Ir ao banheiro em grupo é uma regra para muitas mulheres. Mas os humanos não são os únicos a cultivar esse hábito. Quando um chimpanzé quer fazer xixi, os demais o acompanham – um fenômeno chamado por cientistas de “micção contagiosa”.
Os primatas são nossos primos na cadeia evolutiva, e por isso pesquisadores acreditam que essa é uma função social que pode ser traçada ao nosso ancestral comum.
Essa é a base da pesquisa publicada na última segunda-feira (20) no jornal científico Current Biology. Uma equipe de pesquisadores decidiu estudar esse comportamento depois de perceber que um grupo de chimpanzés em um zoológico parecia coordenar a hora para fazer o número 1.
Uma hipótese possível dos autores do estudo é que a ida ao banheiro coletiva poderia ser algo parecido com o que acontece quando alguém boceja: você automaticamente imita o ato também. O bocejo contagioso já foi observado em lobos e em outros primatas – talvez algo semelhante aconteça no caso do xixi coletivo.
Ena Onishi, uma estudante de doutorado na Universidade de Kyoto, resolveu matar a dúvida. O método de estudo foi certamente peculiar: foram 600 horas observando 20 chimpanzés urinando por mais de 1.300 vezes.
Depois de muita observação de xixi, Oshi percebeu que a ida ao banheiro realmente acontecia simultaneamente. “Este resultado foi surpreendente para nós”, disse Onishi para o The New York Times. “Isso levantou questões intrigantes sobre a função social desse comportamento.”
O grupo de pesquisadores descobriu que o evento funciona em efeito dominó. O primeiro chimpanzé que faz xixi, que os autores chamaram de “urinador inicial”, costuma influenciar o macaco que está mais próximo dele. Ou seja, ver outro chimpanzé urinando gerava a vontade nos demais.
Para o LiveScience, Shinya Yamamoto, coautora do estudo, disse que “nos humanos, sabemos que a nossa decisão de urinar é influenciada por contextos sociais que nos levam a fazer xixi com outras pessoas, e que essa micção simultânea também pode promover maiores laços sociais”. E parece que essa vontade é compartilhada na nossa história evolutiva.
O motivo para o comportamento nos chimpanzés ainda é um mistério – mas, levando em consideração o que acontece com os humanos, Onishi acredita que o fenômeno pode ser uma maneira de “reforçar as conexões do grupo, aumentando a coesão social geral”, disse ela ao jornal americano. “Isso poderia promover uma prontidão compartilhada para comportamentos coletivos”.
Outra possibilidade é que múltiplos chimpanzés urinando no mesmo local possam confundir predadores, dificultando o rastreamento graças aos odores dispersos.
Embora ainda não haja estudos semelhantes em chimpanzés selvagens (os animais dessa pesquisa viviam em um santuário), comportamentos parecidos foram observados em populações de outros animais silvestres.
Os pesquisadores também se questionam se outras espécies apresentam esse comportamento do xixi em grupo. “Somos muito influenciados pela presença de outras pessoas, mesmo em atividades mundanas, por exemplo, tanto em chimpanzés como em humanos, comportamentos como bocejar, caminhar, bater ritmicamente e até mesmo o tamanho das pupilas são conhecidos por serem contagiosos”.
O estudo pode ajudar a entender o comportamento dos ancestrais comuns de humanos e chimpanzés, além da origem de costumes sociais humanos.
Fonte: abril