O plástico está em todos os lugares, da placenta humana ao topo dos Alpes Suíços. E cada adulto engole, em média, 20 gramas dele por mês: são microfragmentos que se escondem no ar, na água e na comida.
A humanidade produz 400 milhões de toneladas de por ano, e apenas 10% dele é reaproveitado – inclusive porque a reciclagem de alguns tipos é econômica ou tecnicamente inviável. Mas pode haver solução.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade da Califórnia, liderados pela engenheira química e ambiental Kandis Abdul-Aziz, criou um método (1) que transforma o plástico em fertilizante: ele é misturado com palha de milho e se torna um tipo de carvão extremamente poroso, ideal para fertilizar o solo.
A Super conversou com ela para entender o processo.
Como é o método para transformar o plástico em carvão?
Nós utilizamos plásticos como o PET, empregado em garrafas, e o poliestireno (isopor), misturados com resíduos de milho [restos de talos, folhas, cascas e espigas]. Aquecemos essa mistura em um reator, sem oxigênio, para romper a estrutura molecular original e obter carbono elementar [que dá origem ao carvão]. Esse processo de decomposição por altas temperaturas, chamado “pirólise”, já é frequentemente usado para produzir carvão a partir de restos agrícolas.
E como a mistura poderia fertilizar o solo?
Esse carvão pode aumentar o teor de nutrientes como potássio e nitrogênio no solo, além de melhorar a retenção deles. Mas uma das aplicações mais promissoras é o uso dele para diminuir a chamada “lixiviação de nitrogênio” [a remoção ou dissolução desse nutriente pela ação da água sobre o solo], e aumentar o teor de carbono orgânico presente no solo – otimizando a saúde dele e o crescimento das plantações.
Quais são os próximos passos para o desenvolvimento da técnica?
Nossa equipe está pensando em combinar os plásticos com outros resíduos agrícolas comuns aqui na Califórnia [além da palha de milho]. O estado é um dos maiores produtores de frutas cítricas dos Estados Unidos, mas a maioria dos resíduos, como cascas, sementes e polpa, é descartada e acaba em aterros sanitários. O nosso processo pode fornecer uma alternativa sustentável para coisas que geralmente são consideradas lixo, e produzir uma mercadoria valiosa como o carvão.
Fonte 1. Synergistic and Antagonistic Effects of the Co-Pyrolysis of Plastics and Corn Stover to Produce Char and Activated Carbon. K Abdul-Aziz e outros, 2022.
Fonte: abril