A ilha de , localizada na costa leste da África, é um pouco maior do que o estado de Minas Gerais – e um feito singular da natureza. Literalmente: graças ao isolamento geográfico (e a milhões de anos de evolução), 90% das plantas e da região não são encontrados em nenhum outro lugar da Terra.
Mas o que por um lado torna a ilha única (e um grande atrativo para turistas e estudiosos), também é algo preocupante. Devido às mudanças climáticas, perda de habitat e caça excessiva, muitos desses e plantas correm riscos. Das 219 espécies de mamíferos conhecidas na ilha (incluindo 109 espécies de lêmures), por exemplo, mais de 120 estão .
Recentemente, um estudo publicado na revista Nature Communications examinou quanto tempo levou para que os atuais mamíferos endêmicos de Madagascar surgissem – e estimou quanto levaria para que um conjunto igualmente complexo e único de novas espécies evoluísse em seu lugar (caso os atuais fossem extintos). A resposta: 23 milhões de anos, o que é muito mais do que os cientistas descobriram para qualquer outra ilha, como Nova Zelândia e as do Caribe.
“É bastante claro que existem linhagens inteiras de que só ocorrem em Madagascar que foram extintos ou estão à beira da extinção”, afirma Steve Goodman, um dos autores do artigo. “Se uma ação imediata não for tomada, a ilha perderá 23 milhões de anos de história evolutiva mamífera.”
Isolados
Mesmo sendo a quinta maior ilha do mundo, Goodman considera Madagascar um “minicontinente” devido a todos os diferentes ecossistemas presentes. Depois que o território se separou do continente africano, as plantas e animais que habitavam a região seguiram seus próprios caminhos evolutivos, isolados do resto do mundo. A combinação de uma abrangência genética menor e a riqueza de habitats – que vão desde florestas tropicais montanhosas a desertos de planície – permitiu que os mamíferos se dividissem em diferentes espécies muito mais rapidamente do que os que ficaram no continente.
Mas, ao mesmo tempo que a evolução acontece mais rápido nas ilhas, a também. Uma população pequena e adaptada apenas a um trecho curto e singular de habitat é mais suscetível a complicações.
Por causa disso, mais da metade dos mamíferos de Madagascar estão incluídos na Lista Vermelha da IUCN. O principal motivo são as ações humanas nos últimos duzentos anos, especialmente a caça e a destruição direta de habitats.
Como a pesquisa foi feita
Para estudar a extinção dos mamíferos de Madagascar, os pesquisadores compilaram dados de todas as espécies conhecidas que já coexistiram com humanos na ilha desde sua ocupação mais efetiva nos últimos 2,5 mil anos.
Os cientistas chegaram nas 219 espécies conhecidas de mamíferos vivos hoje, além de mais 30 que foram extintas ao longo dos últimos dois milênios.
Em seguida, eles construíram “árvores genealógicas genéticas” para estabelecer como todas essas espécies estão relacionadas entre si – e quanto tempo levou para cada uma evoluir a partir de seu ancestral comum. Assim, eles foram capazes de estimar quanto tempo levou para essa quantidade de biodiversidade evoluir e, assim, estimar quanto tempo levaria para a evolução repor todos os mamíferos ameaçados se eles fossem extintos.
Para refazer a diversidade de mamíferos terrestres que foram extintos nos últimos 2,5 mil anos, seriam necessários cerca de 3 milhões de anos. O alerta vermelho, porém, vem do outro lado da projeção. Os modelos sugeriram que, se todos os atualmente sejam extintos, levaria 23 milhões de anos para reconstruir esse nível de diversidade.
É claro: isso não significa que, passados 23 milhões de anos, todos os animais endêmicos de Madagascar retornariam integralmente – seria impossível recuperá-los. O que os cientistas querem dizer é que esse é o tempo necessário para atingir um nível semelhante de complexidade evolutiva e biodiversidade que há na ilha.
“A crise biológica de Madagascar não tem nada a ver com biologia. Tem a ver com socioeconomia”, defende Goodman.”Não podemos jogar a toalha. Somos obrigados a promover esta causa o máximo que pudermos e tentar fazer o mundo entender que é agora ou nunca.”
Fonte: abril