O vírus influenza H5N1, causador da gripe aviária, está infectando o cérebro de mamíferos selvagens nos Estados Unidos e fazendo os animais apresentarem uma série de anormalidades neurológicas, como convulsões e falta de coordenação motora.
A conclusão é de um estudo liderado pela patologista Betsy Elsmo, da Universidade de Wisconsin, que investigou casos de animais infectados em todo o país. Sua equipe recolheu informações de centros de proteção à vida selvagem e analisou 67 mamíferos diagnosticados com gripe aviária, entre abril e julho de 2022.
Os animais eram, principalmente, raposas – elas foram 51 dos 67 casos estudados. O restante do grupo era formado por gambás, guaxinins, linces, um coiote e uma marta pescadora. 57 deles foram encontrados vivos por autoridades locais e puderam ter seu comportamento avaliado. A maioria (53 mamíferos) apresentava sintomas neurológicos.
Os sintomas mais recorrentes eram convulsões, ataxia (falta de equilíbrio e coordenação motora) e tremores, mas 7 animais perderam o medo de humanos; 5 passaram a produzir vocalizações incomuns; 4 andavam em círculos e 3 apresentavam cegueira. Houve até casos de nistagmo (movimentos rápidos e involuntários dos olhos) e caretas.
Dos 57 animais encontrados vivos e levados para centros veterinários, só duas raposas sobreviveram – o restante morreu ou foi sacrificado. Autópsias revelaram danos cerebrais em 51 dos 54 cérebros examinados.
Não é a primeira vez que mamíferos diagnosticados com gripe aviária apresentam sintomas neurológicos. Segundo um relatório publicado neste mês pelo Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês), este fenômeno também já apareceu em martas e leões marinhos.
O problema, segundo Elsmo e outros especialistas, pode estar relacionado à proporção que a cepa atual do vírus, conhecida como 2.3.4.4b, tomou. Como ela tem se difundido mais entre aves selvagens do que as cepas anteriores, teria criado mais oportunidades para mamíferos selvagens interagirem com aves infectadas.
O novo estudo reforçou esta hipótese: a análise genética realizada em 48 mamíferos indicou que esses casos representam infecções vindas do contato com aves selvagens. É se alimentando delas, provavelmente, que os mamíferos estão contraindo a gripe aviária, segundo o ECDC.
O mesmo relatório afirma que, entre dezembro de 2022 e 1º de março de 2023, a cepa atual do H5N1 apareceu em 522 aves domésticas e 1.138 aves selvagens em 24 países europeus. Ele lista vários casos recentes de H5N1 em mamíferos, como em focas e golfinhos, mas outros casos estão acontecendo nos EUA, Canadá, Japão, Chile e Peru – onde milhares de leões marinhos morreram.
A preocupação de especialistas é que, quanto mais mamíferos são infectados, maiores as chances do vírus sofrer mutações e conseguir pular de mamífero para mamífero – e potencialmente de humano para humano. Saiba mais nesta matéria da Super.
Fonte: abril