Em 1982, Steven Spielberg triunfava nas bilheterias mundiais com E.T. – O Extraterrestre. Foi também nesse ano que o escritor australiano Thomas Keneally publicou um livro baseado na história real do empresário nazista que salvou cerca de 1.200 judeus do Holocausto. Uma história que comoveu Spielberg ao ponto de querer adaptá-la para o cinema. Onze anos depois, A Lista de Schindler faria sua estreia nas telonas e se tornaria um dos melhores filmes de todos os tempos.
No início, porém, Spielberg não se sentia emocionalmente pronto para comandar o projeto, de modo que tentou confiá-lo a outros cineastas. Primeiro foi Roman Polanski, que recusou por ser uma história muito próxima à dele, tendo escapado ainda criança do gueto de Cracóvia enquanto sua família era exterminada em Auschwitz. Spielberg então pensou em Billy Wilder, que havia lançado o último longa de sua carreira um ano antes (Amigos, Amigos, Negócios à Parte).
Um terceiro nome foi cogitado por Spielberg: o de Martin Scorsese. A princípio, ele parecia interessado, mas acabou rejeitando a oferta por acreditar que a obra deveria ser realizada por um judeu. Quem reviveu o caso foi o próprio Scorsese, que neste sábado (20) apresenta no Festival de Cannes seu novo filme Killers of the Flower Moon, estrelado por Leonardo DiCaprio, Robert De Niro e Brendan Fraser.
“Para A Lista de Schindler, contratei Steven Zaillian, e nós dois estávamos trabalhando no roteiro. Eu estava pronto para dirigi-lo”, contou em entrevista ao Deadline. “Mas admito que tinha minhas dúvidas. Era 1990, eu tinha acabado de filmar A Última Tentação de cristo [1988].”
“Lembro que Spielberg, ao longo dos anos, continuou me contando sobre o livro. Ele me mostrou quando estávamos no avião para Cannes e me disse: ‘É o meu futuro grande filme. Vou dirigi-lo.’ E eu respondi a ele: ‘Bem, eu tenho A Última Tentação de Cristo do meu lado, e eu também vou fazê-lo.'”
“Na época, eu ficava dizendo: ‘Não sou judeu!’ O que eu queria dizer é que a história tinha que ser contada por um judeu, e acho que Spielberg concordou comigo”, prosseguiu Scorsese.
“Ele me disse que havia apenas 200 judeus em Phoenix [arizona, EUA], onde ele havia crescido. Eu não podia acreditar. Eu mesmo venho do Upper East Side [Nova York] e cresci com essa comunidade. Eu não era altruísta, fazia sentido ele assumir o projeto. Eu tinha medo de não estar à altura.”
“Quando você viu o resultado, como se sentiu?”, perguntou o jornalista. Ao que Scorsese respondeu: “Eu tinha várias ideias, a maioria das quais acabou no filme [de Spielberg]. Eu tinha até um final diferente. No entanto, se eu tivesse dirigido, não teria feito tanto sucesso. Tenho grande admiração por seu filme.”
Com Liam Neeson, Ralph Fiennes e Ben Kingsley no elenco, A Lista de Schindler concorreu a 12 estatuetas do oscar e levou 7 – entre elas Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado.
Fonte: adorocinema