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Ciência & Saúde

Pesquisadoras brasileiras criam método inovador para prolongar frescor de frutas

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O cidadão paulista tem, em sua maioria, uma ligação afetiva com as feiras a céu aberto. Hoje existem mais de 955 feiras espalhadas pela cidade durante a semana. Por mais que a escolha favorita seja um pastelzinho com caldo de cana, a venda de alimentos gerais também é fortemente presente.

Ma o que acontece com o alimento que não é comercializado? Um estudo feito por pesquisadores brasileiros em 2022 estimou que são desperdiçadas de 14.900 a 18.400 toneladas de alimentos por ano em feiras da cidade. 

Entre os anos de 2022 e 2023, 14,3 milhões de brasileiros viviam no contexto de insegurança alimentar. Simultaneamente, o Brasil registra uma taxa de desperdício de frutas, hortaliças e tubérculos na casa das 45 milhões de toneladas, de acordo com o Relatório Diagnóstico sobre a Fome e o Desperdício de Alimentos no Brasil. Boa parte do desperdício ocorre porque alimentos naturais estragam com mais facilidade. Pensando nisso, pesquisadores brasileiras desenvolveram um método para retardar o amadurecimento de frutas.  

O que causa o amadurecimento? 

O processo de amadurecimento é influenciado principalmente pelo etileno, um gás natural produzido pelas próprias frutas. Esse gás age como um hormônio que, quando liberado, ativa enzimas nas células dos alimentos. Quando uma fruta começa a amadurecer, ela se torna mais vulnerável à deterioração. 

O processo acelera a degradação das células da fruta, o que reduz seu tempo de consumo. Frutas carnudas, como o mamão, que possuem uma estrutura mais delicada, são particularmente afetadas por esse processo. Mesmo na refrigeração (o que desacelera o amadurecimento), o mamão só se mantém bom para o consumo por 2 a 3 dias após atingir a maturação.

O que fazer para mudar?

Cientistas do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanotecnologia para Agricultura Sustentável (INCT NanoAgro), Universidade Federal do ABC e da Universidade Estadual Paulista descobriram uma solução para atrasar a maturação

O projeto envolve o uso de nanopartículas de quitosana, um polímero biodegradável e biocompatível. As partículas encapsulam o doador de óxido nítrico (NO), que age reduzindo a produção de etileno. O NO funciona como antioxidante, que melhora a firmeza e aparência dos alimentos e o teor de ácido ascórbico, prolongando a vida útil da fruta.

É como se os frutos passassem por uma sessão de SPA dermatológico, para esticar e melhorar sua pele e para que não envelheçam tão rápido.   

As frutas são imersas ou pulverizadas com as partículas e, após o tratamento, já estão prontas para o armazenamento – o que simplifica o processo de transporte e distribuição do alimento, que não depende mais da refrigeração. 

O gosto muda?

De acordo com as autoras da pesquisa, o processo não modifica geneticamente o alimento, e, embora não tenham sido feitas análises sensoriais para que o gosto e textura fossem testados. “Foi observado que os frutos tratados não apresentaram alterações perceptíveis nesses aspectos, especialmente em relação à textura”, responderam as pesquisadoras Joana Pieretti, Amedea Seabra, Neidiquele Maria Silveira e Julia Veiga em email à Super

O experimento durou cinco dias, em que os mamões tratados – fruta escolhida por apresentar maior sensibilidade ao etileno – mantiveram 50% a mais sua firmeza em relação aos não tratados. 

É seguro para consumo humano?

As realizadas análises toxicológicas rigorosas, que garantem a segurança do consumo dos alimentos, ainda não foram realizadas. Porém, as autoras reforçam que “o uso do óxido nítrico apresenta um histórico positivo em aplicações relacionadas à saúde humana”. Isso porque o NO é produzido naturalmente por nosso corpo e já é utilizado em mais áreas para tratamentos diversos.  “É o caso do uso na cicatrização, em suplementos multivitamínicos e em produtos comercializados para diferentes finalidades terapêuticas.”

O estudo ainda está em estágio inicial. Os próximos passos envolvem a ampliação dos testes para mais frutos, análises sensoriais e as toxicológicas. Caso os resultados sejam positivos, ainda existiria um caminho burocrático longo para sua aprovação final e a chegada da tecnologia aos cultivos. 

“A tecnologia apresenta vantagens como simplicidade, baixo custo, sustentabilidade e ausência de toxicidade”. Pode ser a solução para o desperdício de alimentos em feiras e em residências brasileiras.  “É uma alternativa promissora para prolongar a vida útil de frutas, minimizar perdas pós-colheita e garantir qualidade até o consumidor final”, dizem as cientistas.

Fonte: abril

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