Nos EUA, 1 em cada 8 adultos já tomou ou está tomando um “agonista de receptor de GLP-1” – uma categoria de medicamentos, liderada pelo Ozempic, que foi desenvolvida para tratar diabetes mas acabou se mostrando eficaz para perda de peso. O Ozempic é um fenômeno global de vendas, e transformou o laboratório dinamarquês Novo Nordisk, seu fabricante, na empresa mais valiosa da Europa. Agora, ele começa a afetar outros setores econômicos – como a indústria de alimentos.
Segundo uma pesquisa feita pelo banco de investimentos Morgan Stanley, mais de 60% das pessoas que estão tomando Ozempic e similares reduziram ou cessaram seu consumo de alimentos como doces e sorvetes. O fenômeno foi percebido pela indústria alimentícia, que já discute estratégias para o futuro.
Essa classe de medicamentos reproduz a ação do GLP-1, um hormônio que é produzido naturalmente pelo organismo depois que comemos e tem uma série de efeitos sobre o corpo, entre eles a redução do apetite.
Logo depois de liberar o GLP-1 natural, o organismo também faz outra coisa: produz dipeptil peptidase-4, uma enzima que inativa esse hormônio. Por isso, a meia-vida do GLP-1 é de apenas 120 segundos (dois minutos depois que ele é liberado, metade já sumiu).
Já com o GLP-1 sintético, a coisa é completamente diferente. Ele é resistente a essa enzima, e por isso dura muito mais: a meia-vida da semaglutida, princípio ativo do Ozempic, é de sete dias. É por isso que esse remédio e seus similares reduzem o apetite, e levam à perda de peso.
Nos EUA, a indústria de alimentos e suplementos já tenta pegar carona na popularidade desses medicamentos. Está se tornando comum, nas farmácias americanas, ver seções de produtos dedicadas a quem está tomando um GLP-1, como vitaminas.
E a multinacional Nestlé anunciou uma nova linha de alimentos congelados, a Vital Pursuit (“busca vital”, em inglês), que contém mais proteínas e fibras e vem em porções menores – para atender o menor apetite de quem está tomando os remédios. Será lançada nos EUA no terceiro trimestre deste ano.
No Brasil, onde o Ozempic já é o maior faturamento da indústria farmacêutica, o consumo dos remédios GLP-1 poderá crescer ainda mais a partir de 2026, quando a patente da Novo Nordisk deverá terminar – e chegarão ao mercado as primeiras vesões genéricas.
Fonte: abril