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Cinema

Filme A Mãe é destaque no Festival de Gramado e atriz relembra gravações: “Uma das cenas mais fortes que já vivi” (Entrevista Exclusiva)

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O Festival de Cinema de Gramado, uma das maiores celebrações culturais do país, acontece até 20 de agosto e traz dezenas de produções nacionais e internacionais para competir pelo troféu Kikito. Em 2022, um dos grandes destaques é A Mãe, longa estrelado por Marcélia Cartaxo (Pacarrete) que, apesar de ser uma obra de ficção, traz a vida real diretamente para dentro das telas: em entrevista ao AdoroCinema, a atriz conta que o filme a fez viver um de seus momentos mais fortes na carreira como atriz, que começou em 1985, com A Hora da Estrela, adaptação do romance de Clarice Lispector.

A Mãe acompanha a história de Maria (Marcélia Cartaxo), uma mulher que vive na periferia paulista com o filho, Valdo (Dustin Farias). Quando o adolescente desaparece em circunstâncias aparentemente inexplicáveis, Maria inicia uma busca que coloca sua própria segurança de risco e a coloca tanto da polícia, quanto do crime organizado. A trajetória da protagonista reflete uma realidade conhecida por incontáveis mães brasileiras, vítimas de questões sociais — da desigualdade à falha do sistema de segurança pública —, que tornam a violência um elemento enraizado em suas vidas.


A Mãe

Para Marcélia, o filme é grande uma ferramenta para levantar debate e tocar em pontos frágeis dos sociedade. “As questões sociais do Brasil são profundamente descabidas, são esquecidas rapidamente, camufladas. Temos que tocar na ferida o tempo todo e com a função de atriz, de representar a arte, isso cabe muito bem. A gente pode tocar em algumas coisas que as pessoas não querem, enxergar as dores dos outros e ajudar na luta pela igualdade e pela democracia. Esse é um momento de muita luta”, analisa.

Para ajudar a contar a história de A Mãe, o longa faz uma ponte direta com a realidade através da participação de Débora Maria da Silva, fundadora do Mães de Maio, movimento formado pelas famílias das vítimas dos ‘Crimes de Maio’, onda de conflitos violentos que, em 2006, fez mais de 600 vítimas – entre assassinados e desaparecidos. No longa, há uma cena comovente entre a personagem de Marcélia Cartaxo e Débora, que perdeu seu filho naquele ano.

“Foi uma das cenas mais fortes que já vivenciei. Uma coisa é a gente representar essa dor, outra é estar de frente com essa mãe, com a dor dela. [Na cena] é ela me chamando para a luta, isso me emocionou bastante”, contou a atriz. Em coletiva de imprensa realizada no Festival de Gramado, Débora falou sobre o longa como forma de retratar e denunciar problemas reais e apontou o trabalho de Marcélia como representação dolorosa, mas verdadeira.

“Nós, mães, ficamos com a culpa da resposta que não temos. Uma mãe não está preparada para enterrar o filho, para esse desaparecimento forçado. O cinema multiplica esse grito porque estamos falando de um massacre de mais de 600 jovens, de chacinas. Nós não somos números e nem parimos números (…) Temos uma segurança pública falida, que cresce em cima de corpos negros, pobres”, afirma.

 

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