Percebeu algo de diferente na terra nos últimos 14 anos? Talvez não, mas alguns sensores de atividade sísmica perceberam.
Desde 2010, o núcleo interno do nosso planeta tem girado mais devagar, segundo uma nova pesquisa publicada no periódico Nature. Se ele continuar assim, os dias terrestres provavelmente vão começar a ficar mais longos — ainda que de maneira imperceptível para nós.
O interior da Terra começou a ser analisado pelos cientistas em detalhe nos anos 1980. Por muito tempo, o núcleo interno rodou um pouco mais rápido que o manto e a crosta. A partir do 2010, porém, o coração do planeta ficou um pouco mais lento do que suas camadas mais exteriores.
O núcleo interno é uma bola de ferro sólido e níquel localizada 4,8 mil km abaixo dos nossos pés. Em volta dele, há uma camada externa derretida que pode alcançar temperaturas de mais de 3 mil °C. A parte interna sólida consegue rodar numa velocidade diferente do resto da Terra justamente porque está rodeada por um material viscoso.
Dias mais longos?
Os cientistas da Universidade da Califórnia do Sul analisaram mais de cem registros de atividade sísmica que apontavam, de forma inegável, para a mesma coisa: o núcleo interno está mais lento do que o resto da Terra.
Essa possibilidade era debatida entre os especialistas há mais de dez anos. Só agora, após analisar terremotos que ocorrem repetidamente no mesmo lugar, nas Ilhas Sandwich do Sul, no oceano Atlântico, de 1991 até 2023, os cientistas chegaram a um dado preciso.
Cada um dos terremotos ajudava os sismólogos a mapear a posição do núcleo em relação ao manto. Comparando essas medidas, eles conseguiram observar como a rotação foi mudando nos últimos anos.
Se essa desaceleração continuar, a atração gravitacional do núcleo interno da Terra pode eventualmente levar a uma diminuição da velocidade de rotação das camadas mais exteriores, também, deixando nossos dias mais compridos. Esas influência, porém, é tão sutil que não faz diferença no tempo medido pelos seres humanos.
Os pesquisadores têm duas hipóteses principais para explicar o fenômeno: ou eke tem a ver com a agitação do ferro líquido no núcleo externo, ou com puxões gravitacionais oriundos das regiões mais densas do manto, que é a camada intermediária entre o núcleo e a crosta.
Também não dá para saber com que frequência o núcleo interior fica mais lento do que o resto da Terra. Talvez haja um movimento constante de aceleração e desaceleração, que acontece de maneira cíclica ao longo das décadas. Para termos certeza disso, é preciso continuar as medições sísmicas.
Fonte: abril