Sophia @princesinhamt
Ciência & Saúde

‘Ratos com dois pais atingem a maturidade: descobertas científicas’

2025 word3
Grupo do Whatsapp Cuiabá

Um time de cientistas na China criou ratinhos que nasceram de dois pais machos. Os pesquisadores usaram tecnologia CRISPR (um método de edição genética) para alterar células-tronco embrionárias, tornando possível a concepção sem mãe. Agora, sabemos que os camundongos fruto da pesquisa chegaram até a vida adulta.

Para isso, a equipe liderada por Zhi-Kun Li, da Academia Chinesa de Ciências em Beijing, focou em alterar um grupo de genes envolvido na reprodução, que abriu portas nos trabalhos envolvendo reprodução unissexual em mamíferos. O experimento foi descrito num artigo publicado no periódico Cell Stem Cell, especializado em pesquisas com células-tronco.

Outras pesquisas já foram feitas para criar ratos com dois pais, mas os embriões costumam parar de crescer no meio do caminho. O que diferenciou o trabalho dos cientistas chineses foi que eles usaram a tecnologia CRISPR para editar alguns genes que normalmente precisam ser herdados de progenitores machos e fêmeas.

A nova abordagem foca nos genes herdados por impressão genômica. Eles são expressos só por um dos alelos (materno ou paterno) e se expressam de forma diferente a depender se foram herdados do pai ou da mãe. Sem a impressão genômica do lado materno e paterno, a expressão dos genes pode dar errado, com problemas de má-formação no embrião.

Deu certo, mas nem tanto

Para fazer o esquema bi-paterno funcionar, os cientistas precisaram modificar os genes de impressão genômica. Existem cerca de 200 nos ratos, mas eles focaram só em 20 deles, conhecidos por serem importantes no desenvolvimento do embrião. Os pesquisadores usaram várias técnicas para isso, desde a deleção de genes até edições focadas em regiões específicas do cromossomo.

As células com os genes editados foram injetadas, junto de outras células de esperma, em células de ovários com o núcleo removido – ou seja, sem o DNA materno. Assim, os cientistas obtiveram células embrionárias com o DNA de dois machos, que depois foram transferidas para o útero de ratas que serviram de barriga de aluguel.

O estudo teve sucesso, mas não tanto. Dos 164 embriões geneticamente modificados, só sete sobreviveram ao nascimento e chegaram à vida adulta. Eles são inférteis, então não podem se reproduzir. Muitos ratinhos eram maiores que os camundongos normais, o que diminui sua expectativa de vida. Em pesquisas anteriores que deram origem a ratos com duas mães, os espécimes geneticamente modificados eram menores do que o normal e ultrapassavam a expectativa de vida,  evidenciando as funções diferentes dos genes paternos e maternos.

O desenvolvimento mais importante da pesquisa é mostrar que as edições não só possibilitaram que os ratinhos com dois pais chegassem à vida adulta, mas também ajudaram a criar células-tronco com pluripotência – a capacidade de se dividir em vários outros tipos de células – mais estáveis. A descoberta pode inspirar futuras pesquisas com células-tronco, avançando o uso delas na medicina regenerativa.

Em 2023, um cientista japonês chamado Katsuhiko Hayashi liderou um estudo que também conseguiu criar ratos com dois pais, mas com uma abordagem diferente. Hayashi e sua equipe transformaram células das caudas de ratos adultos em células de ovário imaturas, prontas para ser fertilizadas e transformadas em embriões com o DNA de dois pais.

Os cientistas chineses esperam usar CRISPR para gerar primatas com dois pais. A abordagem ainda está (muito) fora dos limites para seres humanos: editar 20 genes em humanos não é eticamente aceitável para nenhuma pesquisa com células-tronco, de acordo com as diretrizes da Sociedade Internacional para Pesquisa com Células-Tronco. Além disso, as chances são quase certas de que o método geraria seres humanos não saudáveis.

Fonte: abril

Sobre o autor

Avatar de Redação

Redação

Estamos empenhados em estabelecer uma comunidade ativa e solidária que possa impulsionar mudanças positivas na sociedade.