Em 2020, um pássaro australiano entrou para o Guinness Book, o livro dos recordes. O fuselo passou 11 dias e uma hora no ar, o trajeto mais longo sem paradas já registrado: voou 13.560 quilômetros entre o Alasca e a Austrália.
Ele não é o único aventureiro que faz longas jornadas: as andorinhas-do-mar-árticas, por exemplo, viajam entre os pólos Norte e Sul da Terra e têm o recorde da migração mais longa do mundo de qualquer animal, com mais de 96 mil quilômetros.
Os casos levantam a curiosidade: como e onde os pássaros descansam quando voam sobre o oceano?
Existem várias respostas: algumas aves pousam para descansar em ilhas, icebergs e até em barcos. Mas outras são capazes de descansar enquanto voam, em algo parecido com um sono.
Em 2016, uma equipe de cientistas equipou aves que iriam partir em uma longa migração com um GPS nas asas e um aparelho de encefalograma em seus crânios. Eles escolheram as fragatas de Galápagos (Fragata minor), já que essas aves realizam viagens de vários dias de duração sem pausa e se alimentam exclusivamente no mar. Ao contrário de outras aves marinhas, as fragatas também não têm penas impermeáveis, o que as impede de pousar na água para descansar.
Os dados obtidos a partir dos 10 dias de viagem das fragatas mostraram que elas podem dormir durante o voo, com as asas em posição planar. Duas formas são possíveis: com um hemisfério cerebral de cada vez ou com os dois hemisférios simultaneamente. Os cientistas se surpreenderam ao descobrir que as aves conseguem inclusive passar por alguns segundos de sono REM, a fase mais profunda do sono, enquanto voam.
Outro estudo, de 2021, mostrou que aves migratórias tendem a escolher suas rotas de acordo com as condições atmosféricas, especialmente o vento e a elevação. Sabendo escolher as condições mais favoráveis, os pássaros podem economizar energia da viagem.
Mesmo assim, não é uma jornada tranquila: os cientistas do estudo com as fragatas constataram que enquanto estão migrando, as fragatas passam cerca de 42 minutos por dia dormindo. Em terra, o sono das fragatas ocupa mais de nove horas diárias.
Isso mostra como os corpos das aves migratórias são adaptados para essas viagens. Toda a anatomia, os hábitos alimentares e os ritmos dessas aves são feitos para enfrentar os desafios das longas distâncias no ar.
Viajante nato, os fuselos passam dois meses se alimentando fartamente no Alasca antes de partirem. Nessa época, os machos podem dobrar de tamanho, além de diminuírem o tamanho de seus órgãos internos para dar lugar à gordura. Outra adaptação é aumentar o tamanho dos músculos do peito e do coração enquanto voam, para ajudar na distribuição de energia e oxigênio.
Ao fim da jornada, os fuselos provavelmente já queimaram mais da metade da gordura estocada, e pousam no clima agradável da Oceania para se reproduzirem com calma.
Fonte: abril