Em geral, aranhas enormes e peludas já são bem assustadoras. Mas quando o biólogo Chris Ketola encontrou uma tarântula do tamanho de um celular no chão da Amazônia, no Peru, a aranha em si não era a coisa mais bizarra da cena.
De todo o corpo do aracnídeo inerte saíam pequenas torres em tons de branco, amarelo e laranja. Eram os corpos frutificantes fungo do gênero Cordyceps, o mesmo que inspirou o game e a série da HBO The Last of Us.
Após a infecção, os cordyceps mantêm a vítima viva por alguns dias, alimentando-se dela por dentro lentamente, e enchendo seu corpo de esporos. Em seguida, passam a controlar o cérebro e as funções motoras da vítima e fazem com que ela procure um lugar ideal para a reprodução do fungo, com luz, alimento e calor o suficiente.
(Você pode aprender tudo sobre esses sequestradores da micologia na nossa reportagem sobre a série, aqui.)
Quando a vítima morre, seu corpo já virou um ponto de irradiação de esporos do Cordyceps. Foi nesse estágio que a tarântula amazônica foi encontrada: já morta e totalmente colonizada.
“Essa é, na verdade, uma espécie muito rara de cordyceps, porque raramente o encontramos em tarântulas como essa”, conta o biólogo Chris Ketola, em um vídeo publicado no Instagram.
“Cada grupo de invertebrados tem sua própria espécie de Cordyceps que os infecta. Portanto, essa é uma coisa realmente horrível, mas também incrível para nossa equipe ter encontrado esta noite.”
Veja abaixo o vídeo. Na legenda, Ketola afirma que é a terceira vez que ele encontra uma tarântula assim.
No videogame que inspirou a série, o fungo sofre uma mutação que o permite infectar humanos, transformando-os em zumbis que transmitem a infecção através de mordidas.
O Cordyceps da vida real é um gênero com mais de 750 espécies diferentes. Mas existe uma diferença importante para o fungo da ficção: na realidade, todas elas parasitam apenas pequenos artrópodes, como insetos e aranhas, ou outros fungos.
Não existem casos do Cordyceps infectando humanos. Na verdade, algumas espécies até nos fazem bem, e são usadas por medicinas tradicionais há séculos.
Nos últimos anos, diferentes pesquisas têm mostrado a utilidade do Cordyceps em tratamentos contra inflamações, tumores, na proteção do fígado e dos rins. Na culinária chinesa, outras espécies são utilizadas também em caldos e massas (uma delícia, diga-se de passagem, que esta repórter já provou).
Fonte: abril