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Ciência & Saúde

Setembro Amarelo: cuidados com a saúde mental e a prática da empatia

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Não é de hoje que as campanhas mensais com cores temáticas existem no Brasil. O mês de setembro, por exemplo, é tomado pelo amarelo em laços, cartões, feed das redes sociais, monumentos famosos, etc, no intuito de conscientizar a população sobre um assunto que ainda é um grande estigma: o suicídio. Para falar sobre a importância da campanha do Setembro Amarelo, o Dicas de Mulher conversou com a psicóloga Rebeka Santos. Confira a seguir:

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O que é o Setembro Amarelo?

De acordo com a psicóloga Rebeka Santos, “o mês da conscientização sobre a do suicídio acontece no país desde 2014”, sendo organizado pelo Conselho Federal de Medicina em conjunto com a Associação Brasileira de Psiquiatria.

A profissional explica que, apesar do pouco tempo em território nacional, a data é conhecida mundialmente e foi motivada pela história de Mike Emme, “um garoto estadunidense de 17 anos que tirou a própria vida em setembro de 1994”. No dia de seu velório familiares e amigos de Mike distribuíram fitas e cartões na amarela com mensagens motivacionais, “no intuito de conscientizar sobre o suicídio e ajudar mais pessoas”, conta a psicóloga.

A partir dessa afirmação, Santos ressalta a importância dessa campanha: “mesmo depois de um grande avanço em relação às discussões sobre saúde mental, ainda existe um grande tabu quando o assunto é suicídio”. A profissional revela que ainda existe muito preconceito acerca do assunto, além de muita desinformação que “faz com que as pessoas que estão sofrendo não se sintam confortáveis para falar sobre isso”.

Além disso, Rebeka Santos pontua que ao contrário do que muitos pensam, “não é como se só devemos nos conscientizar nesse período do ano, mas a data joga luz a um tema que muita gente prefere ignorar”. Para a profissional, quanto mais for falado, não só sobre essa temática, mas também sobre a saúde mental como um todo, “mais vidas poderão ser salvas e mais pessoas poderão ter com qualidade de vida”.

Por que o suicídio afeta mais as mulheres?

Segundo o boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde em setembro de 2021, num período de 10 anos, ocorreram 112.230 mortes por suicídio no Brasil, com as maiores taxas nas regiões sul e centro-oeste do país. Além disso, apesar de ser observado um aumento no índice para ambos os sexos, a pesquisa aponta que as mulheres são as mais afetadas, com % contra 26% em relação aos homens.

Ainda sobre a diferença na taxa entre gêneros, um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), também publicado em 2021, mostra que existe uma variação relevante entre países de alta renda e países de baixa renda, pontuando que neste último o índice de suicídio em mulheres é mais alto. O mesmo relatório mostra ainda que enquanto as taxas de morte por suicídio diminuíram do outro lado do continente, nos continentes americanos o índice aumentou em 17% nos últimos 20 anos, atingindo principalmente a população mais jovem com idade entre 15 e 29 anos.

E não para por aí, uma pesquisa, publicada pelo Ministério da Saúde em 2017, ressalta que apesar da taxa de mortalidade por suicídio ser maior para o gênero masculino, mulheres com histórico de violência doméstica e/ou estupro também possuem alto índice de mortalidade por suicídio. Isso acontece, de acordo com a profissional de saúde mental, por conta do grande sofrimento emocional vivenciado por essas mulheres: “elas não estão vulneráveis apenas socialmente, mas também emocionalmente por todas as violências que percorrem sua história”.

Com isso, a psicóloga ressalta que o sentimento de culpa da vítima presente em situações de violência é um fator relevante nas taxas de mortalidade por suicídio e afirma: “ainda são necessárias muitas discussões sociais em torno desse assunto, mas é sempre válido dizer que a vitima não deve carregar o peso da culpa”.

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Como identificar comportamentos suicidas

Antes de alertar para alguns comportamentos, a psicóloga esclarece que “é importante ter em mente a subjetividade de cada pessoa e suas diferentes motivações”, que podem ir desde distúrbios emocionais como depressão, transtorno afetivo bipolar, perdas de um ente querido, financeiras, materiais e até mesmo ao abuso de substâncias.

Rebeka Santos afirma ainda que não são em todos os casos que haverá sinais que consigam prever o suicídio, mas “na maioria dos casos a atenção para alguns comportamentos podem fazer a diferença e salvar uma vida”. Confira abaixo os principais comportamentos que podem alertar sobre uma possível ideação suicida:

  • Forte sentimento de desesperança: segundo a profissional, o suicídio ocorre devido a um grande sofrimento emocional causado por diversos fatores e diante desse sofrimento a pessoa sente e geralmente verbaliza que não há solução para o que está vivenciando: “é como se ela não enxergasse saída para o seu sofrimento, não existe esperança de que aquilo passe ou melhore”.
  • Perda de interesse pelo próprio bem-estar: Santos esclarece que a falta de é um dos comportamentos mais observados em pessoas com idealização suicida. “A pessoa perde a vontade de se cuidar, de fazer algo que lhe faça bem. Ela deixa de se importar com ela”. Além disso, a psicóloga ressalta que essa falta de cuidado não tem a ver apenas com vaidade, mas também com a saúde, podendo o individuo se colocar constantemente em risco.
  • Diminuição na produtividade cotidiana: outro fator colocado pela profissional é a perda de interesse em realizar as tarefas diárias e consequentemente a queda na produtividade: “a pessoa perde a motivação de trabalhar ou estudar e de fazer as tarefas de casa, além de perder também a capacidade de concentração”.
  • Comportamento de desapego: sabe quando a pessoa começa a desapegar de coisas pessoais das quais gostava muito? De acordo com a profissional esse é também é um sinal de alerta, pois “o desapego pode estar simbolizando uma despedida”. Além disso, a especialista afirma que o desapego também pode estar relacionado com a resolução de algumas coisas, seja conflitos familiares ou de amizade, ou até mesmo a organização de documentos como um testamento, por exemplo.
  • Mudanças de humor: “sabemos que o humor não é algo estável, mas para alguém com idealização suicida as alterações de humor ocorrem de maneira extrema”, pontua Rebeka Santos. Para a psicóloga, as emoções vivenciadas por essa pessoa são intensas e excessivas, e se alteram com facilidade. “Num momento a pessoa pode estar sentindo muita raiva e em outro pode estar sentindo culpa na mesma proporção”, esclarece.

A profissional explica por fim que, “mesmo que a pessoa não verbalize sobre seu sofrimento, quem está em sua convivência pode observar a mudança de comportamento”. Além disso, ao observar qualquer comportamento que aponte para um risco de suicídio, é de extrema importância buscar aconselhamento e apoio de um profissional de saúde mental.

Como buscar ajuda?

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Segundo a psicóloga, “falar sobre as feridas emocionais nunca é algo fácil, mas sempre é necessário”, por isso, buscar o auxílio de uma rede de apoio é fundamental, principalmente quando o sofrimento vem acompanhado de uma idealização suicida. “Quando a saúde mental está abalada, pode parece impossível enxergar algo positivo, por isso é importante ter alguém como familiares, amigos e profissionais especialistas que nos guie de volta ao caminho da esperança”, pontua Santos.

A profissional afirma também que independente do suporte emocional advindo de conhecidos e familiares, é fundamental recorrer ao apoio profissional: “muitas vezes a rede de apoio que a pessoa tem não consegue fornecer o necessário para o alívio do sofrimento e nem sabe a maneira certa de manejar a situação, o que pode piorar a situação”.

E caso você não tenha condições financeiras para arcar com as despesas de um acompanhamento profissional particular, não desanime. Como se sabe, o Sistema Único de Saúde, também conhecido como SUS, oferece atendimento psicoterapeutico gratuito a partir de um encaminhamento psiquiátrico, contudo não é a única opção. Universidades públicas e particulares de todo o país também costumam fornecer atendimento psicoterapeutico gratuito realizado por estudantes de psicologia e supervisionados por professores formados na área. Além disso, muitos psicólogos realizam projetos sociais que visam levar o acesso a psicoterapia para a população mais carente.

Em casos de emergência, existe ainda o Centro de Valorização da Vida (CVV), que de forma gratuita, voluntária e sigilosa realiza atendimentos pelo telefone, através do número 188, pela internet ou até mesmo de maneira presencial. “O CVV não oferece acompanhamento terapêutico, eles são uma associação nacional sem fins lucrativos que funciona 24 por dia e tem como objetivo fornecer apoio emocional imediato para pessoas que estão passando por sofrimento emocional e/ou estão pensando em tirar a própria vida”, explica Rebeka Santos.

Como apoiar?

Se você conhece alguma mulher que está apresentando sinais de comportamentos suicidas e não sabe como ajudar a psicóloga pontua algumas coisas que podem ser feitas. “O primeiro ponto é não julgar e oferecer acolhimento e apoio sem fazer pontuações ou cobranças”, ela afirma.

Outro ponto de extrema importância é auxiliar essa mulher na busca pelo apoio profissional, visando seu amparo e seu bem-estar em todos os sentidos. A psicóloga explica que o profissional, seja ele um psicólogo ou um , irá “identificar o contexto que essa mulher vive, os sintomas presentes e os fatores estressores”, buscando entender a ideação e intervir que a tentativa de suicídio ocorra.

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No caso de mulheres que já cometeram uma tentativa de suicídio, Rebeka Santos pontua que elas “podem lidar com sentimento de culpa e constrangimento pelo acontecido”, por isso, além dos cuidados já citados com as pessoas em situações de risco, nesse caso, também é “preciso estar atento a essas ideias e sentimentos” e oferecer apoio sem julgamentos.

Há também pessoas que perderam entes queridos devido ao suicídio e que vivenciam essa perda com grande sofrimento. Sobre isso a psicóloga afirma que apesar do luto sempre ser desafiador em qualquer situação, “o luto de uma vítima de suicídio traz consigo o sentimento de culpa”, e isso faz com que essa pessoa também precise de acolhimento e de apoio, tanto de pessoas queridas, quanto de profissionais da saúde mental, objetivando elaborar esse sentimento e aliviar o sofrimento.

As informações contidas nesta página têm caráter meramente informativo. Elas não substituem o aconselhamento e acompanhamentos de médicos, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física e outros especialistas.

Fonte: dicasdemulher.com.br

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