Gostaria de começar este texto expressando meu espanto com o que estou prestes a lhe contar, mas, infelizmente, isso também pode não chocar ninguém. Na verdade, não é segredo algum: a indústria cinematográfica tem um lado tremendamente tóxico, com algumas dinâmicas de poder realmente preocupantes que estão arraigadas há muito tempo, especialmente – mas não apenas – em Hollywood.
O pão de cada dia
Um novo exemplo disso é o incidente homofóbico que Elliot Page registrou em seu livro de memórias Pageboy. No capítulo intitulado Famous Asshole at Party (Babaca famoso em uma festa), o ator relembra como em 2014, quando se identificava como lésbica antes de seu processo de transição de gênero, outro artista de destaque a agrediu verbalmente durante uma festa de aniversário em Los Angeles.
“Você não é gay. Isso não existe. Você só tem medo de homens. Eu vou transar com você para que você perceba que não é gay”. Essas foram as palavras exatas que o homem proferiu antes de, alguns dias depois, reencontrar Page na academia e tentar pegar o fio da meada com um “Não tenho problemas com gays, juro”. Certamente, um par de frases mais reconhecível do que muitos de nós gostaríamos.
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A estrela de The Umbrella Academy continuou explicando a triste anedota, fazendo alusão à realidade vivida por pessoas queer e trans.
Já vivi várias versões disso em minha vida. Muitas pessoas queer e trans lidam com isso constantemente. Esses momentos sobre os quais muitas vezes não falamos ou que devemos ignorar, quando na verdade são horríveis. Incluí essa história no livro porque se trata de refletir a realidade, as coisas com as quais lidamos e o que nos é dito constantemente, especialmente em ambientes predominantemente cisgêneros e heterossexuais. Como navegamos em um mundo em que temos momentos mais extremos e óbvios como esse ou momentos mais sutis e de brincadeira.
Por outro lado, Elliot Page enfatizou que omitiu deliberadamente o nome do agressor, deixando claro que “ele descobrirá e saberá que é ele”, mas não sem antes enfatizar que, na indústria cinematográfica, aqueles que se entregam a esse tipo de comportamento vivem nos escalões superiores.
Eles [em Hollywood] são pessoas muito poderosas. São elas que escolhem as histórias que serão contadas e criam conteúdo para as pessoas verem em todo o mundo.
Fonte: adorocinema