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Ciência & Saúde

Maior mapa 3D do Universo revela enfraquecimento da energia escura

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Em 1923 já existiam carros, bolsa de valores, aviões e metralhadoras. Mas nós ainda não sabíamos da existência de outras galáxias. Os astrônomos acreditavam que a única grande coleção de estrelas que existia era a própria Via Láctea; qualquer coisa além de suas fronteiras era um mistério. 

Foi nesse ano que o astrônomo Edwin Hubble descobriu que pequenas manchas leitosas no céu, chamadas genericamente de nebulosas, na verdade eram galáxias inteiras, separadas e impensavelmente distantes da nossa. Pouco depois, em 1929, Hubble determinou que essas outras estruturas estão se afastando de nós – e que, portanto, o Universo está se expandindo.

Essa foi a conclusão mais acachapante da história da cosmologia. A premissa de que o Universo é estático havia sido um da física por séculos. Mesmo Einstein, que virou nossa concepção do espaço-tempo de ponta cabeça, inseriu um número chamado constante cosmológica nas equações da Relatividade para garantir que elas descrevessem um cosmos paradão, que não estica nem encolhe.

Fazer o Universo se expandir exige energia. Afinal, todos os planetas e estrelas que existem possuem, juntos, um bocado de atração gravitacional. E essa atração, em tese, deveria puxar o Universo como um todo para dentro. Forçá-lo diminuir de tamanho. Se ele não está encolhendo, é porque alguma coisa está compensando a contração do outro lado do cabo de guerra – e vencendo.

Essa energia misteriosa que acelera a expansão do cosmos é conhecida pelos físicos como energia escura e sua existência foi confirmada acima de qualquer úvida em 1998. Essa espécie de gravidade repulsiva, às avessas, corresponde a 68% do conteúdo total de massa e energia do Universo. E não sabemos nada sobre ela (além do fato de que ela existe, é claro).

O que nos leva à notícia da semana na cosmologia:

Uma colaboração internacional com dezenas de astrônomos e astrofísicos anunciou nesta quinta (4) o maior mapa 3D já feito do Universo. Usando um chamado Instrumento de Espectroscopia de Energia Escura – Desi, na sigla em inglês –, eles determinaram a posição e outros dados de seis milhões de galáxias.

Os resultados, que foram divulgados na forma de uma série de pré-prints (o que significa que os artigos ainda não saíram em um periódico especializado nem foram revisados por outros pesquisadores), parecem mostrar que a expansão do Universo está acelerando cada vez menos, ou seja: que a energia escura está perdendo força.

A diferença entre as medições feitas pelo Desi e a aceleração que esperava se encontrar são de algo entre 2,5 sigma e 3,9 sigma. Um “sigma” é uma medida de significância estatística que os físicos usam para determinar se os resultados inesperados em alguma observação são só uma flutuação aleatória ou se eles indicam, de fato, um fenômeno novo na natureza.

3 sigma significam que há 1 chance em 400 de que o resultado seja só uma flutuação irrelevante. 5 sigma signicam 1 chance em 1,7 milhões.

Na física contemporânea, uma leitura de 5,0 sigma ou mais é considerada confiável o suficiente para declarar que há um fenômeno novo em jogo. Os 3,9 sigma alcançados na observação do Desi “são interessantes, mas não suficientes para dizer que alguma coisa está definitivamente lá”, disse à revista New Scientist Kyle Dawson, um porta-voz do Desi.

Caso essas observações se confirmem, elas serão a primeira pista interessante sobre a natureza da energia escura desde 1998, quando a aceleração da expansão do Universo foi confirmada. Descobrir que ela não é constante é algo que mudaria nossa compreensão do Universo. Apertem os cintos para as próximas notícias sobre o Desi.

 

 

Fonte: abril

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