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Ciência & Saúde

Saiba como os transtornos alimentares afetam sua saúde física e mental

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Uma grande parte da população feminina, muito provavelmente, já realizou algum tipo de dieta visando controlar seu peso corporal. Mas, e quando a preocupação com a alimentação e o peso se torna um transtorno alimentar? A seguir, confira o que a psiquiatra especialista Ana Clara Floresi (CRM/SP 129.142), atuante no Ambulatório de Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas, diz sobre o assunto.

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O que são transtornos alimentares?

Relacionados aos comportamentos alimentares de cada indivíduo, os transtornos alimentares, segundo a Dra. Ana, são “quadros psiquiátricos caracterizados por alteração primária dos hábitos alimentares e comportamentos voltados para o controle do peso corporal”.

Tais hábitos são fomentados por uma angústia excessiva relacionada ao peso e à imagem corporal e, como afirma a profissional, resultam “em danos significativos para saúde física e funcionamento psicossocial do indivíduo acometido”.

Tipos de transtornos alimentares

Talvez você já tenha ouvido falar de transtornos alimentares como a anorexia, bulimia e compulsão alimentar. Mas, dentro do espectro dessa patologia, existem muitos outros distúrbios relacionados. Abaixo, a especialista fala sobre eles. Confira:

Anorexia

A anorexia é um dos transtornos alimentares mais conhecidos. O distúrbio, segundo a psiquiatra, é “caracterizado por restrição da ingesta alimentar, levando a baixo peso corporal”, e possui uma alta taxa de mortalidade.

Além disso, a médica pontua que outras características principais devem estar presentes para o diagnóstico, como: “medo de ganhar peso, a adoção de comportamentos para a manutenção de um peso abaixo do normal, a perturbação do modo de ver e sentir o próprio corpo e o não reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal”.

Bulimia

Comumente confundido com a anorexia, a médica esclarece que esse transtorno se caracteriza por “episódios de grande ingestão de alimentos em curto intervalo de tempo, com sensação de perda de controle para comer, associadamente a frequentes comportamentos inadequados”.

Tais episódios ocorrem com frequência, e os comportamentos como “indução de vômitos, jejum, atividade física extenuante ou uso indevido de medicações”, tem o objetivo de “prevenir o ganho de peso e compensar a ingesta alimentar vigorosa”.

Para o diagnóstico adequado, Dra. Floresi explica que, os episódios de comer compulsivamente e os métodos chamados compensatórios, “devem ocorrer ao menos semanalmente por três meses, e estarem associados a uma preocupação excessiva com peso e formas corporais”.

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Compulsão alimentar

Assim como na bulimia, a compulsão alimentar é caracterizada “pela ocorrência de episódios frequentes de grande ingestão de alimentos em tempo limitado, acompanhados por uma sensação de perda de controle sobre o que ou o quanto se come”, revela a especialista.

Contudo, o que difere os dois transtornos é que, no caso da compulsão, os episódios “não estão associados a métodos compensatórios regulares”, mas sim a comportamentos como: “comer rápido demais, ingerir excessos de comida mesmo quando não sente fome, comer sozinho por vergonha, culpar-se ou ficar deprimido após comer excessivamente etc.”

O diagnóstico, como afirma a médica especialista, é baseado na observação desses episódios compulsivos, que “devem acontecer pelo menos semanalmente por três meses”.

Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo

Também conhecido como TARE, esse distúrbio diz respeito a evitação de determinados alimentos ou grupos alimentares, relacionada a diversos fatores como textura, sabor, cor, odor etc.

A psiquiatra esclarece que a característica principal desse transtorno é “a evitação/restrição da ingesta alimentar, manifestada pela falha em manter uma nutrição adequada ou uma ingesta calórica insuficiente pela alimentação oral”.

Além disso, características como “perda de peso significativa, deficiências nutricionais, necessidade de suplementação ou outras vias para alimentação, ou grande interferência com o funcionamento psicossocial” são consideradas no diagnóstico, como afirma a médica.

Transtorno Alimentar Noturno

Segundo a Dra. Floresi, o transtorno alimentar noturno está presente no manual diagnóstico DSM-5 como Síndrome do Comer Noturno (SCN) e “se caracteriza por recorrente comer noturno, com episódios de comer após despertares do sono (em meio à madrugada) e/ou por alimentação excessiva após o jantar”.

Nesse quadro, “o paciente come acordado e de forma consciente, e descreve a necessidade/urgência para comer para conseguir conciliar o sono”, afirma a psiquiatra. Além disso, é comum que a pessoa apresente falta de fome pela manhã, hiperfagia durante a noite e em determinados casos, insônia.

O diagnóstico é pautado principalmente pela observação comportamental do paciente, mas, em alguns casos, exames de dosagem hormonal, podem ser solicitados pelo médico.

Alotriofagia

Também conhecido como Pica, ou Picacismo, esse transtorno alimentar, segundo a psiquiatra, se caracteriza pela “ingesta de uma ou mais substâncias não nutritivas e não comestíveis”.

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Ana revela que, nesse quadro, “podem ser ingeridas substâncias como papel, sabonete, tecido, cabelo, terra, giz, talco, tinta, pedra, gelo, entre outros”, o que, não só causa sofrimento psíquico para o paciente, como também gera impactos em sua saúde física.

A médica explica ainda que “o diagnóstico só pode ser feito em indivíduos com mais de 2 anos de idade”, tendo em vista que comumente crianças menores levam objetos não comestíveis à boca.

Ortorexia

Segundo a especialista, apesar de o termo ortorexia ter sido “cunhado no final da década de 90 para descrever um padrão comportamental alimentar”, ele não consta nos manuais diagnósticos disponíveis.

Entretanto, o conceito vem sendo utilizado na prática clínica e é caracterizado pela obsessão por alimentos saudáveis. Com isso, a psiquiatra explica que os pacientes com esse quadro “apresentam uma preocupação obsessiva com uma alimentação supersaudável, sem intenção de perder peso, mas com evidente prejuízo social, funcional ou nutricional associado”.

Ruminação

Conforme a psiquiatra, este é um transtorno alimentar menos frequente, e é “caracterizado por regurgitação repetida da comida depois da alimentação”.

A doutora explica que, para ser diagnosticado corretamente, o “quadro não pode ser atribuído a uma condição gastrointestinal ou médica”. Além disso, não deve ocorrer no curso de qualquer outro transtorno alimentar, como na anorexia e na bulimia, por exemplo.

Outro fato importante relacionado a esse distúrbio, é que, além dos danos à saúde mental, a regurgitação desses alimentos pode causar consequências ao organismo devido os ácidos presentes na digestão dos alimentos.

Diabulimia

Outro termo que ainda não é reconhecido pelos manuais diagnósticos, mas que aparece na prática clínica é diabulimia, que, como explica a médica especialista, “é usado na prática clínica para nomear a ocorrência de sintomatologia alimentar em pacientes com diabetes mellitus Tipo 1″.

“Nestes casos, encontramos a omissão da tomada ou redução da dose da insulina, com intuito de promover a perda de glicose na urina e a perda de peso, dentre outros comportamentos alimentares disfuncionais”, afirma a psiquiatra.

O quadro é muito arriscado, visto que faz o paciente perder o controle dos níveis de açúcar no sangue, o que pode ocasionar alguns comprometimentos no organismo.

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Drunkorexia

A conceituação de drunkorexia foi proposta por alguns autores nos últimos anos e, segundo a Dra. Floresi, por ser recente, ainda não é “reconhecido nos manuais diagnósticos médicos vigentes”.

O transtorno em questão diz respeito à “recorrentes restrições alimentares e vômitos autoinduzidos, adotados principalmente por jovens, com intuito de evitar ganhar peso com o consumo alcoólico excessivo”, esclarece a especialista.

Outra característica presente no distúrbio é a substituição da comida pela bebida alcoólica, no intuito de inibir o apetite e, assim, aumentar a perda de peso.

Fatorexia

A fatorexia é, segundo a psiquiatra, mais um termo recente que também não está presente nos manuais diagnósticos, mas que tem feito parte da prática clínica.

O conceito “tem sido proposto quando se encontra significativa distorção de imagem corporal em pessoas com corpos maiores, que se percebem menores”, ou seja, o paciente em questão não consegue se autoperceber em um quadro de obesidade, por exemplo.

O quadro se caracteriza como um transtorno alimentar, justamente pelo fato de que a partir da dismorfia corporal, a pessoa muitas vezes tende a seguir com hábitos alimentares pouco saudáveis que podem afetar sua saúde física.

Pregorexia

Como explica a médica especialista, o termo pregorexia “tem sido usado para nomear quadros alimentares presentes em mulheres gestantes”, contudo, ele também não está presente nos manuais diagnósticos.

Sua sintomatologia alimentar é sugerida por “restrição alimentar, obsessão por manter peso anterior à gravidez e medo intenso de ganhar peso necessário para uma gestação saudável” ocorridos no período de gestação, afirma a doutora.

Com certeza, há muito o que se pensar socialmente em relação à autoimagem, aos hábitos alimentares e à saúde no geral. Mas, conhecendo brevemente sobre os transtornos alimentares e levantando mais discussões sobre esse assunto, pode ficar mais fácil ajudar quem precisa e obter melhor qualidade de vida.

Como tratar transtornos alimentares

transtornos alimentares

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Primeiramente, no caso da suspeita de um quadro de transtorno alimentar, a médica indica que “o próprio paciente ou um familiar deve procurar prontamente por uma equipe multidisciplinar especializada, que inclua profissionais das áreas de psiquiatria, psicologia e nutrição”.

O diagnóstico só deve ser realizado por um médico psiquiatra e a partir de então “o tratamento deve ser baseado na reabilitação nutricional, associada à psicoterapia e seguimento psiquiátrico”, afirma a profissional.

A médica esclarece ainda que, a prescrição de medicações pode ser necessária em “determinados quadros alimentares e na abordagem de outros transtornos, como quadros depressivos e ansiosos“, que costumam acometer indivíduos que sofrem com algum tipo de transtorno alimentar.

Além disso, Ana ressalta que “a demora para procurar ajuda profissional pode complicar a evolução e o tratamento do paciente” e, nesses casos, a abordagem pode ser conduzida em regime ambulatorial, ou por internação hospitalar, “a depender da gravidade e evolução do caso”.

Os transtornos alimentares podem ocorrer de diferentes formas, mas todas elas necessitam de atenção. Caso identifique alguma dessas características em seus comportamentos alimentares, busque por ajuda profissional. Aliás, nesses casos, o processo psicoterapêutico pode ser fundamental. Confira a matéria para entender o motivo!

As informações contidas nesta página têm caráter meramente informativo. Elas não substituem o aconselhamento e acompanhamentos de médicos, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física e outros especialistas.

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