Nada mais decepcionante na hora da salada do que um tomate aguados e sem sabor. Felizmente, um grupo de cientistas agora acredita ter encontrado a solução para o problema: ajustar geneticamente os níveis de açúcar deles.
Em termos botânicos, o tomate é considerado fruta porque sua composição morfológica vem do ovário da planta com flor, e seu interior é cheio de sementes. Já no entendimento popular, fruta seria todo fruto adocicado. Mesmo com um teor de açúcar menor que maçãs e morangos, os tomates selvagens, ou seja, aqueles não domesticados, são normalmente bastante doces.
O processo para que ele chegasse nos dias de hoje sem a doçura original é uma consequência de plantações industriais e cruzamento entre tomateiros, que mudaram a composição genética dessas frutas. Por muito tempo, fazendeiros tentaram aumentar o tamanho de tomates, e conseguiram. Mas não se pode ter tudo: com o crescimento deles, veio a diminuição do sabor.
Quando você morde um tomate, os açúcares e ácidos da fruta ativam os receptores gustativos, e um conjunto de compostos voláteis ativa os receptores relacionados ao cheiro no nariz. “Os voláteis, em particular, são essenciais para um bom sabor. Retirar [dos tomates] os compostos voláteis derivados de carotenóides resulta em reduções significativas no gosto do consumidor”, escrevem os pesquisadores, citando um estudo de 2010 publicado no Journal of the Science of Food and Agriculture.
A ausência de compostos voláteis poderia explicar parcialmente por que os tomates comprados em lojas são tão sem graça, explicam os cientistas. Eles descobriram que “13 voláteis associados ao sabor foram significativamente reduzidos nas variedades modernas em relação às variedades tradicionais”.
Agora, pesquisadores decididos a remediar essa situação se propuseram a achar uma forma de adocicar o alimento. Em um novo artigo publicado na Nature, um time de horticultores, biocriadores e especialistas em agricultura buscou entender quais eram as razões da perda de doçura, tentando corrigir parcialmente os efeitos de cruzamento de tipos diferentes de tomates.
Eles descobriram que dois genes específicos são responsáveis por acabar com a produção de açúcar durante o período de amadurecimento do fruto, os chamados SICDPK26 e SICDPK27. Ambos codificam proteínas que diminuem a produção de enzimas que geram o doce. Ao desabilitar os dois genes, foi possível aumentar em 30% os níveis de frutose e glicose – sem mudar nem o peso e nem o tamanho dos tomates.
Sanwen Huang, diretor do instituto de genômica agrícola da Academia Chinesa de Ciências Agrícolas, em Shenzhen, e autor dos dois estudos, disse ao The Guardian que é preciso que exista uma balança entre o gosto popular e as fazendas de produtores.
“Da mesma maneira que agricultores querem tomates maiores e com maior rendimento, os consumidores querem tomates mais doces”, disse. “Nossa descoberta dos genes que freiam o açúcar leva ao tomate mais doce sem sacrificar o tamanho do fruto, quebrando a relação negativa entre rendimento e qualidade.”
Quando poderemos comprar tomates docinhos?
Por mais que Huang preveja que essas espécies estarão disponíveis nos mercados de 3 a 5 anos, pode demorar um pouquinho mais para conseguirmos acrescentar essa novidade na nossa dieta. Isso porque, de acordo com o site Global Gene Editing Regulation Tracker, em muitos países a regulamentações de edição genética e novas técnicas de melhoramento (NBTs) na agricultura ainda é analisada de caso em caso, antes de ser permitida para a circulação.
No nosso país, o governo avalia o nível de risco de cada planta ou alimento recentemente desenvolvido, se foi introduzido novo material genético e se o produto já foi aprovado para comercialização em outros países, e responde ao requerente dentro de 20 a 90 dias úteis. Recentemente, por exemplo, foram aprovadas as plantações de milhos que produzem mais amido, tomates apimentados e sojas melhores digeríveis.
Já em outros lugares, como nos Estados Unidos e no Japão, alimentos modificados já são comercializados.
Fonte: abril