📝RESUMO DA MATÉRIA

  • Um novo exame de sangue para a doença de Alzheimer apresenta 90% de precisão, superando as avaliações clínicas convencionais e permitindo um diagnóstico e tratamento antecipados.
  • A detecção precoce do Alzheimer, mesmo antes do surgimento dos sintomas, possibilita intervenções mais eficazes e mudanças no estilo de vida que podem retardar a progressão da doença.
  • Os sintomas visuais associados à atrofia cortical posterior (ACP) oferecem outra possibilidade para a detecção precoce do Alzheimer, sobretudo em mulheres.
  • O medicamento lecanemabe, aprovado pela FDA, apresenta benefícios moderados na desaceleração do declínio cognitivo, mas está associado a riscos consideráveis, como inchaço cerebral e hemorragias.
  • Proteger a função cognitiva envolve reduzir a exposição ao ácido linoleico, a compostos desreguladores endócrinos e a campos eletromagnéticos, fatores que comprometem a função mitocondrial e aumentam o risco de demência.

🩺Por Dr. Mercola

Cientistas da Universidade de Lund, na Suécia, revelaram um novo exame de sangue que pode transformar a maneira como a doença de Alzheimer é diagnosticada. Esse exame, que mede proteínas específicas no sangue, apresenta uma impressionante taxa de precisão de 90% na detecção da patologia do Alzheimer.

Um estudo, conduzido em ambientes de atenção primária e secundária, demonstrou que o exame de sangue em questão supera as avaliações clínicas convencionais por uma margem significativa. Na atualidade, é comum que o diagnóstico de Alzheimer dependa de procedimentos caros e invasivos, como exames de tomografia por emissão de pósitrons (PET) ou punções lombares.

No entanto, esse novo exame de sangue oferece uma alternativa mais simples e acessível, podendo ser realizado no consultório médico local. O teste concentra-se em dois biomarcadores principais: a tau fosforilada 217 (p-tau217) e a razão entre o amiloide-β 42 e o amiloide-β 40 (Aβ42:Aβ40).

Essas proteínas possuem uma forte relação com as alterações cerebrais características da doença de Alzheimer. Ao medir os níveis dessas proteínas no sangue, os médicos podem identificar o Alzheimer com uma facilidade e precisão sem igual, anos antes do surgimento dos sintomas.

A detecção precoce possibilita uma intervenção rápida, mesmo antes do início dos sintomas

Os tratamentos atuais para a doença de Alzheimer (DA) são mais eficazes quando iniciados de maneira antecipada, antes que ocorram danos significativos ao cérebro. Esse novo exame de sangue pode permitir que os médicos iniciem o tratamento nos estágios mais iniciais da doença, retardando sua progressão e preservando a função cognitiva por mais tempo. Conforme explicaram os pesquisadores da Frontiers in Aging Neuroscience:

“O diagnóstico precoce da doença de Alzheimer é essencial para viabilizar o desenvolvimento de terapias modificadoras da doença e preventivas secundárias antes do surgimento dos sintomas. Houve uma mudança significativa no objetivo do processo de diagnóstico, que passou de apenas confirmar a presença do Alzheimer sintomático para reconhecer a doença em suas fases iniciais e assintomáticas”.

Quando os problemas de memória se tornam evidentes no Alzheimer em sua forma típica, é provável que danos cerebrais significativos já tenham ocorrido. Muitos especialistas acreditam que tratar a doença em seus estágios iniciais, antes da perda generalizada de células cerebrais, proporciona a melhor chance de retardar sua progressão. Além disso, a detecção precoce abre oportunidades para intervenções no estilo de vida que podem ajudar a prevenir ou atenuar os efeitos do Alzheimer.

Imagine poder tomar as melhores decisões em relação à saúde do seu cérebro anos antes de qualquer sintoma se manifestar. Esse teste permite que você tome medidas proativas, como ajustar sua dieta, aumentar a prática de atividades físicas ou realizar exercícios de treinamento cognitivo, estratégias que demonstraram potencial para preservar a saúde cerebral.

O diagnóstico precoce, por sua vez, permite um melhor planejamento e preparação para o futuro, oferecendo a você e à sua família mais tempo para avaliar opções de cuidados e tomar decisões importantes enquanto ainda possui o controle pleno de suas funções cognitivas.

Melhorando o diagnóstico nos diversos contextos de assistência à saúde

O novo exame de sangue pode aprimorar o diagnóstico do Alzheimer em diferentes contextos de assistência à saúde, pois o estudo mostra que o exame apresentou desempenho consistente e satisfatório tanto em clínicas de atenção primária quanto em clínicas especializadas em memória.

Em contextos de atenção primária, onde as taxas de diagnóstico incorreto do Alzheimer podem ser elevadas, o exame de sangue atingiu uma precisão de 89% a 90%, superando bastante a taxa de 58% obtida por médicos de atenção primária utilizando métodos diagnósticos convencionais. Mesmo em clínicas especializadas em memória, onde os neurologistas experientes diagnosticam o Alzheimer, o exame de sangue superou as avaliações clínicas, alcançando uma precisão de 91% a 92% em comparação com os 71% obtidos pelos especialistas.

Isso significa que, seja em uma consulta com seu médico de família ou em uma clínica especializada, você poderia receber um diagnóstico mais preciso por meio desse exame de sangue, e como resultado, mais pacientes poderiam ser identificados de forma correta nos estágios iniciais da doença, reduzindo o estresse e a incerteza de diagnósticos equivocados e garantindo que o cuidado e o suporte adequados sejam fornecidos desde o início.

Detectando o Alzheimer antes do surgimento dos sintomas

Em outro estudo, publicado na Biomedicines, pesquisadores descobriram que os níveis de p-tau217 começam a aumentar no sangue mais de duas décadas antes do surgimento de sintomas cognitivos, superando outros biomarcadores de tau, como p-tau181 e p-tau205. Isso oferece uma oportunidade única para intervenções precoces, permitindo que medidas sejam tomadas para desacelerar ou prevenir a progressão da doença muito antes que ocorra um dano cerebral irreversível.

A capacidade do teste de detectar o Alzheimer em sua fase pré-clínica pode ser transformadora para indivíduos em risco. Em indivíduos com cognição saudável, os níveis de p-tau217 possuem forte correlação com o status de amiloide e tau em exames de PET, e também com as razões de Aβ42/Aβ40 no LCR. É importante ressaltar que o p-tau217 pode distinguir indivíduos positivos para amiloide e negativos para tau dos controles sem a DA, sugerindo que ele pode identificar os estágios mais iniciais da patologia da DA.

A associação única do p-tau217 com a região CA1 do hipocampo, que é essencial para a memória, e sua localização em corpos granulovacuolares — pequenas estruturas em forma de bolha presentes nas células cerebrais — ajuda a explicar seu aumento precoce durante o processo da doença.

Sintomas visuais: outro fator fundamental para a detecção precoce do Alzheimer

Você pode associar a perda de memória como a característica marcante da doença de Alzheimer, mas uma variante menos conhecida pode ajudar a identificar a condição muito mais cedo. Atrofia cortical posterior (ACP) é uma forma de Alzheimer que, a princípio, afeta a visão, e não a memória.

Um estudo internacional envolvendo 1.092 pacientes trouxe novas perspectivas sobre essa condição. A ACP costuma surgir por volta dos 60 anos, quase uma década antes do Alzheimer convencional. Seus primeiros sintomas são visuais: dificuldade em perceber profundidade, reconhecer objetos ou se orientar em ambientes.

Você pode ter dificuldade para estacionar o carro, ler as horas ou encontrar objetos bem à sua frente. É comum que esses problemas visuais levem a diagnósticos errados, fazendo com que os pacientes consultem vários oftalmologistas antes de receberem o diagnóstico correto. Conhecer sobre a ACP possibilita identificar o Alzheimer anos antes do surgimento dos problemas de memória. Exames de ressonância magnética revelaram uma atrofia característica na parte posterior do cérebro em 85% dos pacientes com ACP.

Os exames de PET foram ainda mais reveladores, apresentando uma redução da atividade cerebral nas regiões posteriores em 97% dos casos. Os exames de PET amiloide, que detectam o acúmulo de proteínas anormais no cérebro, foram positivos em 94% dos pacientes com ACP. Os exames de líquido cefalorraquidiano para essas mesmas proteínas foram positivos em 81% dos casos.

Na verdade, os pesquisadores sugerem que a ACP pode ser a síndrome clínica mais preditiva para a patologia do Alzheimer. Isso significa que, se você for diagnosticado com ACP, há uma probabilidade muito alta de que esteja lidando também com o Alzheimer, mesmo que sua memória ainda esteja boa. Esses exames de biomarcadores podem fornecer clareza e ajudar a orientar as opções de tratamento muito mais cedo no processo da doença.

Uma descoberta fascinante deste estudo é que a ACP afeta as mulheres com mais frequência do que os homens. Cerca de 60% dos pacientes com ACP eram mulheres, em comparação com uma distribuição mais equilibrada no Alzheimer convencional. Essa diferença de sexo pode fornecer pistas sobre fatores de risco e possíveis estratégias de prevenção. Os pesquisadores especulam que as mulheres podem ter uma maior “vulnerabilidade cognitiva” nas regiões cerebrais afetadas pela ACP.

Eles observaram que dificuldades de aprendizado matemático e visuoespacial são mais comuns em meninas, e essas mesmas habilidades podem ser afetadas pela ACP. Isso levanta questões sobre se certos padrões cognitivos ao longo da vida podem influenciar o risco de tipos específicos de demência no futuro.

É um lembrete de que o Alzheimer não afeta a todos da mesma maneira. Seu sexo, combinado com suas aptidões e fraquezas cognitivas únicas, influencia a forma como a doença se manifesta.

Medicamento perigoso para Alzheimer com efeitos colaterais que ameaçam à vida

A Food and Drug Administration (FDA), dos EUA, concedeu aprovação acelerada ao medicamento para Alzheimer lecanemabe (Leqembi). O medicamento, que é um anticorpo monoclonal, se liga ao beta-amiloide no cérebro.

Um estudo de 18 meses publicado no New England Journal of Medicine descobriu que o Leqembi reduziu os marcadores de amiloide na doença de Alzheimer nos estágios iniciais e resultou em um “declínio moderadamente menor” na cognição e função em comparação com o placebo. O lecanemabe foi aclamado como um grande avanço, mas uma análise mais detalhada revela riscos significativos que superam seus benefícios limitados.

O efeito colateral mais alarmante observado foi a ARIA (anormalidades de imagem relacionadas à amiloide), que ocorreu em um número substancial de participantes. A ARIA-E, que envolve edema cerebral, afetou 12,6% dos participantes que tomaram lecanemabe, em comparação com apenas 1,7% no grupo placebo.

Mesmo que a maioria dos casos tenha sido relatada como leve a moderada, 2,8% dos participantes experimentaram ARIA-E sintomática, incluindo dor de cabeça, distúrbios visuais e confusão.

A ARIA-H, que envolve hemorragias cerebrais, foi ainda mais comum, afetando 17,3% daqueles que tomaram lecanemabe, em comparação com 9% no grupo placebo. Além da ARIA, o lecanemabe esteve associado a uma alta taxa de reações relacionadas à infusão, afetando 26,4% dos participantes, em comparação com 7,4% no grupo placebo.

Essas reações, embora na maioria dos casos leves a moderadas, causaram desconforto a um número notável de participantes durante o tratamento. O estudo também relatou taxas mais altas de eventos adversos graves no grupo do lecanemabe (14%) em comparação com o grupo placebo (11,3%).

Os riscos superam os benefícios limitados do lecanemabe

Outros efeitos colaterais preocupantes incluíram uma maior incidência de quedas (10,4% contra 9,6%) e dores de cabeça (11,1% contra 8,1%) no grupo que recebeu lecanemabe. Mais grave ainda foram as macro-hemorragias, que ocorreram em 0,6% dos receptores de lecanemabe, em comparação com 0,1% no grupo placebo. Essas hemorragias cerebrais maiores representam um risco considerável e podem ter consequências graves para os pacientes.

Vale ressaltar que os eventos adversos levaram à interrupção do tratamento com o medicamento em 6,9% dos receptores de lecanemabe, mais do que o dobro da taxa no grupo placebo (2,9%). Essa alta taxa de desistências devido a efeitos colaterais levanta questões sobre a tolerabilidade do medicamento na prática.

Além disso, embora o lecanemabe tenha mostrado certa eficácia em retardar o declínio cognitivo, os benefícios foram limitados. A diferença no declínio cognitivo entre os grupos de lecanemabe e placebo, na principal medida de resultado — a pontuação do Sum of Boxes, do Clinical Dementia Rating, uma ferramenta usada para avaliar a gravidade da demência — foi de apenas 0,45 pontos em uma escala de 18 pontos. Essa pequena diferença deve ser ponderada em relação aos riscos consideráveis associados ao medicamento.

O estudo também foi limitado a 18 meses, deixando perguntas sobre a eficácia e segurança a longo prazo sem resposta. Dada a natureza crônica da doença de Alzheimer, os pacientes precisariam tomar lecanemabe por anos, aumentando sua exposição a esses riscos ao longo do tempo. Como escreveu a jornalista investigativa Maryanne Demasi:

“Agora que o medicamento foi aprovado, grupos de defesa, como a Alzheimer’s Association, que são altamente financiados pela indústria farmacêutica, acolheram a notícia, dizendo que a FDA tomou ‘a decisão certa’. Mas os críticos duvidam que os benefícios do lecanemabe superem seus danos e estão desanimados com o fato de a FDA ter aprovado o medicamento sem a contribuição de seu próprio conselho consultivo”.

Dicas para proteger sua função cognitiva

À medida que o exame de sangue para diagnosticar o Alzheimer se propaga para um uso em clínicas mais amplo, ele ganha o potencial de transformar o cenário do tratamento e da pesquisa sobre o Alzheimer. A disponibilidade de uma ferramenta diagnóstica simples e precisa poderia levar a uma triagem mais ampla, possibilitando detectar a doença mais cedo em milhões de pessoas. Isso poderia mudar o foco do tratamento do Alzheimer, passando de gerenciar os sintomas para prevenir seu aparecimento.

Embora o teste ainda não esteja disponível para uso clínico, seu desenvolvimento representa um grande avanço na luta contra o Alzheimer. Entretanto, a prevenção ainda é melhor do que o tratamento.

Você pode reduzir o risco de doenças crônicas, incluindo a demência, e ajudar a prevenir o declínio cognitivo ao melhorar a função mitocondrial. Pesquisas publicadas na Neurology10 indicam que uma dieta inflamatória está relacionada a um risco maior de demência, uma condição originada pela disfunção mitocondrial. 11

Três principais toxinas prejudicam a função mitocondrial ao afetar o cálcio intracelular e a saúde geral das células. O aumento do cálcio intracelular leva a maiores níveis de superóxido e óxido nítrico, que se combinam para formar peroxinitrito, uma potente espécie reativa de oxigênio que provoca danos à saúde. Essas toxinas incluem:

1. Consumo excessivo de ácido linoleico (AL): o AL é uma gordura poli-insaturada ômega-6 abundante em óleos de sementes e vegetais e alimentos processados, está entre os componentes mais nocivos da dieta ocidental. O consumo excessivo dele prejudica sua taxa de metabolismo e o microbioma intestinal, dois fatores cruciais para a sua saúde.

2. Compostos desreguladores endócrinos (CDE): a exposição aos CDE, muitas vezes proveniente de microplásticos, estimula em excesso os receptores de estrogênio. Os microplásticos são tão prevalentes que você pode chegar a ingerir o equivalente a um cartão de crédito em plástico por semana. 12 E esse plástico contém ftalatos e bisfenol A (BPA), que ativam os receptores de estrogênio. O estrogênio aumenta os níveis de cálcio intracelular, levando à formação de peroxinitrito.

3. Exposição excessiva a campos eletromagnéticos (CEM): a exposição diária a CEM, emitidos, por exemplo, pelos celulares, tem consequências latentes para a saúde. Os CEMs ativam os receptores dos canais de cálcio dependentes de voltagem (CCDV) nas células, desencadeando o influxo de cálcio e catalisando a produção de peroxinitrito.

A exposição prolongada a essas toxinas danifica seu microbioma, preparando o terreno para doenças crônicas. Portanto, além de manter uma dieta saudável ao longo da vida, incluindo evitar o excesso de AL, minimizar a exposição a CDEs e CEMs ajudará a proteger a saúde do seu cérebro à medida que você envelhece.