justificativa. É exatamente isso que a série precisa esclarecer.”
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“Só quero que alguém me explique por que ele está ali”, comentou Beis a respeito de Arondir. “Mas não quero que ninguém justifique ter um personagem de cor. Eu só quero saber. Da mesma forma que quero saber como Galadriel se tornou líder dos exércitos se nos havia sido apresentada como uma sábia.”
“Ter diversidade não é um problema. Mas é um universo tão rico que é preciso respeitar as especificações. Vamos esperar e ver de onde eles vêm, qual é a história deles, antes de gritarmos qualquer coisa”, finalizou o especialista.
Os dois primeiros episódios de Os Anéis de Poder já estão disponíveis no catálogo do Amazon Prime Video.