Qualquer aula no ensino fundamental te ensina que uma das soluções para o aquecimento global é plantar mais árvores — e é disso que grandes indústrias também tentam te convencer, já que distribuir sementes por aí sai bem mais em conta do que reduzir emissões de carbono.
Mas essa não é uma verdade universal: impor reflorestamento com grandes árvores na região do Ártico — o que pode soar razoável diante do derretimento do gelo por lá — na verdade é uma péssima ideia.
Isso é culpa de algo chamado albedo (ou coeficiente de reflexão): a quantidade de radiação solar que é refletida pela superfície terrestre e volta para o espaço.
No Ártico, o tipo de vegetação mais comum é a tundra, que consiste em arbustos e gramíneas baixas e esparsas e fica coberta por neve durante grande parte do ano. Por ser branca, a neve reflete três quartos da energia solar que recebe, o que faz com que as regiões mais geladas do globo tenham um albedo alto.
É diferente para quem mora nas regiões tropicais. Florestas fechadas, cidades muito asfaltadas e até o próprio oceano são lugares com baixo albedo, por serem mais escuros. É só pensar em um carro preto parado em um estacionamento descoberto: ele absorve um bocado de calor, e você sente aquela bufa desagradável ao abrir a porta.
Plantar muitas árvores altas no Ártico tamparia o cobertor de neve da superfície, geraria mais sombras e reduziria o albedo, o que aqueceria ainda mais a Terra. Isso aconteceria mesmo com as árvores absorvendo CO2.
Essa é apenas uma face da moeda que foi apresentada em um estudo publicado na Nature Geoscience. Os autores, Marc Macias-Fauria e Jeppe Aagaard Kristensen, escrevem para o The Conversation que, como a maior parte do carbono no Ártico está no solo, “o cultivo de árvores no Ártico poderia causar a liberação de parte desse carbono.”
E seria carbono para caramba: de acordo com estudos anteriores, existe mais carbono nos solos do Ártico do que em todas as árvores do mundo juntas — incluindo nas famigeradas florestas tropicais.
O problema de forçar um reflorestamento na área é que árvores em crescimento liberam açúcar pelas raízes, o que já é suficiente para fornecer energia aos micróbios, permitindo que eles decomponham parte do carbono acumulado no solo ao longo de milênios. Esse processo é conhecido como efeito priming.
“O resultado inevitável de um projecto de florestação no Árctico são décadas de libertação de grandes quantidades de carbono do solo para a atmosfera. Esta é uma contribuição inaceitável para os gases com efeito de estufa atmosféricos no período em que mais necessitamos de reduções”, escrevem os autores.
Sem contar os desafios que já enfrentam as árvores que habitam a floresta de neve: elas são vulneráveis a incêndios intensos, pragas e ao clima extremo, que periodicamente destrói toda a vegetação. Além disso, plantar novos exemplares seria um problema para os ecossistemas já existentes e as populações tradicionais.
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Fonte: abril