📝RESUMO DA MATÉRIA

  • A má saúde bucal aumenta muito o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e osteoporose. De acordo com um estudo, pessoas com menos de 10 dentes naturais têm 1,66 vezes mais probabilidade de morrer de problemas cardíacos.
  • A doença gengival permite que bactérias nocivas entrem na corrente sanguínea através das gengivas inflamadas, causando inflamação e doenças em vários órgãos, incluindo o cérebro e o coração.
  • Pesquisas relacionam doenças gengivais a problemas de saúde cerebral, incluindo o mal de Alzheimer. Cada dente perdido devido a periodontite grave está associado a 1,3 anos de envelhecimento cerebral.
  • Boas práticas de higiene bucal, incluindo escovação regular, uso de fio dental e consultas odontológicas com um dentista que não usa mercúrio, são cruciais para prevenir doenças gengivais e seus riscos sistêmicos de saúde associados.
  • A prática de bochecho com óleo de coco (oil pulling) ajudará a reduzir as bactérias na boca, enquanto a escolha de produtos dentais não tóxicos pode prevenir a exposição a substâncias químicas prejudiciais.

🩺Por Dr. Mercola

Manter os dentes limpos e as gengivas saudáveis não é apenas uma preocupação estética. Além de te dar um sorriso brilhante e agradável, uma higiene bucal adequada também influencia seu bem-estar geral. Pense na sua boca como uma janela para a saúde física e mental. Ela pode te dar uma ideia do que está acontecendo no resto do seu corpo.

Um estudo publicado há pouco tempo fornece informações adicionais sobre como a saúde bucal pode ter um efeito profundo no seu bem-estar, em particular na sua saúde cardíaca. Segundo os pesquisadores, quanto menos dentes naturais você tiver, maiores serão suas chances de desenvolver doenças cardiovasculares.

Os espaços no seu sorriso podem indicar problemas no seu coração

Uma revisão sistemática publicada no Journal of Endodontics esclarece como o estado da sua saúde bucal pode influenciar o risco de morrer por doenças cardiovasculares.

Os pesquisadores analisaram os dados de 12 artigos de pesquisa e descobriram que pessoas que já perderam todos os dentes naturais ou possuíam menos de 10 dentes naturais restantes tinham 1,66 vezes mais probabilidade de morrer por problemas cardíacos em comparação com aquelas com mais dentes. Mesmo quando outros fatores foram levados em consideração, como a idade dos participantes, hábitos (como fumar) e gênero, não houve mudanças significativas nos resultados.

Em um artigo da TIME, Anita Aminoshariae, professora de endodontia na Faculdade de Odontologia da Case Western Reserve University e uma das autoras do estudo, compara os dentes a dunas de areia — assim como elas protegem as áreas interiores do mar, seus dentes protegem seu corpo de substâncias estranhas. Uma vez perdidos, a defesa primária do seu corpo enfraquece.

“A boca não está desconectada do resto do corpo. Muito pelo contrário, estudos sugerem que a saúde bucal está associada a tudo, desde a saúde cardíaca até a expectativa de vida, mesmo que muitas pessoas não percebam isso”, ela explica.

Pessoas com saúde bucal ‘ruim’ ou ‘regular’ têm maior risco de mortalidade

No entanto, essa não é uma descoberta nova, pois vários estudos já exploraram esse fenômeno, conhecido como “conexão oral-sistêmica”. De acordo com o artigo da TIME, as primeiras descobertas sobre esse tópico estavam relacionadas ao diabetes. Quando pacientes diabéticos foram tratados para doença gengival, seus níveis de açúcar no sangue melhoraram. Por outro lado, quando o diabetes piorou, a doença gengival também piorou.

Um estudo separado, publicado no The Journal of the American Dental Association em março de 2024, fornece mais detalhes sobre a relação entre a saúde bucal e a mortalidade geral. Os pesquisadores analisaram dois conjuntos de dados independentes, um do Women’s Health Study e outro do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES). Eles descobriram que pessoas que classificam sua saúde bucal como “regular” ou “ruim” têm maior risco de desenvolver problemas graves de saúde.

“A saúde bucal autoavaliada como regular ou ruim foi associada de forma independente ao aumento do risco de doença cardiovascular (razão de chances, 1,39; IC 95%, 1,14 a 1,69; P < 0,001), diabetes (razão de chances, 1,21; IC 95%, 1,02 a 1,43; P = 0,028) e osteoporose (razão de chances, 1,60; IC 95%, 1,38 a 1,84; P < 0,001)” relataram os pesquisadores.

Yau-Hua Yu, professora associada de periodontia na Faculdade de Odontologia da Universidade de Tufts e uma das autoras do estudo, reitera o valor da higiene bucal adequada para prevenir o surgimento dessas condições, dizendo:

“Quando você não limpa os dentes de maneira correta, permitindo que alimentos e outros resíduos fiquem nos dentes e entre eles, as comunidades bacterianas na sua boca podem mudar, contribuindo com um potencial para gengivite e doença gengival ao longo do tempo”.

Mas como os organismos nocivos presentes nas gengivas chegam aos seus órgãos, como o cérebro e o coração? Acontece que eles entram no seu organismo através dos vasos sanguíneos, que na verdade são “permeáveis”.

Organismos patogênicos podem espalhar infecções pela corrente sanguínea

De acordo com Yvonne Kapila, professora e reitora associada de pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, quando você tem doença gengival e suas gengivas estão inflamadas, a natureza permeável dos vasos sanguíneos abre caminho para vírus, bactérias e outros organismos patogênicos entrarem no seu corpo.

Uma vez dentro, eles podem se espalhar para várias áreas através da corrente sanguínea. Quando esses micróbios nocivos chegam aos seus órgãos, eles podem causar inflamação e desencadear doenças. Como relatado pela TIME, “substâncias bacterianas da boca foram encontradas em tumores cancerígenos, válvulas cardíacas e fígados doentes, e tecido cerebral de pessoas que morreram de doença de Alzheimer, para citar alguns exemplos notáveis”.

Kapila, junto com uma equipe de pesquisadores, conduziu um estudo sobre como a doença gengival está relacionada à saúde do cérebro. Eles descobriram que as bactérias ruins que causam doenças nas gengivas viajam para o cérebro, onde aumentam a quantidade de proteínas nocivas associadas à doença de Alzheimer.

No entanto, quando os pesquisadores usaram um peptídeo antioxidante chamado nisina para tratar a infecção, eles conseguiram reverter alguns dos problemas, mitigando os efeitos nocivos da doença gengival.

A doença gengival pode encolher seu cérebro

Um estudo japonês de 202311 reiterou as descobertas da equipe de Kapila. Publicado na revista Neurology como parte do estudo Ohasama (um estudo de coorte prospectivo sobre hipertensão e doenças cardiovasculares), os autores descobriram que a periodontite (infecção gengival) pode causar atrofia do hipocampo, o que significa que pode causar o encolhimento do hipocampo, um marcador da doença de Alzheimer.

O estudo envolveu 172 participantes com 55 anos ou mais que não apresentavam nenhum declínio cognitivo. Os pesquisadores realizaram exames odontológicos e testes de memória. Eles também mediram o hipocampo dos participantes no início do estudo e 4 anos depois.

Eles descobriram que, em participantes com doença gengival leve e menos dentes, o hipocampo esquerdo encolheu mais rápido. Ter um dente a menos aumentou o encolhimento do cérebro a uma taxa equivalente a quase um ano de envelhecimento cerebral. Enquanto isso, os participantes com periodontite mais grave também apresentaram uma taxa mais rápida de encolhimento do cérebro — cada dente perdido era equivalente a 1,3 anos de envelhecimento cerebral. De acordo com o autor do estudo, Satoshi Yamaguchi, Ph.D., DDS, da Universidade de Tohoku:

“Esses resultados destacam a importância de preservar a saúde dos dentes e não apenas mantê-los. As descobertas sugerem que a retenção de dentes com doença gengival grave está associada à atrofia cerebral.

Controlar a progressão da doença gengival por meio de visitas regulares ao dentista é crucial, e dentes com doença gengival grave podem precisar ser extraídos e substituídos por próteses apropriadas”.

Uma boa higiene bucal pode proteger a saúde do seu coração e cérebro

A doença gengival pode ser prevenida, mas você precisa tomar as precauções necessárias e praticar uma boa higiene dental. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, a gengivite pode ser revertida, enquanto a periodontite grave pode ser controlada e retardada com ajuda profissional. Portanto, nunca é tarde para fazer mudanças significativas na sua rotina de higiene bucal.

A escovação regular (usando um creme dental sem flúor), uso de fio dental e raspagem da língua, além de limpezas regulares em um dentista biológico que não usa mercúrio, podem contribuir muito para manter seus dentes e gengivas saudáveis. Também é essencial seguir um estilo de vida saudável que inclua uma dieta composta de alimentos frescos e integrais para ajudar a manter sua boca limpa de forma natural.

A American Dental Association (ADA) recomenda escovar os dentes duas vezes ao dia usando uma escova de cerdas macias. No entanto, em vez de fazer isso logo após terminar uma refeição, eles recomendam esperar 30 minutos antes de escovar os dentes.

Guarde sua escova de dentes de maneira adequada para evitar o crescimento de bactérias. O ideal é posicioná-la na vertical e exposta ao ar, para que ela possa secar por completo. Certifique-se de substituí-la a cada 3 ou 4 meses. Para dicas de escovação de dentes, siga este guia:

1. “Coloque sua escova de dentes em um ângulo de 45 graus em relação à gengiva.

2. Mova  a escova de maneira suave para frente e para trás em movimentos curtos (na largura dos dentes).

3. Escove as superfícies externas, as superfícies internas e as superfícies de mastigação dos dentes.

4. Para limpar as superfícies internas dos dentes da frente, incline a escova na vertical e faça vários movimentos para cima e para baixo”.

Como é o seu uso do fio dental?

Tenha em mente que há alguns lugares que sua escova de dentes pode não alcançar, sobretudo os espaços entre os dentes. Por isso, é melhor incluir o uso do fio dental na sua rotina de higiene bucal. A ADA recomenda usar fio dental pelo menos uma vez ao dia. Você pode fazer isso antes ou depois da escovação, seja de manhã ou à noite — a escolha é sua.

No vídeo acima, Heather Brown, diretora de saúde bucal e relações profissionais da Delta Dental of Idaho, compartilha sua filosofia ideal de uso do fio dental, dizendo:

“Quando você apenas escova a superfície dos dentes com a escova de dentes, você está escovando cerca de 60% dos seus dentes. O uso do fio dental cobre os outros 40%. Então, não se iluda pensando que você fez um ótimo trabalho limpando a sua boca se não usou fio dental.

Já vi pessoas que começaram a usar fio dental e se tornaram habituadas a isso, e passaram a se sentir melhor consigo mesmas. O próximo check-up será muito mais fácil. “E assim, as pessoas se sentem motivadas por isso e, basicamente, querem ser saudáveis”.

Brown recomenda usar o fio dental no sentido de cima para baixo, em cada lado do dente. Ela também alerta contra a técnica de “gangorra”, que pode causar dor e danificar o tecido.

Ao comprar fio dental, procure por aqueles que não contenham produtos químicos tóxicos, como substâncias perfluoroalquiladas e polifluoroalquiladas (PFAS), que em geral são adicionadas para que o fio dental deslize mais fácil entre os dentes. Em vez disso, procure produtos que usem ceras vegetais veganas, que proporcionam um deslizamento mais suave entre os dentes.

E assim como com sua pasta de dente, escolha um fio dental que não tenha flúor adicionado. O ideal é escolher um fio de nylon em vez de fio dental de seda quimicamente tratado. Você também pode considerar usar um irrigador oral, que borrifa um jato potente de água na sua boca. Embora muitos optem pelo irrigador oral em vez do fio dental, a melhor opção pode ser aprender como usar os dois.

Finalize sua rotina de higiene bucal com a técnica de bochecho com óleo

Como o próprio nome indica, a técnica de bochecho com óleo se refere à prática em que você usa óleo na boca para “puxar” e eliminar bactérias dos dentes e gengivas. A técnica de oil pulling ou bochecho com óleo é antiga, e na medicina popular tradicional indiana, é uma estratégia valiosa para ajudar a reduzir o risco de cáries, mau hálito e sangramento nas gengivas, além de fortalecer os dentes e as gengivas.

Fazer bochechos com óleo não é nenhuma ciência avançada, basta medir uma colher de sopa de óleo de coco e colocá-la na boca. Passe o óleo pelas bochechas e pela língua, “puxando-o” pelos dentes para que ele possa eliminar as bactérias.

Relaxe os músculos da mandíbula para evitar a fadiga muscular e tome cuidado para não engolir o óleo ou usá-lo como gargarejo. Em vez disso, cuspa. O óleo de coco ficará espesso e branco leitoso, por causa das bactérias que ele acumulou. Se sentir vontade de engolir, basta cuspir o óleo e começar de novo.

Após 20 minutos, cuspa o óleo no lixo ou no seu quintal (mas não nas plantas). Não cuspa na pia, pois pode sujar o encanamento e causar problemas.

Aumentar o pH da boca após o bochecho com óleo pode reduzir ainda mais o crescimento bacteriano. Basta misturar 1 colher de chá de bicarbonato de sódio em 180 ml de água e gargarejar. Com isso, você vai deixar o pH da boca ainda mais alcalino, desestimulando o crescimento das bactérias, que precisam de um ambiente ácido.

Escolha a odontologia biológica

Dentistas biológicos passaram por uma formação que os capacita a ver e tratar sua saúde bucal como parte integrante da sua saúde geral. Eles também são treinados para remover obturações de mercúrio com segurança. O ideal é encontrar um dentista biológico para cuidar de todas as suas necessidades odontológicas, pois é muito menos provável que ele realize procedimentos que causarão problemas mais tarde.